domingo, 23 de março de 2025

Flambarda - A Detetive Elemental #94

A hesitação de Sofia, foi o necessário para que Entrenós conseguisse pegar Flambarda pelo pé, por mais que Fabiana tivesse tentado atrasá-lo. Então, no movimento mais contra-intuitivo o possível, ela jogou a mochila que segurava para longe da confusão, abaixou, e pôs as mãos na terra, olhando para baixo. Bibi, obviamente, ficou puta.

- Caralho, Sofia! Cê vai rezar agora!?

O algoz da detetive se aproximou dela e a jogou escada abaixo, e ela caiu o melhor que pôde, o que não foi exatamente muito bom, com uma dor maciça no momento do impacto que debilitou seus movimentos por algum tempo. Ele caminhou e pegou sua adversária pelo colarinho da camisa para levantá-la e imprensá-la contra a parede, e sua amiga, desceu a escada para ajudá-la sem pensar duas vezes. Uma vez que ele estava de costas e parecia distraído, ela fez a coisa mais estúpida, e machista, mas que foi a primeira coisa que veio em sua cabeça.

Fabiana, enfiou o polegar no cu de Entrenós, o mais fundo o que conseguiu, o que não foi muito, mas certamente incomodou a ponto de fazê-lo soltar Flambarda, e virar sua atenção para si. A detetive então não deu mole pra distração e começou a socá-lo com toda a força que tinha na região do abdôme, o que o fez se contorcer de dor, e bibi, sem saber exatamente como bater, deu o melhor soco no saco que conseguiu. Mais alguns golpes desferidos pelas jovem e o dono da 2a2 caiu no chão, sem ação. Flambarda se certificou de acertar mais alguns golpes na cara pra ter certeza que ele estava desacordado.

- Acabou? - Perguntou Bibi
- Não sei por quanto tempo. - Flamabarda respondeu.
- Ei! Vambora! - Sofia chamou.
- Não! o Rodney ainda tá aqui embaixo! - Fabiana retrucou!
- Foda-se o Rodney! Esse filho da puta vai matar a gente!
- Eu nem sei se o Rodney tá aí embaixo! - Gritou a detetive.
- Mas você não conseguia ver o Rod!? - Bibi protestou.
- Fumou, maconha estragada, foi? Eu acho, pra caralho, que ele tá aqui! Só que eu realmente não sei!
- Então a gente veio pra cá a toa!?
- Eu não! Eu tenho que resolver um problema aqui nessa merda!
- Então você não vai salvar o Rod!?
- Eu não tenho como salvar quem eu não sei onde caralhos tá, Bibi!
- Então...
- Rala peito vocês duas! Eu sigo.
- Teu cu, Flambarda. - Sofia reclamou. - Ou você vem ou a gente se fode juntas.
- Então prepara a buceta, porque eu não vou voltar.
- Ai meu cu... - Disse Fabiana, se conformando.

A detetive foi na frente como quem sabe o caminho. Passaram pela porta do primeiro subsolo, e antes de chegar no segundo andar encontraram justamente com quem Bibi estava procurando esse tempo todo.

- Rodney!? - Flambarda exclamou primeiro.
- Rodney!? - Fabiana perguntou, afoita, na sequencia.
- Flambarda!? Fabiana!? Sofia!? - Rodney parecia ainda mais confuso. - Que que cês tão fazendo aqui!?
- Rodney! - Bibi tomou a frente e deu um abraço forte nele e começou uma saraivada de frases. - Você tá vivo! Eu tava preocupada! Você saiu do hospital do nada! Te deram LSD no hospital por um acaso!?
- Bibi. Eu tô bem.
- Tá bem dodói, né? - Sofia trucou.
- Que merda tá acontecendo aqui, Rodney? - perguntou a detetive.
- Vamo embora daqui que eu... Argh! - Ele deu um suspiro de dor, e levou as mãos a barriga como quem levou um soco fortíssimo.
- E pelo visto eu ainda vou ter que te carregar...

Flambarda foi até Rodney, e passou a apoiar seu caminhar, uma vez que ele o fazia com dificuldade e elas queriam sair dali rápido, mas a pressa diminui, junto com um aumento vertiginoso de suspeita, uma vez que Entrenós desapareceu da escada, e isso gerou um raciocínio muito específico na detetive. - Puta merda, como assim? E eu não escutei porra nenhuma. A gente ficou falando, gerou eco e foi o que ele precisava pra escapar, mas... Ele realmente precisava escapar?

Saíram os 4 juntos. Rodney sabia exatamente o que fazer para sair mas Sofia e Fabiana repararam em um olhar de suspeita do porteiro, afinal, elas haviam entrado com um cara e saíram com outro. Não que elas ligassem muito pra isso, especialmente nessa hora em que o que importava era voltar pra casa com alguma vida, especialmente depois que a noite já havia caído. Haviam ainda algumas pessoas na rua, e os postes já estavam ligados fornecendo luz. Era só chegar até o ponto de ônibus e pegar o coletivo de volta para Botafogo.

Chegar até o ponto de ônibus não necessariamente era uma tarefa fácil nesse momento, o curador do destino estava visivelmente debilitado, apesar de não ter nenhum ferimento visível, nenhum osso quebrado, nem nada do tipo, então não havia nenhuma justificativa para levá-lo até o hospital. Elas nem chegaram a discutir mas todas pareciam concordar que levá-lo consigo seria a coisa mais natural a se fazer, e assim o fizeram pagando a sua passagem junto na direção que estavam indo.

Durante aquele momento todo, Flambarda era capaz de ver que havia pouco fluxo de energia dentro de do rapaz, apesar de não ser capaz de ver nada que de fato repelisse. Pelo que ela sabia e tinha experimentado até agora, ele estava fraco mas provavelmente não se tornaria qualquer uma daquelas criaturas sinistras que ela tinha enfrentado.

Para descer do veículo, a detetive desceu primeiro pra segurar o curador do destino na descida da escada, sua força amplificada pelo luvetal fez com que ela segurasse o rapaz com pouca, porém alguma dificuldade. Ainda precisavam andar um pouco e as ruas da praia de botafogo estavam bem iluminadas com uma série de pessoas ainda passeando pelo local. Entraram no prédio, e foram até o apartamento, onde Sofia tomou a frente, abriu a porta principal, e entrou primeiro convidando seus amigos a entrarem na sequência. Flambarda jogou Rodney no sofá e sua mochila no chão, exausta, meio que de qualquer jeito e se esticou logo em seguida, sentido as dores percorrerem sua lombar e seus ombros. Fabiana, se abaixou na frente de sua atual paixonite, para poder trocar algumas palavras de conforto, e a dona do apartamento foi até a cozinha por água pra ferver depois de jogar a sua mochila em outro lugar do chão.

Sofia era uma entusiasta de chá e pegou o pacotinho necessário para fazer um chá preto. Flambarda entrou na cozinha pouco depois, e aproveitou para conversar com sua amiga no tom mais baixo que conseguia como se quisesse guardar algum segredo dos outros dois.

- Eu entendi o que você fez lá. - Flambarda disse.
- Como assim? - Sofia se fez de sonsa.
- Você carregou o ambiente com todas as suas energias de fogo.
- Não sei do que você tá falando.
- Escuta aqui, piranha. - A detetive disse, se aproximando de forma intimidadora. - Meus olhos viram você transferindo as suas fagulhas vermelhas e absorvendo as pretas e brancas do ambiente. Você pára de tentar me enganar e me explica logo o que você tá aprontando.
- Tá bom. Tá bom. - Sofia levantou as mãos como quem diz que não fez nada de mais. - Posso fazer meu chá primeiro?
- Não. - Flambarda fez questão de desligar o fogão. - Eu não quero vocês envolvidas nessa merda, e parece que quanto mais eu falo, mais vocês resolvem mergulhar nela.
- A gente já tá nessa merda, tá bom, Flambarda? - Sofia trucou - Não adianta você espernear, desligar o fogão, mamar um canavial de rola, ou chupar minha buceta. Você sabe que, em parte, a Fernanda me usou pra chegar perto de você. Ela já era minha cliente, e pouco depois do incidente do Botafogo Escada Shopping ela já tinha começado a falar comigo.
- Pera... - Flambarda deu um passo pra trás - então...
- Quando você resolveu botar essa porra na sua mão achando que era bonitinha, você levou todo mundo junto pro buraco. A diferença é que a gente tá tentando ser sua amiga ao invés de jogar a responsabilidade toda em você, porque, quem resolveu colocar uma porra de uma luva vermelha jogada no chão no centro da cidade - Sofia apontou o indicador e levou até o corpo de sua amiga. - foi você.
- E você acha que eu sabia que essa merda toda ia acontecer!? É claro que se eu soubesse eu nunca teria colocado essa porra na mão.
- É exatamente por isso que a gente não joga a culpa em você, caralho! A gente... - Então Sofia foi interrompida.
- A gente só não quer que você morra. - Disse Fabiana, com uma voz melancólica, entrando na cozinha, se aproximando de Flambarda. - A gente já sabe demais. A gente já tá afundada nisso até o pescoço. Então a gente decidiu que vai junto.
- Caralho... - Flambarda coçou os olhos com os dedos, incrédula. - Tá. O que que vocês já sabem?
- Posso fazer a porra do meu chá agora? - Sofia perguntou.
- Tá... Faz logo essa porra aí que eu vou ali cagar e pensar no que que eu vou fazer da minha vida.

Flambarda se retirou e foi até o banheiro e se sentou no vaso, olhando para as energias ao redor. Tudo parecia muito branco e azul, as vezes até azul claro, como se as cores se misturassem. Talvez seja porque era noite, e é particularmente comum que isso aconteça nesse horário na maioria dos lugares, mas a própria detetive borbulhava em vermelho, uma mistura de raiva e apreciação pela atitude das duas amigas, mas ela não conseguia pensar em como lidar com a situação. A sua vontade de lidar com a responsabilidade sozinha, e a consciência de que suas amigas vão se intrometer quer ela queira ou não a consumiam por dentro.

A portadora da luva terminou de fazer o que precisava fazer, se limpou, se despiu, ficando apenas de roupa íntima, e foi se deitar no chão da sala, enquanto Rodney estava no sofá, adormecido. Bibi surgiu com um colchão que ela tirou sabe-se lá de onde, e o estendeu no pouco espaço que havia, mas que era convenientemente perto do sofá.

- Eu durmo aqui perto do Rod. - Disse Bibi.
- Teu cu. - Flambarda trucou.
- Caralho, não dá pra ajudar a amiga a desencalhar não?
- Tá. - A detetive cedeu. - E onde vocês esperam que eu durma?
- Em cima de mim. - Gritou Sofia, do quarto dela.
- Caralho, eu vou matar essa piranha...

Flambarda foi até lá com uma certa raiva e entrou no quarto. Sofia havia colocado uma camisola pra dormir mas era possível ver que ela pegou todos os cobertores que tinha pra tentar forrar o chão de modo a ficar mais macio.

- Sério isso? - Disse a detetive
- Olha, eu só tenho um colchão que eu dei pra Bibi. É isso ou o chão, porra. - Sofia respondeu.
- Tá bom. Pelo menos tá calor eu certamente não vou precisar me cobrir. - Disse Flambarda, se deitando sobre o improviso.
- Boa noite. - Sua amiga desejou, deitada na cama, virada pro outro lado.
- Boa noite. - Ela bufou mas retribuiu.
- Boa noite. - Gritou Bibi lá da sala, ironizando as duas.

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