sábado, 23 de janeiro de 2021

Tirando a Poeira

 Já faz um tempo que eu não escrevo aqui, mas eu não sei porque eu ainda insisto. Isso não é minha profissão, não paga conta nenhuma, e não me torna mais culto, a grande pergunta é: Se de nada serve, então por que insistir?

Não é como se alguém fosse aleatóriamente ler o blog e gostar de alguma coisa. Dizer que isso é impossível é uma falácia, mas posso dizer que beira a impossibilidade. Qualquer escritore hoje em dia está prese aos algoritmos que sugerem conteúdo, por mais que sejam capazes de divulgá-lo em milhares de plataformas. Ainda mais os escritories que, certamente não morrerão, mas tem o seu espaço reduzido mais e mais conforme a mídia evolui. A mídia, por mais audiovisual que seja, ainda precisa da escrita, aquilo que se vê, muito geralmente é um texto reproduzido em formato de vídeo, e portanto leitories e escritories sempre estarão por aí.

O mundo corporativo também precisa de escritories, pessoas que escrevam documentos cada vez melhor elaborados, pessoas que não só escrevam mas que também leiam o material que outras pessoas escreveram para embasar os seus textos, textos completamente diferentes deste, que é feito sem embasamento, sobre pura experiência anedótica. A ciência cresce se apoiando em si mesma, subindo sobre si como um carpinteiro fazendo uma escada conforme a sobe. Mesmo as descobertas que quebram os conceitos atuais, como a relatividade causou uma reviravolta na física newtoniana, ainda são degraus acima que se apoiam sobre o que já existia anteriormente, mesmo que de forma interrogativa. Este, não é um texto científico, ou pelo menos não tem este objetivo.

Mas e isto? Este texto não passa de um mero desabafo, mais um de muitos. Não é de hoje que os seres humanos colocam suas idéias frustrantes no papel. De alguma forma, parece que escrever sobre elas os ajudam a lidar com elas. Como muitas outras pessoas, eu também tenho muitas idéias frustrantes, que talvez não sejam tão frustrantes para alguns, pois seres humanos diferentes possuem experiências diferentes, e portanto sabedorias diferentes para resolver as situações da vida. Isso não impede, e na verdade mostra o quanto é necessário que as pessoas troquem as experiências entre si. Colocar as coisas no papel marca um registro que pode ser lido diversas vezes por quantas pessoas cruzarem com ele, e assim propagar "o mesmo conhecimento" muitas vezes.

Porém é impossível que um mesmo texto propague o mesmo conhecimento porque es leitories são diferentes, e nós não só lemos palavras, como também as interpretamos, e interpretação é feita não só com as palavras que estão no texto mas também com todo o conhecimento que e leitore adquiriu até aquele ponto de sua vida. Isso também mostra que a releitura de uma obra pode ser tão importante quanto a primeira leitura, porque ela provavelmente nos trará uma visão diferente da obra desde que a nossa visão do mundo tenha mudado entre as duas leituras.

E a pergunta ecoa: "Se de nada serve, então por que insistir em escrever?"

Porque é uma forma de me libertar, é uma forma de treinar, é uma forma de fazer um pouco aquilo que nos torna um pouco mais humanos. Especialmente nesses tempos de pandemia onde o contato social é ainda menor. Escrever é uma atividade gratuita, pelo menos pra quem já sabe, então demanda um recurso que nós já temos em abundância, que é criatividade e raciocínio.

Talvez eu não seja muito assíduo. Provavelmente porque a escrita não é a minha atividade de escape principal, mas ela ainda está aqui, e quando tudo mais falhar, provavelmente é a ela que eu vou recorrer.