domingo, 23 de fevereiro de 2025

Flambarda - A Detetive Elemental #91

Flambarda acordou pouco antes das 9:00. Ela ficou alguns minutos a mais olhando para o alto vendo as energias passeando pelo teto  e pensando no que está faltando. O que será que Fernanda sabe? O que será que Rain sabe? Qual é a verdadeira extensão de seus poderes como líderes de facções que operam nas sombras, mas bem embaixo de nossos narizes? Soltou então um suspiro, relativamente desamparada. Rolou para fora da cama, pegou algumas roupas e se deslocou até o banheiro vagarosamente. Ela fez o seu xixi enquanto bocejava e matutava a respeito do que estava acontecendo, ainda sem sucesso, e prosseguiu para colocar as roupas para se sentar à mesa da cozinha.

Jéssica, já tinha preparado a mesa, e tinha até se adiantado e servido a tigela de cereais que a sua filha geralmente come enquanto a TV, ligada na rede globo, transmitia o clássico programa da Ana Maria Braga. A mãe da detetive então se sentou a mesa e passou a fazer um sanduíche com pão francês enquanto se preparava para começar um diálogo.

- Não sabia que você gostava de vestido. - Jéssica provocou
- Que? - Flambarda ainda estava acordando.
- Eu não sabia que você gostava de usar vestido. Só vejo você andando de camisa e calça por aí.
- Que que cê tá falando, mãe?
- Da buceta do vestido que tá no chão do seu quarto. Porra. - A mãe perdeu um pouco da paciência.
- Ah. Desculpa.
- Hm. E qual é a do vestido.
- Bem... - A detetive estava pensando na melhor forma de explicar para a mãe. - Duas coisas. Foi um presente, e eu preciso disso pra trabalhar.
- Filha...
- Que foi? - Ela disse com a boca cheia.
- Você virou puta?

Naturalmente, antes de falar qualquer coisa, Flambarda cuspiu sucrilhos e leite pra tudo quanto é lado numa mistura de espanto com riso.

- Tá doida.. - *cof cof* - ...mãe!? - *cof cof* - aaaaaaaaai... me dá água! por favor! - ela se escangalhava de rir enquanto tentava pegar um copo d'água. - ai, porra...
- Não, porra! - Jéssica ficou visivelmente nervosa. - To falando sério, caralho! Eu me esforçando pra caralho e você dando o cu por aí!? Tá precisando tanto assim de dinheiro!?
- Puta que pariu, mãe! Cê acha que eu, com esse meu jeitinho lindo de cavala, vou conseguir ser puta!? - Ela sabia que não era impossível, mas tava tentando convencer a mãe.
- Quanto é que tão te pagando!?
- Mãe! Eu não virei puta!
- Diz logo!
- Caralhooooooooooooooooooo. Mãe! - A detetive colocou as mãos no rosto de sua mãe pra olharem fundo nos olhos uma da outra. - Eu... Não... Virei... Puta!
- Então, que porra é essa!?
- Eu posso te contar a merda toda que você vai continuar não acreditando! - Flambarda finalmente se sentou de volta na cadeira.
- Tenta, pelo menos! - Sua mãe desafiou.
- Vou resumir, beleza? - Ela ia comendo e falando de boca cheia.
- Vai.
- Eu to investigando um evento sobrenatural em uma casa de swing.
- Ué? É isso?
- É.
- E precisava se vestir assim.
- Uhum.

Ficou um silêncio temporário. Elas olharam para a cara uma da outra como se estivessem se confrontando, e então o semblannte de Flambarda mudou para um de confusão

- Que foi? - Jéssica perguntou.
- Sério que você acredita nisso?
- Você esqueceu com quem eu casei, né?
- Caralho... É mesmo... - Flambarda colocou os cotovelos na mesa e esfregou os olhos, relativamente decepcionada consigo mesma.
- Mais tranquila?
- Definitivamente não. - Ela disse levando a louça para a pia.
- Por que?
- Porque eu não achei muita coisa! O mistério continua! As peças não encaixam! E ao invés de querer ter uma vida normal eu quero saber o desfecho dessa merda! Parece até que tem alguém escrevendo a minha história e essa pessoa parece que tá de sacanagem com a minha cara! - A detetive cruzou os braços, olhando pra mãe, meio incrédula.
- É... Realmente...
- Eu vou jogar The Sims que pelo menos eu finjo que to no controle de alguma vida.

Flambarda entrou no quarto, ligou o computador e aproveitou o tempo de boot pra se esticar e arrumar a mochila pras aulas. Enquanto isso, a sua mente não parava de pensar no caso, o que reduziu consideravelmente a velocidade com a qual ela fazia qualquer tarefa.

"Vamo lá. O que que tá faltando? Eu to investigando um cara que era pra ser pelo menos colega da Fernanda, que é a pica grossa dos arcanistas. Esse cara tem uma casa de swing e contrata uns druidas pra ficar influenciando a casa de swing e as pessoas se pegarem e consumirem mais, o que é muito esperto porque assim ele certamente vai ganhar mais dinheiro. Pelo que eu conversei com o Elimar, o desequilíbrio em um lugar causa desequilíbrio em outro para contrabalancear, ok, mas pela minha experiência, quando tem muita gente brincando com essas merdas pra lá e pra cá. Aparece uns bicho do capeta. E eu vi mais de uma vez essas porras aparecendo lá na área daquela vaca da Sofia. Agora, pra que o cara iria em São Conrado? Não era pra eles estarem aqui pra resolver o problema? E o que que tem em São Conrado além da Rocinha?"

"Ah! Aqui! Deixa eu brincar um pouquinho com a Ava Gabun da Sicilia" - A detetive nomeou a Sim com toda a maturidade de uma adolescente de 12 anos, mas quem nunca, né? Por alguns instantes ela imaginou como a vida poderia ser muito melhor se ela pudesse continuar controlando a Ava Gabun da Sicilia que estava se tornando uma grande jornalista, e que ainda arruma tempo pra dar em cima de todos os homens da cidade - alguns criados por ela, e tudo homem gato, por sinal. - Infelizmente a vida real não é assim. E ela ficou ali até a hora de ir pra faculdade.

Pegar o metrô passou a se tornar uma espécie de gatilho de ansiedade, porque - desde que ela pegou essa bendita luva - acontece alguma coisa estranha no trem. - "Apesar de que, Rodney - teoricamente - saiu do hospital, e por alguma razão maluca resolveu pegar um ônibus daquela área pra Barra. Vai pegar aquela porra da Oscar Niemeyer que sempre fica engarrafada, passar ali na frente da Rocinha e... Puta merda." - Teoricamente eram duas informações completamente desconexas, mas parecia ser coincidência demais, afinal ninguém tinha qualquer evidência que Rodney realmente estava em São Conrado, mas talvez alguém pudesse ter. Ela sacou o celular da mochila e começou a conversa com quem teoricamente era colega de trabalho.

Flambarda: Japa. Ta aí?
Shou: Que foi?
Flambarda: Conseguiu alguma pista nova do Rodney?
Shou: Olha...
Shou: Pra te falar a verdade, tem sim
Flambarda: Fala então, né?
Flambarda: Porra
Shou: Então
Shou: Parece que ele tá ali em São Conrado.
Flambarda: Tá de sacanagem
Shou: Não, po.
Shou: A gente triangulou o sinal do celular dele.

O túnel fez a conexão cair. Então ela ia precisar esperar, mas parece que o palpite estava certo. - "Aquele filho da puta foi pra lá! Só falta saber porquê. Provavelmente foi tomar no cu, porque no final das conta sempre dá merda quando ele tá por perto."

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