quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Flambarda - A Detetive Elemental #30

- Flam! Que excelente surpresa! Nunca imaginei que lhe encontraria aqui. - Disse Gerson, derrubando Xiao no chão com facilidade.
- Corre! Ele vai te pegar! - Gritou Xiao.
- Me pegar? To querendo que ele me pegue já tem umas duas semana e nada. - Flambarda agora estava cara a cara com ele.
- Como assim? - Eles perguntaram em uníssono.
- Assim, uai! - Ela falou colocando as mãos na cintura.

Gerson havia derrubado Xiao a alguns passos de distância a sua direita, depois do malamorfo, que também estava a sua direita e estava começando a dar sinais de acordar. Gerson falou gentilmente, conforme a energia se canalizava para o braço direito.

- Se me permite...

E deu-lhe outro socão no malamorfo, que agonizou mais um pouco até que parou. Flambarda viu que as poucas energias que ainda rodavam lentamente deixaram o corpo para encontrar o ar, e o mesmo corpo lentamente esmaecia como se estivesse desaparecendo da existência. Essa visão começou a gerar calafrios na jovem, que num misto de curiosidade e medo, soltou a pergunta quase que involuntariamente.

- Que porra é essa?
- Ele está retornando a criação. - Respondeu Gerson.
- Como assim? - Flambarda parecia nervosa, e gesticulava bastante com as mãos. - Essa merda virou Biblia agora? Do pó viestes ao pó voltarás!?
- É mais ou menos assim que funciona. - Xiao respondeu, visivelmente abatido.
- Mas eu vi o Rodney purificando e a pessoa voltando ao normal!
- Ah... Deve ter sido um druida. Como esse aí. - Gerson fez um gesto de desprezo com a mão na direção de Xiao.
- Miserável... - Xiao xingou. - Você não devia ter feito isso.
- Xiu aí. Você ainda vai precisar matar muito malamorfo antes de falar comigo?
- Matar malamorfos!? Então você... - Flambarda fez a pausa mas Gerson completou.
- Matou. Isso mesmo, eu matei um malamorfo. Na verdade um não, matei muitos, e continuarei matando.
- Mas eles são gente! - Ela o encarou.
- Gente!? Você chama esses bichos de gente!? Vai falar agora que bandido que mata não tem que morrer!? - Ele retrucou.
- Não interessa! Não cabe a você julgar quem morre ou quem não morre! - Daí ela colocou o dedo no peito dele.
- Certamente! Eu não estou julgando! Eu estou apenas executando! - Ele disse abrindo os braços, demonstrando imponência.
- Seu... seu monstro! - Flambarda o empurrou com uma força que ela mesmo desconhecia, e o fez bater na parede. E saiu correndo pela avenida que beirava a enseada de Botafogo na direção do Botafogo Praia Shopping.

A detetive atravessou sem pensar duas ruas, mas quando foi atravessar a terceira, um carro freiou bruscamente e buzinou, fazendo com que ela parasse em pânico no meio da rua. O motorista a xingou de muitos nomes - de puta pra baixo - e Xiao apareceu repentinamente para tirá-la de lá, conforme ele ia voltando pra virar na São Clemente e levá-la ao metrô. Gerson veio correndo e se colocou no caminho.

- Ei, menina! Eu ainda não acabei de falar! - Disse Gerson.
- Ta... Então fala... - Flambarda respondeu visivelmente abatida, ainda se apoiando em Xiao.
- Você vem comigo pra gente tomar um chope e conversar. - Ele estendeu a mão para alcançá-la mas foi repelido por Xiao.
- Teu cu que tu vai levar ela.
- Ora, ora, ora... - O homem olhou em volta e recuou. - Eu vou deixar vocês irem, mas não pense que eu não quero falar com você, Flambarda. - Virou as costas e partiu.
- Ué, o que está acontecendo? - Ela fez a pergunta, mesmo sem saber se teria resposta.
- Ele está indo embora, para o próprio bem. - O chinês respondeu.
- Mas... Ele é muito mais forte que nós.
- Você deveria utilizar mais o seu sentido espirital.
- Como... - Flambarda olhou em volta, especialmente para o alto. - Assim...? - E diversos pontos de convergência e agitação de energia ainda estavam ativos na área e iam lentamente se desfazendo conforme ele passava em direção ao Flamengo.
- Essa área é majoritariamente tomada por Druidas, assim como a Tijuca. - Ele não é nem louco de tentar fazer alguma coisa.
- Mas como as pessoas sabem que ele não é um Druida?
- Olhe os tipos de energia.
- Sim. Tem um monte.
- Não consegue ver um padrão?
- Nem a caralho, Xiao. Eu to morta de cansaço. Só quero ir pra casa, pelamor de Deus. Nem sexo eu quero.
- E chocolate?

Flambarda hesitou por um instante mas então ela percebeu que eles pareciam dois retardados conversando aleatoriamente no meio da rua, e preferiu aceitar pra ver se eles saiam daquela inércia.

- Tá. Você paga? - Disse ela se deslocando lentamente em direção ao metrô.
- Erm... - Ele hesitava em falar, acompanhando-a.
- Caralho, você me chama pra comer chocolate e nem pagar tu vai!?
- É que depende do chocolate...
- Tu acha que eu vou fazer o que!? Te extorquir!? Quer saber? Não me paga porra nenhuma não. Vai pra casa.
- De jeito nenhum! Você não vai entrar no metrô sozinha nesse estado.
- Agora quer pagar de cavalheiro!? Não! Vaza!
- Escuta! Tem mais arcanos por aí e você tá na mira! Agora... - Ele ia dizer algo mas Flambarda o interrompeu. Empurrando-o para trás.
- Foda-se a mira! Já tem foto minha na porra da deep web toda! Eu nem sei que merda que eu fiz pra merecer isso, mas já passou da hora de me sequestrarem! Então você pode ficar aí e comer o caralho do seu chocolate que eu vou pra porra da minha casa!

Xiao ficou sem palavras e sem reação enquanto via Flambarda caminhando pela rua em direção ao metrô. Diversas outras pessoas passavam e a olhavam pra ela com olhares muito tortos, e olhavam para o chinês de modo bastante similar. O que ela não conseguia sentir é que havia uma grande quantidade de energia vermelha atrás dela, que intensificava os olhares de quem era capaz de sentir esse tipo de coisa e repelia quem quer que pensasse em interagir com ela.

Já era tarde, suas roupas estavam detonadas juntamente com o seu ânimo. Ela virou a mochila e sacou o cartão do metrô pra poder passar na máquina. - Saldo insuficiente. -  Ela foi na máquina colocou mais 50 reais de crédito e passou pela roleta. Passaram dois metrôs pra Pavuna antes de passar um pra Tijuca., mas não fez muita diferença porque já não tinha muito mais gente pra andar de metrô mesmo. Tudo o que a detetive queria fazer era chorar e chorar porque o dia tinha começado ótimo, mas virou um turbilhão horrendo de tarde onde trinta minutos pareceram uma eternidade. Ela até esqueceu de colocar música pra escutar tentando compreender tudo o que aconteceu no dia.

E pra piorar ainda tinha uma prova amanhã. Depois de uma viagem silenciosa e uma volta pra casa após todo esse desgaste tentando digerir o que aconteceu naquele elevador, Flambarda tomou um banho rápido se deitou pelada mesmo e dormiu quase igual a Aurora depois que espetou o dedo na roca. O problema é que logo de manhã o celular estava esperneando com ligação. Quem seria o puto que queria acordar ela as 11:30?

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