quarta-feira, 13 de março de 2019

Flambarda - A Detetive Elemental #41

Os arcanistas já haviam partido mas os druidas ficaram bastante confusos. Rain gritou mais uma vez - "Vão!" - enquanto ele mesmo se retirava para descansar ali mesmo. Brahma também estava machucada e ainda cambaleante tentou se movimentar em uma direção específica a qual Flambarda já sabia que era a direção da fera. Os grupos de arcanistas e druidas tomaram direções de modo a cercar a criatura, enquanto Flambarda e Fernanda tomavam um caminho mais direto de confronto dentro do jardim do próprio museu imperial.

Estava particularmente escuro ali, até que a própria Brahma criou fogo pelas mãos e iluminou o ponto onde estava o lobo que viu aquilo e latiu de volta. A criatura repelia toda e qualquer energia que tentasse chegar nela. Cansada de esperar resolveu atacar a jovem que havia acabado de iluminar o local, mas Flambarda, que estava com a arma empunhada atacou a criatura no meio do caminho cortando-a e lançando contra uma outra árvore.

Nem ela sabia como deu um golpe tão certeiro mas agora era necessário abater a criatura, e quando ela apontou a lança para a fera acuada contra a árvore, fraquejou, e percebendo o desespero da detetive o lobo tentou se levantar para sair mas a própria Brahma golpeou a criatura com a perna, provavelmente quebrando algum osso importante e matando a criatura que aos poucos se revelava conforme a névoa negra se desfazia no vento.

- Detesto quando isso acontece com cachorros. - Disse Brahma.

Foi um baque. Ela não esperava que um cachorro ficasse sem luz e se tornaria um Malamorfo. Os outros que estava prontos para flanquear a criatura voltaram para seus afazeres, Fernanda ia auxiliar Flambarda mas ela saiu em disparada em direção ao ponto de ônibus, e nisso uma série de coisas começou a passar pela sua mente.

"Cara, que coisa surreal, um cachorro pode se tornar um malamorfo, isso provavelmente quer dizer que qualquer criatura está sujeita a isso. Da onde surgiu tanta gente? E por que não tava passando quase carro nenhum quando aqueles dois estavam brigando? Será que eles foram capazes de prever esse tipo de coisa e parar quase uma cidade inteira? Até onde vai a extensão da influência dessas pessoas?"

Mas enquanto esperava um ônibus no ponto, Brahma, apesar de suas condições conseguiu alcançar a detetive, sentou-se do lado dela em silêncio como se fosse uma amiga, mas a segunda resolveu quebrar o silêncio.

- Então, como é que isso funciona?
- Isso o que?
- Essa coisa toda. - Flambarda fez um gesto com a mão quase como se encerasse uma parede invisível.
- Você quer que eu te explique o que?
- Tudo.
- Bom você teria que vir comigo até a guilda dos arcanistas.
- Guilda? - Ela fez uma cara de incrédula. - Sério?
- Qual é o problema de ter uma guilda?
- Eu sei lá, achei que guilda fosse só coisa de jogo mesmo.
- E tem algum problema se for de jogo?
- Como assim?
- Erm... Bem... a gente precisava de um jeito de manter os druidas de fora do nosso canal de comunicação.
- Cara... - Flambarda não sabia o que dizer.
- Bom acho que você precisa voltar pro Rio de Janeiro não precisa?
- A não ser que você queira me pagar um hotel aqui, sim.
- Então vamos ficar por aqui, descer a serra é perigoso de noite. Xô só ligar pro Felipe aqui, um instante só. - Disse Fernanda enquanto puxava o telefone.

"Uai, que estranho. Ela realmente parece preocupada comigo, Falando em preocupação, cadê o Rodney? Ela vai me explicar tudo mesmo? O professor lá ficou mó tempão falando, e parecia que existia uma eternidade de informação, como é que ela, jovem desse jeito vai me explicar o que aconteceu no passado?"

Conforme Fernanda falava ao telefone, Flambarda procurou na bolsa os fones de ouvido e o celular. Ela deixou tocando a sua playlist que estava recheada de Anitta, mas tinha bastante sertanejo também. - "Eu preciso atualizar essa playlist" - Ela queria escapar um pouco dessa loucura, mas sempre que olhava mais ao redor via aquelas malditas luzes cintilando para lá e para cá. O movimento agora em Petrópolis parecia ridiculamente calmo, quase como se as próprias luzes estivessem com sono, e era dominado por luzes azul claro.

- Ah! Beleza! Vamos lá na casa do Felipe. É aqui perto! - Disse Fernanda se levantando.
- Tá bom. - Flambarda falou enquanto se levantava sem muita animação.
- Animada pra conhecer mais um arcanista?
- Ele é um moreno alto bonito e sensual?
- Erm, moreno sim, alto, nem tanto, bonito e sensual, talvez, depende do seu gosto.

Elas foram andando em silêncio em uma marcha um tanto quanto acelerada devido a espontaneidade de Brahma. A rua Figueira de Melo ficava relativamente distante então elas passearam um bocado pelas ruas de Petrópolis. Flambarda parecia uma anti-social escutando música no celular enquanto a outra andava como se conhecesse tudo ali e tudo o que poderia acontecer estivesse sob seu controle. Quando chegaram perto, Fernanda ligou para Felipe que as buscou na esquina com a avenida.

- Felipe! - Fernanda o cumprimentou com um abraço e um beijo na bochecha. - Tudo bem?
- Não precisa falar muito né? Eu estava no incidente. - Ele respondeu.
- Ah sim, eu não consegui prestar muita atenção na multidão. Essa aqui é a Flambarda.
- Jura! Essa é portadora do luvetal de fogo? - Ele disse cumprimentando-a
- Ela mesma! - Brahma tomava a atenção pra si. - E ela agora joga do nosso lado!
- Uai, não jogou sempre?
- Ela era uma druida, não sabia?
- Não, não lembro disso ter sido divulgado.
- Como não!? Eu paguei um fotógrafo pra ficar tirando foto dela!

"Peraí, um fotógrafo pra tirar foto minha?"

- Ah sim! Mas dava muito trabalho ficar vendo as fotos.

Flambarda deu um empurrão em Fernanda que ela não esperava jogando-a no chão montou sobre ela e armou um soco. O semblante dela era completamente diferente daquela detetive insegura que não sabia o que fazer.

- Você não pagou o Japa pra tirar aquelas fotos, pagou?

Um mundo de emoções transitava pela cabeça de Flambarda naquele momento, e tudo culminava para que tudo fosse uma louca teoria da conspiração onde centrada nela e na Fernanda. O punho direito onde estava a luva agora pegava fogo com a ira da detetive. Felipe, que assistia a cena ficou pasmo ao ver o luvetal na mão direita da jovem pegando fogo e só conseguiu soltar um - Caralho! - enquanto Brahma tentou conversar o mais calmamente possível.

- Ei, abaixa esse punho. Me bater não vai levar a lugar nenhum.
- Responde logo! - Flambarda respondeu quase cuspindo na cara dela.
- Tá bom! Tá bom! Fui eu sim! Fui eu! Fui eu quem...

E quando ela ia terminar, Flambarda socou o chão passando de raspão pela cara de Fernanda. O soco gerou uma pequena onda de choque que de fato foi sentida como um soco, certamente bem mais fraco do que seria se o golpe fosse desferido diretamente. A detetive piscou, como se estivesse voltando a si. A chama da luva se extinguiu conforme ela puxou os braços devagar mas ainda se manteve sobre Brahma, cuja cara estava virada para o lado com os cabelos desarrumados sobre a face, devido ao golpe indireto, exercendo dominância.

- Ok. Eu já entendi. Eu posso pelo menos me explicar?
- Eu... - Flambarda hesitou por um instante, mas continuou. - ...Acho que sim.
- Ótimo. A gente pode fazer isso dentro da casa do Felipe tomando café?
- Você acha que eu sou idiota?
- Estou em dúvida.

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