quinta-feira, 6 de março de 2025

A Guerra é Inevitável - Organize-se e Fortaleça-se

Se o moderno buscava encontrar um universal baseado na racionalidade, ele até agora não conseguiu. Wittgensten tentou fazer isso com o Tratado Lógico-Filosófico em 1918, mas seu sucesso é bastante questionável. Até porque, pelo que eu li do Lyotard, não tem nada do tratado amarrado ali. Tem na verdade uma crítica pesada a ciência e as políticas de desenvolvimento da mesma. Não é uma questão de ser anti-ciência, mas sim de fazer uma crítica a direção que a ciência foi tomando especialmente a partir da idade moderna.

Euler era foda.

Alguns leitores de Kant dizem que sua obra procura racionalizar as coisas ao extremo e chegar no limite. Eu talvez tente fazer a mesma coisa com o meu texto, mas não sei se chegarei no mesmo ponto que Kant, só que eu tenho um objetivo aqui que é olhar também para os fenômenos fascistas, algo que é uma preocupação genuína no mundo atual. Então, eu tenho um escopo um pouco mais limitado. Eu quero encontrar os limites da razão olhando para questões sociais, porque o fascismo é um fenômeno social, e portanto político.

Eu falei sobre isso no passado também e sobre a importância de ser anti-fascista, além disso sobre a importância ainda maior de ser anti-racista porque o fascismo ele é basicamente uma extensão daquilo que hoje conhecemos como racismo. O grande lance é que eu não sou Comunista apesar de ser claro que o que a maioria das pessoas entende por Comunismo não é nem metade daquilo que o velho Marx colocou no manifesto. Como muitos outros socialistas ou comunistas dizem, a gente não pode fazer uma análise baseado nas utopias colocadas nas nossas cabeças e sem analisar a realidade como ela de fato o é.

Qual é a dificuldade de analisar as coisas como elas realmente são? A barreira da linguagem. Existem nuances que dificultam bastante a compreensão das coisas em um debate, tais como os caras que dizem que Capitalismo equivale a trocas voluntárias. Só que aí eu vou ser um pouco pragmático e vou analisar, pelo menos em alguma parte, a partir daquilo que é senso comum.

A Farsa do Capitalismo

Se Capitalismo é um sistema econômico que se baseia em trocas voluntárias e comércio, então já podemos dizer que o sucesso de qualquer pessoa nesse sistema se baseia na capacidade dessa pessoa em passar a perna nas outras através de uma "persuasão" bem feita, algo que hoje a gente pode chamar de marketing. Se você só faz um produto e não vende, então não tem troca, vc apenas consome recurso e chora no banho. Entrar em uma economia baseada puramente em mercado consiste em táticas de venda. Aqui que a coisa fica nebulosa e existe um conceito culpado por essa nebulosidade chamada: Curvas de Oferta e Demanda.

Essa porra realmente faz sentido!? Fala sério

A idéia desse conceito é de que o preço justo poderia ser encontrado comparando curvas de oferta, e que no final todo mundo estaria sempre vendendo as coisas no preço justo baseado na oferta e na demanda sazonal de um determinado produto, no mais puro estilo: "Se você comprou é porque você acha o preço justo". Por mais que eu compre coisas que eu ache em um preço justo, tem dois problemas aí:

  • Meu julgamento pode estar errado e o preço pode ser injusto
  • Eu quero é comprar de forma injusta com vantagem pra mim. Foda-se o outro.

Só que, da mesma forma que eu quero comprar de modo a ter vantagem, O cara que quer vender também quer fazê-lo de forma que ele tenha a vantagem. Ou seja, o sistema capitalista é um sistema que funciona sistemáticamente com pessoas se passando a perna, e quem conseguir fazê-lo melhor será coroado como vencedor. Então não é só uma questão de que o sistema capitalista tende ao monopólio por uma questão mercadológica, mas ele tende a uma sociedade competitiva onde a regra geral é a enganação ao invés da confiança.

A parte mais bizonhamente contraditória disso tudo é que a nossa sociedade funciona em sua grande maioria através de uma relação intrínseca de confiança. Esperamos não estarmos sendo jogades umes contra es outres. A gente espera que o pão não esteja envenenado, que as as informações nutricionais dos produtos sejam verdadeiras, que o modo de uso dos produtos de cabelo estejam corretos, etc. etc. etc.

Supor que a busca da vantagem por ambos os lados em uma troca, sempre vai gerar uma troca justa, é pelo menos ingênuo, porque um dos lados provavelmente vai ser capaz de provocar uma situação mais vantajosa para si mesmo. Tal qual alguém que tem o monopólio ou o monopsônio de algum produto, ou como alguém que se aproveita de uma liquidação para obter produtos a preços mais baixos. Só que a verdade é que, quem vende num sistema capitalista, sempre vende com vantagem. Quer saber porquê? A razão é: Lucro

Entenda que a busca do mercador pelo lucro não é porque ele é malvadão. Ele precisa conseguir vender as coisas mais caras o possível - e comprar o mais barato também - porque a grande verdade é que ele não tem garantia de venda de nada, e se ele não vender, ele não vai ser capaz de comprar comida. As margens de lucro são o mínimo de garantia que ele tem de continuar a sua vida com menos preocupações. Só que isso naturalmente gera uma ideologia de enganação. Mentir para obter o lucro vai passar a ser a regra.

A questão é o fomento de uma ideologia competitiva onde todo mundo tem que passar a perna em todo mundo. Sabe em quem o capitalista tem que passar a perna também? Nos povos que não tem a ver com a gente. Quem tenta passar a perna nos povos que são diferentes é racista? Não necessariamente porque isso ainda está na dimensão do modelo econômico, mas isso vai facilitar para o surgimento do racismo. O racismo vai nascer quando se cria uma ideologia pra enganar e explorar os outros povos. Quando essa ideologia é criada, se cria uma espécie de hierarquia entre povos que é o centro do fascismo.

Esse capitalismo, ao naturalizar a submissão de outras pessoas, se funda sobre exploração através da hierarquização apenas para sobreviver e se propagar, porque vai ter uma galera passando a perna em outra e essa galera vai usar alguma forma de ideologia de supremacia. O Racismo, ou outras formas de discriminação como a Misoginia, fornecem essa base para que o Capitalismo possa florescer. O Fascismo é só a extremação dessas hierarquizações. Os campos de concentração são basicamente campos de trabalho forçado, ou seja, escravidão, só que justificada em cima de racismo. Hitler usou os Judeus; Israel usa os Palestinos; A Espanha usou os povos originários da Mesoamérica; Estados Unidos e Brasil usaram os povos Africanos; Japoneses usaram Coreanos; Egípcios usaram os Hebreus; etc. etc. etc.

"Ah mas nem tinha capitalismo pra ter facismo na época dos egípcios": Mano, lê de novo a definição que eu coloquei de Fascismo.

Ou seja, o Fascismo nasce a partir da desconfiança e da redução de humanidade de outre humane. Uma pessoa puramente racional precisa demonstrar então que a hierarquização de seres humanos é algo irracional para que possa se pensar em uma forma de extinguir o Fascismo, caso contrário, o máximo que vai dar pra fazer, com muito esforço, vai ser reduzir o dano.

O Dilema das Relações Humanas

Quando você encontra uma pessoa de um povoado diferente do seu. O que você faz?

Essa pergunta meio que dita pra qual sistema econômico a gente vai. Fato que quando os Europeus saem navegando pra fora da Europa, o objetivo era explorar as outras terras, independente se ia ter outras pessoas nelas ou não. Cristóvão Colombo não sai para aprender o que outros povos estavam fazendo em nenhuma de suas expedições. O objetivo é mercantil, ou seja, de passar a perna. Da mesma forma a chegada dos portugueses aos outros pontos da África - sem precisar passar pelos Turcos que controlavam a rota de passagem para a África após tomarem Constantinopla - tem objetivos mercantis. Essa relação mercantil levada ao extremo transforma pessoas em mercadorias, um fenômeno também conhecido como escravidão.

Em contrapartida, existem momentos onde outros povos se juntaram com outros para se unir por objetivos em comum que não necessariamente mercantis, e tem diversos exemplos. Tipo quando a Europa juntou uma porção de nego lá pra brigar nas cruzadas, ou quando "Harold "Bluetooth" conseguiu unir as tribos em prol de um mesmo objetivo pra gerar a Dinamarca, ou quando Otto Von Bismarck juntou a bagunça que era a Prússia pra gerar o que hoje chamamos de Alemanha... Exemplo não falta.

Então, a criação de estados maiores e unificados depende de uma mentalidade de união e cooperação, enquanto a destruição de outros estados depende de uma mentalidade mercantil de triunfo e supremacia. Cultura mercantil ou capitalista gera Fascismo, Cultura coletivista gera alguma outra coisa que eu não vou chamar diretamente aqui de Comunismo, até porque poderíamos dizer até que o Anarquismo também já era uma tentativa de vivência coletivista.

Lembra que a gente tava falando sobre racionalidade? Se temos duas mentalidades - ou talvez existam mais que duas pra evitar a falsa dicotomia, as outra mentalidades não importam muito (a não ser que elas consigam gerar algo pior que o Fascismo). - qual seria a escolha mais racional? Essa pergunta tem um problema muito grande que é a falta de contextualização e materialidade. Quando a gente coloca as opções na mesa, para uma situação completamente abstrata, a análise perde bastante o sentido. Na verdade é assim que os caras vão jogando dilemas. Começa com uma situação completamente abstrata e depois vai tentando colocar situações mais concretas mostrando que daria pra fazer outra escolha.

Se a gente olhar a galera mais ou menos ali por volta de 1450 - 1550, essas pessoas atuam basicamente em cima da lógica mercantil. Porquanto a lógica mercantil, por si só, tem dificuldades em desumanizar uma etnia específica, porque atua em escala micro, os conflitos constantes entre povos ocorridos na idade média faz esse trabalho. A luta entre o Império Bizantino e o império Turco-Otomano, que vai chamar a Europa inteira em uma espécie de luta religiosa entre Catolicismo e Islamismo. A ideologia religiosa dessas lutas vai contribuir para o sentimento anti-semita e anti-islamico presente na Europa que se espalha pelas colônias uma vez que a própria vai difundir essa cultura através de suas colônias. Em outra frente, o comércio de escravos negros dos povos mais ao sul da África vai criar outra cultura, vai contribuir para a desumanização desses, fundando o racismo onde o capitalismo Europeu vai fincar suas raízes.

Calma que isso vai demorar e tem um processo histórico de anos pra isso se consolidar, mas a questão é que a relação é de supremacia e dominação, apesar de, na visão de quem está fazendo os negócios, isso é uma questão de cooperação. Não há uma ética que diga que seres humanos não podem ser tratados como produto (e podemos dizer que não existe até hoje). Já coloquei que existem muitas formas de se tratar uma outra pessoa, e estamos pensando se as pessoas conseguem chegar a essa solução racionalmente, mas se a racionalidade está presa ao contexto material, então, pessoas de diferentes lugares e contextos terão diferentes abordagens até com diferentes povos. A relação dos franceses para com toda a Europa, por um bom tempo, era uma relação de dominação. Os caras queriam tomar a porra toda, a ponto de fazer a coroa portuguesa fugir para o Brasil.

Imagine então os portugueses indo até a África, dizendo que iriam libertar os escravos que as tribos africanas iam fazendo conforme resolviam seus conflitos no braço. Faz sentido? Por que diabos os caras iriam se enfiar numa briga que não era deles, pra resgatar pessoas de povoados que não estavam minimamente próximos aos seus? A Revolução Francesa que demarcaria os direitos humanos só surgiria 200 anos depois, e talvez fosse pedir demais que as pessoas tomassem consciência crítica de que talvez, apenas talvez, elas estivessem racializando outros povos e os impactos disso ao longo de todos esses anos.

Olhando pra trás agora é fácil de ver que a mentalidade mercantil gerou um processo industrial de escravização que criou o racismo para com os povos afrodescendentes, mas é um pouco mais complicado de enxergar isso tudo daquele ponto de vista da história, apesar dos gregos já terem reparado que os próprios gregos começaram a se escravizar e que isso era um problema para a Grécia.

Então os direitos humanos da Revolução Francesa buscam também criar uma espécie de moral. Uma moral que talvez tenha o objetivo de transformar escravos em consumidores numa sociedade industrial, mas, ainda assim, é a fundação de uma moral. Racionalmente falando, as pessoas escravizam umas as outras conforme enxergam a necessidade delas, a ética de Aristóteles buscava justificar a escravidão na Grécia, a ética da Revolução Francesa buscava a libertação de homens em determinados povoados. Até porque, todes temos certeza que o objetivo dos franceses não era fornecer munição intelectual para as revoltas ocorridas no Haiti.

Se a Moral é tão condicionada a determinados objetivos, então, se fornecerem explicações e justificativas o suficiente, qualquer coisa pode ser moral. Ja afirmei que a moral supremacista gera o fascismo, e que busco racionalmente rechaçar essa moral, mas em determinados momentos ela vai ser necessária especialmente quando chega uns cara do nada achando que pode mandar na gente. Abrigar um fugitivo de seu país que chega sem um puto furado no bolso é completamente diferente de abrigar um colonizador que vem cheio de arma no caminhão.

Enquanto Houver Capitalismo, Haverá Fascismo

A gente explicou o dilema, mas se a gente tem um doidinho de bairro só falando que sua nação precisa ser foda e triunfar sobre todas as outras. Isso não é muito problema, a princípio. O grande lance é que esse discurso pode contaminar outras pessoas. A pergunta anterior é se essa pessoa estava errada por pensar assim, mas vimos que essa forma de se pensar pode ser perfeitamente racional se há uma mentalidade mercantil onde há a constante necessidade de se passar a perna nos outros, uma vez que demonstramos que essa mentalidade engendra as condições para o racismo que vai gerar o fascismo.

Porquanto o capitalismo não é condição necessária para o fascismo, ele é condição suficiente. Isso significa que enquanto esse for o sistema dominante, o Fascismo estará logo ali na esquina. Perceba que eu nem estou entrando na questão da existência de Estados-Nações ou Governos. A mentalidade mercantil retira das pessoas a possibilidade de subsistência de onde ela realmente vem. Não é mais sobre comer a batata que se planta, é sobre vender as batatas pra depois comprar as mesmas batatas com o dinheiro da venda delas. Isso é absolutamente ilógico. Esse processo de retirar das pessoas a possibilidade de subsistir de outras formas vai potencializar ainda mais a forma mercado, e vai jogar cada vez mais pessoas para o fascismo.

Aquele papo de pessoas de outras nações roubando o emprego dos outros de uma nação específica é verdade. Os chineses realmente tomaram todos os empregos dos Estado Unidenses. Não porque eles realmente queriam, mas simplesmente porque sua mão de obra era mais barata. Se é mais barato fazer tudo na China e depois trazer num container, que seja feito assim então. Se as pessoas da nação de um capitalista não vão poder trabalhar para ter o que comer, especialmente porque a subsistência da terra foi tirada delas, foda-se.

Esse tipo de ação não vai nem gerar a Cinofobia diretamente porque a maioria dos trabalhadores está alheia a isso, mas isso certamente vai limitar as vagas de emprego que poderiam estar todas nos Estados Unidos. Pra gerar xenofobia em um povo cujas condições de sobrevivência foram dizimadas pelo próprio governo é um pulo, e aí vai ser uma xenofobia generalizada. Essas pessoas tem uma razão para serem Xenofóbicas, mas elas, em geral, não percebem que a raiz do problema não são as outras nações, e sim a mentalidade mercantil que joga as possibilidades de emprego para o outro lado. A culpa é de quem ganhou no jogo das trocas voluntárias e hoje concentra o poder financeiro em suas mãos que vai buscar pagar ainda menos para a produção em outros lugares.

E isso é uma mentalidade fascista ainda muito superficial mas não é irracional. Isso significa que há um componente racional pelo qual as pessoas aderem ao fascismo. Não é puramente passional. Ainda assim esse componente racional passa por uma premissa passional que é a decisão tomada no dilema das relações humanas. Só que piora, a razão pela qual uma pessoa toma uma postura de supremacia nesse tipo de dilema também não é puramente interna. Alguém que teve uma série de interações negativas com pessoas de uma determinada etnia vai sim criar preconceito e discriminação contra ela. Essas pessoas vão se fascistizar porque o contexto material tá batendo na cara delas dizendo: "Odeie esse tipo de pessoa."

Enquanto vivermos sob o sistema capitalista, as guerras e o fascismo é inevitável. Até agora a forma mais eficiente que encontraram pra combater esse tipo de coisa é a organização social combinado com o fortalecimento individual. Precisamos ser fortes para defender nossas organizações e precisamos delas para lutar contra fenômenos sociais que não dá pra encarar sozinhe.

Assim como eu escrevi no título:

A Guerra é Inevitável - Organize-se e Fortaleça-se


Imagens:

https://www.lucidchart.com/blog/pt/visao-geral-do-grafico-curva-de-oferta-e-demanda

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