quarta-feira, 27 de março de 2019

Flambarda - A Detetive Elemental #43

Flambarda acordou primeiro, na borda da madrugada. O celular mostrava 5:24. E ela tentava imaginar onde caralhos ela estava com a cabeça de ir pra Petrópolis, encontrar com uma pessoa que ela não conhece exatamente, rebolar a raba até altas horas na casa de um completo desconhecido com uma mulher que já te enfiou o cacete, e dormir na casa do amigo dela. Nada fazia sentido, nenhuma pessoa em sã consciência teria feito essas escolhas tão ensandecidas. Se ela foi convencida por alguém, ela certamente gostaria de lembrar que argumento foi tão forte assim. Ela parou e começou a pensar com os seus botões.

"Puta que pariu, eu sou uma vaca mesmo. Eu só precisava vir aqui, pegar a alabarda, e tchau, mas nããããão... Eu caio no papo da piranha pra pegar o negócio e dá aquele monte de merda. Tudo porque ela explicou meia dúzia de coisa. Que tipo de magnetismo tem essa mulher? Eu realmente não gosto muito do Rain, mas deixar o cara que ia me dar dinheiro pra seguir essa piranha? Ela realmente poderia ter me liquidado, ela não me falou ainda para o que ele precisa de mim. É isso que eu preciso descobrir."

Ela primeiro fez um reconhecimento de perímetro, estava de calcinha sutiã e uma camisa que certamente não era a dela. Os seus pertences estavam todos jogados num canto apesar de parecerem bem separados dos demais. Felipe dormiu no sofá, enquanto Flambarda e Fernanda dormiram em colchões separados relativamente distantes. Não aconteceu muita coisa depois que Flambarda ficou ensinando Fernanda a rebolar, mas agora ela precisava se movimentar.

A detetive chegou a conclusão de que ela ia pra cozinha do rapaz sem a autorização dele porque já que estava fazendo merda, que fizesse logo uma bem grande. Achar uma leiteira para colocar a água foi tarefa fácil, mas ela precisava saber que café o cara usava pra poder fazer uma proporção parecida com o que ela estava acostumada, mas o problema de estar em uma cozinha que não é a sua é que você nunca sabe onde está nada. Ela achou um monte de talheres, panelas, potes, e com a barulheira de abre e fecha armário, Felipe apareceu.

- Você acorda bastante cedo. - Disse ele com uma voz cansada e bocejando logo em seguida conforme entrava. - Que que cê quer?
- Café, pra ver se a minha alma volta pro meu corpo. - Flambarda se debruçou sobre a pia.
- Olha não sei quanto ao corpo, mas a bunda...
- Nah... Já rebolei demais ontem. Chega.
- O café fica nesse pote aqui. - Felipe pegou um pote que não tinha qualquer indicação e entregou pra ela.
- Opa. - Ela abriu e já sentindo o cheiro do pó de café. - Agora sim, qual café é esse.
- Acho que eu comprei Pilão da útlima vez...
- Extra forte?
- Extra forte.
- Aí sim. - Flambarda pôs água na leiteira e pôs a água pra esquentar no fogão.
- Vem cá, você é sempre assim enxerida?
- Você já me viu rebolar a raba no privado, acho que estamos bem íntimos.

Felipe se calou e passou a lembrar dos momentos da noite de ontem, apesar dele mesmo nem ter feito nada específico com nenhuma das duas meninas. Flambarda tratou de continuar preparando o café para todos enquanto aproveitou pra lavar alguma louça remanescente do dia anterior. Fernanda também chegou sonolenta ao recinto, bocejando e se espreguiçando. Tudo parecia um dia normal o que deixava a detetive particularmente preocupada.

Brahma então deu um cutucão no rapaz e o fez preparar uma mesa e sair de casa para comprar pão. Deixando-a sozinha com a portadora do luvetal de fogo numa cozinha que não era de nenhuma das duas. Ambas secaram a louça preliminarmente e depois as puseram no escorredor, e Fernanda aproveitou o momento pra ir conversando com sua mais nova aquisição.

- E aí. Gostou do Felipe?
- Nem conheço ele direito.
- Ah, eu to tentando arrumar alguém pra ele mas acho ele meio mole.
- Totalmente.
- E aí, animada pra começar a vida na equipe Brahma?
- Parece até que vocês tão fazendo marketing de cerveja.
- Bom, eu não lembro se eu te falei mas você ainda é uma detetive elemental
- Sério, cara? De novo?
- Não fui eu que escolhi não
- Não mete essa. Você é a chefe dessa porra, não é? Então você pode muito bem decidir.
- Mas são os seus elementos.que ditam isso.
- Ah, porra, tu vai dar uma de Rain?
- Relaxa, Flam, tu foi detetive esse tempo todo e nunca reclamou.
- Pelo menos o Rain me pagava.
- E você acha que nós não vamos?
- Com que dinheiro? O Rain parecia ser de uma seita, tipo Maçonaria. Só que mais underground.
- E tu me conhece?
- Tu vai tirar dinheiro de onde? Do cu?
- Nah, não sou tão talentosa quanto você, mas você acha que só os druidas são uma sociedade ultra secreta do não sei o que lá?
- E eu sei lá.
- Fica tranquila, só me passa tua agência e tua conta pra eu poder depositar os valores.
- Tá bom, eu te falo depois que meu cartão tá lá na mochila.
- Beleza. Depois do café eu te levo de volta pro Rio.
- Aew, porra! Ate que enfim, uma boa notícia! - Flambarda gritou e fez até dancinha comemorativa

Felipe chegou da padaria a tempo de ver a dancinha, apesar dela estar de costas e não ter reparado na presença dele, mesmo com toda a sua capacidade de sentir os elementos. Ele discretamente começou a preparar a mesa, mas precisou entrar na cozinha de qualquer forma para pegar os pratos e talheres, além dos frios e laticínios guardados na geladeira, e enquanto a detetive terminava de arrumar a pia, Fernanda auxiliava o jovem a finalizar os preparativos para um café particularmente reforçado.

Mas era certamente um café da manhã completamente diferente, especialmente porque ela estava acostumada com a pequena televisão da cozinha passando Ana Maria Braga de manhã, e ficava bastante estranho uma manhã sem a voz do Louro José fazendo as piadas mais sacanas as 9:00 da manhã, mesmo assim, eles passaram a comer sem conversar muito, falando no máximo para pedir alguma coisa que estava do outro lado da mesa, até que Fernanda, terminando, levantou-se, pediu licença e se retirou do recinto. Os outros dois terminaram em seguida, sendo que ela terminou antes dele e foi colocar a roupa que era a dela para voltar para casa, ou assim ela imaginava.

Conforme a detetive se trocava na sala mesmo, a sua nova chefe apareceu vestida com calça jeans cinza, camisa vermelha, jaqueta cinza e all-star vermelho. Se fosse tudo preto ao invés de cinza ela seria apenas uma torcedora cafona do Flamengo, mas por alguma razão o estilo dela com o cinza parecia cair muito bem, especialmente com os seus cabelos que ela podia jurar que estavam ruivos de manhã, e agora estão em mechas misturadas de cinza e vermelho; além disso ela trazia dois capacetes e entregou um para Flambarda.

- Pronta pra descer a serra?
- Pera... - Flambarda hesitou por um momento. - De moto?
- É. Ué? Algum problema?
- Não é... - Hesitou novamente. - ...arriscado?
- Fica tranquila que eu não vou chegar a 140 não. Isso a gente só faz no retão. - Ela disse, abrindo a porta.
- Caralho... Lá vou eu me fuder. - E a outra terminava de prender o cabelo.
- Tu num confia em mim não!? - A detetive pensou por um instante e respondeu.
- Eu não sei porquê caralhos eu confio, mas vamo lá. Já to no inferno mesmo.
- Maldade cê falar assim da casa do Felipe que te acolheu tão bem.
- Tô falando de ter aceitado ser uma arcanista.
- Cê vai adorar! Fica tranquila que você ainda vai poder ver suas amigas.
- Não tem política anti-druida?
- Só o Rain tem essas bichissses. - Ela então se virou pra dentro de casa - Tchau Felipe! - E mandou um beijo.
- Tchau Felipe e muito obrigado! - Flambarda agradeceu. Sentiu que era a coisa certa a fazer e acompanhou Fernanda até a moto que estava do lado de fora da casa.
- Sobe aí. - Brahma já estava sobre a moto convidando a detetive, que subiu e a abraçou bem apertado porque se ela ia morrer, a Brahma ia junto.

Conforme elas passavam pelas ruas até as estradas, Flambarda notava que as energias de Petrópolis pareciam bem mais serenas do que estavam antes de toda a confusão daquela noite, além de uma quantidade particularmente grande de fagulhas azuis.

"Eu realmente preciso estudar essas porras."

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