O dia estava cinzento e densas nuvens se formavam no céu,
prenunciando uma chuva que não tardaria a chegar. O vento estava forte e fazia
barulhos que pareciam querer dizer algo, como um murmúrio de alguém que nos
confidencia algo. E lá estava ele, parado, na esquina, trajando seu terno
preto, impecavelmente bem passado, com sua camisa branca, que não parecia ter
qualquer mancha, sua gravata vinho, minuciosamente ajustada em seu pescoço, com
um nó quase milimetricamente perfeito, ele olhava para o relógio impaciente,
enquanto fumava seu charuto. Ele não queria ter de esperar por mais tempo, pois
a chuva poderia vir logo e isso iria molhar sua roupa e seu fumo e ele odiava
quando qualquer um dos dois molhava, muito menos, ambos.
Não demorou mais do que cinco minutos até que outro homem
vestindo um terno preto apareceu no logo, mas esse tinha os cabelos
despenteados, as roupas estavam amassadas e malcuidadas e ele fumava um
cigarro, que pelo cheiro, parecia fumo barato.
- Olá Um! Desculpe a demora, mas o trânsito está um
verdadeiro caos, você deve saber!
Um olhou de cima abaixo para o outro e em sua face, podia-se
notar o desprezo e o nojo.
- Não, Quinze, eu não sei como está o trânsito e não me
interessam suas desculpas. Onde diabos se enfiou o Trinta e Quatro.
- Olá gracinhas! Já cheguei! Como anda a MIB hoje?
Quinze solta uma risada com o comentário da colega que
acabara de chegar, vestindo um lindo terninho vermelho impecável e sapatos de
salto alto pretos que pareciam ter acabado de serem engraxados.
- MIB?! O que diabos é MIB sua mulher louca?
Um parecia não estar com humor ou paciência para as piadas
de Trinta e Quatro hoje.
- Os homens de preto. Você não vai ao cinema? Em que mundo
você vive?
Quinze ri, dessa vez um pouco mais alto, o que irrita
profundamente Um, que tenta lhe desferir um soco, mas Quinze habilmente se
abaixa, conseguindo desviar do golpe que fora desferido contra ele. Um fica
revoltado, mas desiste, sabe que essa briga não poderia ganhar e suspira
revoltado com a imaturidade dos outros dois.
- Com certeza não no mesmo mundo que você. Só os chamei aqui
para lhes entregar essas missões.
Um entrega um envelope para cada um e se vira para ir
embora.
- Um, a Dois já saiu do coma?
Um abaixa a cabeça e por um milésimo de segundo parece que
ele vai esboçar alguma emoção além de raiva, mas essa dúvida logo se dissipa
quando ele apenas sacode a cabeça e age como se aquilo fosse normal. Quinze
fica revoltado com a reação do sujeito.
- Cara! Você só vai dizer isso e nada mais? Ela é a mulher
que supostamente você ama e você finge que nada aconteceu? Você é um co...
Quinze foi interrompido por um soco cruzado de esquerda de
um e depois um de direita e mais um de esquerda, ele começa mais um de direita,
mas interrompe o movimento no ar e abaixa a mão.
- Tenho certeza que essa reação não fez com que ela saísse
do coma, assim como ler para ela todas as noites e conversar com ela toda vez
que tenho um tempo disponível não a fez reagir, aliás, tenho certeza que se te
matasse agora mesmo, a situação dela não mudaria. E não pense que não tenho
vontade, afinal, a culpa foi toda sua e dos seus malditos atrasos
inconsequentes, mas de nada adiantaria e ainda me criaria problemas futuros com
o Zero, então, eu simplesmente, faço o que acho que a ajudará, nada mais.
Quinze abaixa a cabeça chateado, ele sabia que se houvesse
chegado mais cedo aquele dia, apenas dois minutos mais cedo, o ECC não teria
conseguido armar aquela emboscada e acertar Dois tão gravemente, sabia também
que, provavelmente, a emboscada havia sido armada justamente porque ele era
descuidado com seus passos. Há alguns anos o ECC havia começado suas atividades
e agora restavam poucos deles, pelo menos daquele grupo específico, mal
restavam vinte e eles sabiam que se continuasse desse jeito era uma questão de
tempo até que todos fossem dizimados.
- Desculpe Um. De verdade, eu não queria.
- Tanto faz, estou de saída, vão cumprir suas malditas
missões e me deixem.
Um não esperou que qualquer um dos dois dissesse nada e
entrou no beco à sua frente e desapareceu na escuridão.
Trinta e Quatro calada até o momento, começa a olhar
espantada e com medo na direção a do beco onde Um havia entrado e lá estava uma
van preta com os dizeres “ECC – Esquadrão de Caça aos Clones” pintadas em
vermelho na sua lateral. A única coisa que ela teve tempo de fazer ao perceber
que haviam lançado uma granada foi gritar para que Quinze corresse e então,
houve um barulho de uma imensa explosão.
No beco escuro, Um escuta a explosão e entra nos fundos do
prédio mais próximo e sobe até o último andar, entra numa luxuosa sala com uma
mesa grande e trabalha o resto do dia, como se nada tivesse acontecido.
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