domingo, 11 de novembro de 2018

Polêmica #73 - Escola Sem Partido

Eu estou me arriscando muito nessa. Apesar de ser a posição majoritária do Symsoup(ou seja do autor atual), não é a posição de todo mundo que escreveu pro blog, então tenha em mente que é a visão de uma pessoa só e que esse é um assunto bastante sensível que deve ser discutido com muita gente.



Eu fui atrás de material pra poder basear minha análise, então vamos lá.

A princípio eu fui apresentado a um video de um doutor em filosofia dissertando sobre o assunto.


E depois eu fui apresentado a esse que é severamente mais longo mas tem o idealizador do projeto dissertando então acho que também vale a pena escutar um pouco sobre isso.


Antes de apontar as minhas críticas aos vídeos eu vou colocar primeiro a parte boa.

Vamos lá. O escola sem partido é um projeto que se iniciou porque uma menina disse a seu pai, que o professor, em sala de aula, comparou Che Guevara a São Francisco de Assis. Obviamente a comparação é absurda, porque Che Guevara é um guerrilheiro. O cara acreditava no conflito armado como o único meio que ia levar o seu país ao objetivo que ele achava correto, o que é completamente diferente de São Francisco de Assis. A princípio era só um site onde denunciavam-se práticas de "Doutrinação", e evoluiu para um projeto de lei.

Fora do mérito da razão de ter se tornado um projeto de lei ou não, não dá pra dizer que a essência dele é pelo menos interessante. O projeto de lei diz que toda a escola deve ter fixado um cartaz enumerando 6 princípios, que eu vou copiar aqui em forma de texto porque eu não gosto de imagem.

  1. O professor não se aproveitará da audiência cativa dos alunos para promover os seus próprios interesses, opiniões, concepções ou preferências ideológicas, religiosas, morais, políticas e partidárias.
  2. O professor não favorecerá nem prejudicará os alunos em razão de suas convicções políticas, ideológicas, morais ou religiosas, ou da falta delas
  3. O professor não fará propaganda político partidária em sala de aula nem incitará seus alunos a participar de manifestações, atos públicos os passeatas
  4. Ao tratar de questões políticas, sócio-culturais e econômicas, o professor apresentará aos alunos, de forma justa - isto é, com a mesma profundidade e seriedade -, as principais versões, teorias, opiniões e perspectivas concorrentes a respeito
  5. O professor respeitará o direito dos pais a que seus filhos recebam a educação moral que esteja de acordo com suas próprias convicções
  6. O professor não permitirá que os direitos assegurados nos itens anteriores sejam violados pela ação de terceiros, dentro da sala de aula.
 E se você ler isso de coração aberto, verá que faz muito sentido. Nas palavras do próprio idealizador do projeto, e como você pode ver no próprio site, os itens nascem todos a partir de direitos que já estão garantidos na constituição mas que ele acredita (e tem até exemplos) que não estão sendo respeitados na sala de aula. Os itens descritos acima tem os alunos como público alvo para que ele possa se defender de um professor que está ferindo seus direitos. Isso é legal porque permite até que os alunos possam se defender da autoridade que um professor tem dentro da sala de aula.

Devo frisar aqui que isso é exatamente o oposto de uma visão ditatorial que exige que o professor seja autoridade máxima dentro da sala de aula.

Se você reparar no texto, a idéia dele não é em nenhum momento ignorar o debate de idéias políticas, mas sim de que os lados concorrentes possam ter o mesmo grau de exposição e que a partir daí os alunos possam escolher os seus lados com base nessas discussões, e isso é bastante legal. O mesmo vale para as idéias sociais, que não devem ser ignoradas, mas sim discutidas com embasamento científico expondo os pontos fortes e os pontos fracos das teorias.

Agora vamos a parte que o povo gosta que é a exposição. Wkwkwkwkwk

O primeiro ponto que eu vejo é que, salvo os itens 3 e 6, os efeitos do escola sem partido procuram se estender além da sala de aula (independente do óbvio). O que seria similar a dizer que fora do exercício da profissão, ele ainda assim não pode ter uma relação além com os alunos e passar os seus próprios valores pessoais. O que violaria o direito da própria pessoa passar seu próprio valor para outra apenas devido a sua profissão, o que é anti-democrático. Seria ingênuo pensar que as pessoas não estão a todo o momento adquirindo valores com diversas pessoas que cruzam suas vidas e que uma delas não seja o professor, e isso acaba ferindo o direito dele ter uma relação mais profunda (fora do campo do erotismo) com um aluno.

No item 4, é dito que os itens devem ser abordados com igual profundidade pelo professor. É ridículo pensar que o professor terá a habilidade de passar dois ou mais conteúdos diferentes com a mesma profundidade, e se contar com material de apoio externo, fica ainda mais difícil. Seria preciso pelo menos certificar os professores, além da licenciatura e da pedagogia, em determinados assuntos para que estes sejam capazes de fornecer o que é pedido com algum nivel aceitável de justiça pelo projeto.

Os item 2 é extremamente direto e não há nem como argumentar contra.

O item 5 é perigoso porque a definição de moral é particularmente complicada, e pode ser deturpada pelo lado dos pais também. É justo que os valores religiosos dos pais sejam respeitados, mas se os pais querem ensinar o filho a tomar atitudes absurdas que vão até contra a constituição, o professor deve respeitar isso? Me desculpe mas eu acho que os professores tem sim que educar com uma moral
que faça pelo menos algum sentido dentro da sociedade atual, ou vá até além mostrando como isso pode ser um ambiente particularmente cinzento.

O item 3 é complicado porque ele funde dois itens em um só então eu vou dividir ele em 3.1 e 3.2.

3.1 Seria relacionado as propagandas político-partidárias. Acho válido a propaganda política, contanto que seja válida a discussão também política, e por uma quantidade de tempo suficiente que não prejudique os estudantes na matéria daquele professor. Além disso, se for pra marretar conteúdo, acho que qualquer pessoa, mesmo que sejam os pais, estaria errada. Conteúdo político não se marreta, se discute. No meu trabalho eu consigo discutir política como uma criatura civilizada sem problema nenhum, e o mesmo deveria acontecer no ambito das escolas especialmente pra quem está no ensino médio com 16 anos e já pode votar.

3.2 Eu, quando mais jovem, já me envolvi um pouco com o movimento estudantil, e seria estúpido dizer que não existe política ali. Sim, existe, estão usando estudantes como massa de manobra, mas e quando os estudantes estão defendendo um direito que é de fato deles. Não seria justo mesmo que eles estivessem sendo manobrados? Não seria interessante que eles fossem incitados a lutar pelos seus direitos em causas maiores como o aumento da passagem de ônibus? Sim, os professores podem ser aliados, e devem mostrar pros estudantes também que eles tem de lutar pelos seus direitos que muitas vezes é defesa dos direitos dos pais. Os professores podem convocar estudantes, mas é preciso fazer uma ressalva que ele jamais pode forçar os seus alunos a tomarem tais ações, até porque, forçar um aluno já começa a ferir o direito dele, e aí já viu.

Então quanto ao primeiro vídeo, do doutor em filosofia, a crítica é direta. Não é delírio. Tem muito professor maluco que tá mais preocupado em fazer política, trespassando o limite do aceitável, e isso é ruim, porque não se dedica o tempo no momento correto pra isso, e a visão está unilateral.

Quanto ao segundo vídeo eu tenho duas críticas a fazer ao Najib.
1. As faculdades públicas, mesmo depois do ENEM, não tem um filtro ideológico. Eu fiz a UFRJ e conheci muita gente de direita lá. Certamente tem mais de esquerda, mas tem muita direita também. Na verdade como tem muita gente com poder aquisitivo bastante grande na UFRJ e muitos desses detém pensamentos econômicos de direita, não dá pra dizer que tem um filtro ideológico aí.
2. Cerca dos 4:30 do vídeo, é definido o que é doutrinação para o escola sem partido em um caráter jurídico. Eu não sou um jurista, mas acredito que o correto seria utilizar a etimologia e o significado léxico da palavra para definí-la, até porque está se usando a palavra com um sentindo que soa bastante pejorativo, no sentido de que uma pessoa doutrinada não é capaz de pensar diferente; e certamente o léxico iria confrontar o semântico em algum momento.

É isso aí galera. Se informe, porque nós estamos pelo menos tentando. wkwkwkwkwk


Imagens:
https://www.facebook.com/escolasempartidooficial/

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