domingo, 27 de fevereiro de 2022

Beirando a Insanidade

Raphaela entra no divã do psicólogo, o Dr. Raphael. Ela o escolheu por uma coincidência de nomes. O que não é nem um pouco lógico, mas felizmente parece que resolveu o seu problema. Não é a primeira vez dela no consultório, e provavelmente não será a última. Ela está tão acostumada que se veste quase de pijama. Colocou a primeira blusa que pegou na gaveta, botou uma calça jeans e tacou-lhe as havaianas no pé. Ele, por ter que atender mais gente, tem que estar mais engomadinho, mas secretamente anseia por vestir o mesmo tipo de indumentárias despojada.

Ela é trans. Então conserva parte do biotipo masculino que se construiu. É alta, tem ombros largos, mas isso não importa. Ela já está fazendo a terapia de reposição hormonal, e algumas mudanças vem aparecendo lentamente. Ele é até menor que ela, e deu o laudo para que ela pudesse iniciar as medicações, uma gratidão que ela nunca vai esquecer, fazendo os seus corres diários, entregando comida aqui e ali, sob a crueldade dos malditos aplicativos, mas a renda de verdade dela vinha da prostituição.

E infelizmente, Raphaela tem piorado o seu quadro de depressão.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Sobre Filosofias de Destruição

Alguns contos meus são obras de ficção, não são coisas com as quais eu necessariamente concordo, mas hoje um evento na internet nos força a nos posicionar por uma questão de humanidade. O Monark, do Flow Podcast, um Podcast que eu curto porque teve muita história interessante que foi contada lá, resolveu dizer que acha que deve ter um partido nazista no Brasil.

E acho que antes de começar a falar, acho importante começar pegando o contexto da coisa, que diz respeito a legitimidade do partido comunista no Brasil. E em um dado momento, o Kim Kataguiri tentando demonizar os partidos comunistas que hoje existem, coloca que não existe um partido nazista (apesar de existir um não oficial). Tentando criar uma analogia entre o Comunismo e o Fascismo para que ambos sejam proibidos ou permitidos. O Monark então solta a sua pérola falando que deveria ter um partido comunista no Brasil.

E a idéia do Monark é que seja permitida a tolerância total a qualquer tipo de idéia, por mais absurda que seja. E que se uma idéia existe, devemos debater também a idéia oposta a ela. Ou seja, se dizem que a terra é redonda (fato), tem que escutar quem tem opinião diferente, seja ela a terra sendo plana, em formato de rosquinha, em formato de garrafa de Klein ou o que quer que seja. Se existem partidos que debatem diferentes idéias, tem que ter um partido que coloque Fascismo também em pauta. Só que, a idéia da Terra plana já é ruim porque ela é negacionista da ciência o que já é extremamente perigoso, mas a idéia do Facismo ela não é péssima, ela é desumana, ela é absurda, ela atenta contra a vida de quem não opina, e até mesmo contra a de quem opina.

Então, sim, eu sou Anti-Fascista.

Mesmo se fosse uma escolha emocional, você pode demonstrar que também é uma escolha lógica, e aí a gente volta no paradoxo do Karl Popper. Se você for tolerante com uma idéia que vai exterminar a sua, você provavelmente vai ter problemas se essa idéia em algum momento ganhar corpo. Então não tem essa. Brotou Fascismo, tem que rechaçar.

Isso se aplica a outras idéias também.

Racismo é simplesmente uma forma mais genérica do que o Fascismo faz. Idéia racista mata, e é por isso que a gente tem que combater isso também. Imagine só se os racistas decidem que você é o próximo alvo?

- Ah mas e o Comunismo que matou muito mais!?

O problema é que o Comunismo não prega higienização, não prega supremacia de uma raça. Os desastres humanitários que foram feitos no nome de um autoritarismo, que obviamente não é comunismo pois este é uma utopia onde não há governo, foram cruéis, mas foram feitos sob um contexto de soberania. Não era uma questão de dominar o mundo e implementar a supremacia branca, e sim de eliminar opositores políticos, o que também é uma coisa horrenda, logo o autoritarismo que persegue pessoas também deve ser rechaçado sempre.

O Racismo sim merece ainda mais destaque na mídia. Os eventos que se passaram na África e na América quando os europeus começaram sua peregrinação de colonização, foram genocidas e etnocidas. Então a gente não pode ser conivente com esse tipo de coisa, e tem que rechaçar, repudiar e etc.

Mas a gente tem que ser esperto. Não pode cair na arapuca dos algoritmos das redes sociais. Vamo com calma, e vamo com razão.