quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Flambarda - A Detetive Elemental #87

"Eu vi! Quando ele manipulou a água, ele estava manipulando aquelas malditas fagulhas azuis! Será que aquela tabela maluca tá errada? Realmente tem cinco cores, que corresponderiam aos cinco elementos. Eu não to conseguindo prestar atenção na aula porque isso aqui é muito mais legal! Que merda! Eu vou tentar voltar agora que a cabeça tá mais fresca. Vamo ver se agora vai. Claro, depois do xixi."

Flambarda foi ao banheiro, rolou o feed do insta e do facebook, nada de muito interessante. É claro, tava na hora de aula. Ela resolveu ver o site da casa de swing do Entrenós. Nada interessante, talvez seja melhor assim porque o Entrenós talvez não esteja no lugar, ou o lugar não esteja tão ocupado. Depois de terminar de fazer o que tinha que fazer, apesar de não ter terminado sua pesquisa, voltou a aula chata. As coisas pareciam não ter andado nada e ao mesmo tempo andou o suficiente para que ela não entendesse mais nada. Ela tentou então focar em aprender o que dava e depois recorrer a Sofia, como geralmente acontecia.

Fim da segunda aula. Já eram 17:00. A detetive não queria perder muito tempo indo pra casa e tal, mas provavelmente o bendito estabelecimento só ia abrir lá pra mais tarde. Ela precisava de alguma coisa que fizesse mais sentido, e lembrou daquele vestido amarelo e da meia arrastão que a Fernanda comprou pra ela na ocasião anterior. Era estranho porque, ao mesmo tempo que era tentador, ela lembrava do quão estranho era porque nunca usou nada parecido na vida. Quer dizer, usou uma vez, e as lembranças não foram muito boas. Em contrapartida, talvez ela não tivesse outras oportunidades de usar essa peça singela que obtia facilmente espaço de destaque em meio a todas as suas camisas vermelhas e calças jeans. Pra felicidade dela, sua mãe já havia lavado e passado, então era só correr pro abraço.

Ela tomou um banho antes, passou o desodorante, se depilou o que deu, principalmente axila, então ficou faltando algumas partes, e foi avisar a sua mãe que ia sair.

- To saindo mãe.
- E vai onde assim?
- Olha, se eu te falar você não acredita.
- Acredito.
- Numa casa de Swing.
- Ué? - Jéssica parecia um pouco confusa. - Mas você não tem nem peguete. Vai fazer o que lá?
- Preciso encontrar uma pessoa.
- Então você tem um peguete?
- Mais ou menos.
- Que história enrolada. Só toma cuidado. Não bebe do copo de ninguém. Fica sempre de olho no seu.
- Pode deixar, mãe.
- Tá levando camisinha?
- Mãe!
- Tem que levar! Esses homens aí de hoje em dia só querem meter. Se passar DST, foda-se.
- Olha. Você tá certa. Eu vou passar na farmácia antes.
- E compra KY.
- Tchau, mãe! - E assim a detetive saiu batendo a porta pra evitar maiores constrangimentos.

A mochila era extremamente destoante do conjunto dela, mas ela não estava muito preocupada com isso. De fato, o vestido amarelo com a meia arrastão dá um charme. Flambarda botou um shortinho por baixo na intenção de ser mais pudica, o que era quase que completamente contraditório com o ambiente onde ia, mas assim foi feito, talvez por costume, talvez por medo, talvez por pudor. Ela descartou o salto alto e foi de tênis mesmo. Sua indumentária faria qualquer estudante de moda chorar, mas sua confiança parecia inabalável, e a redução da cólica certamente contribuiu para isso.

A detetive entrou na estação de Saens Peña, e certamente chamava a atenção. emanando, a partir de si, auras vermelhas e verdes, que passeavam por outras pessoas que retribuiam com olhares, quase como se sua mera passagem pelo local influenciasse o fluxo de energia, dispersando temporariamente as fagulhas azuis e brancas, e trazendo até algumas dessas para si. A luva em sua mão direita também chamava bastante atenção, e fazia uma pergunta pairar em sua mente: "Será que as pessoas esqueceram a manchete que deu na TV?" No final das contas, era um charme a mais, ou talvez mais uma coisa pra bagunçar o seu visual.

Flambarda pegou o celular da mochila. É claro que tinha mensagens das suas amigas, mas o foco era verificar mensagens de Japa e de Fernanda. Eles tinham a informação mais privilegiada até então, mas infelizmente não havia nada de novo, a investigação continua de onde parou, o que não é uma coisa muito boa. Ela não conseguiu juntar nenhuma informação de fora. Não que tivesse tentado ou sequer tivesse tido interesse, mas não dá pra ir contra o fato, e novamente iria do jeito que estava mais acostumada, com a cara, com a coragem, e com o cu na mão.

No caminho para perto da boate, a jovem prestava atenção nas fagulhas luminosas amarelas, brancas ou azuis que circulavam, e conforme se aproximava, as fagulhas vermelhas ou verde se intensificavam. - "Se eu entendi aquela coisa do jeito certo. Isso quer dizer que naquele ponto as pessoas vão estar mais pré-dispostas, e vão até fazer melhor tudo aquilo que tem a ver com madeira e fogo. Só tem um problema, eu não consigo lembrar a porra da tabela, e eu não quero ficar puxando o celular. Merda! Bom, acho que eu pelo menos tenho uma vantagem" - Ela olhou pensativa pra luva ao concluir o raciocínio. Ela estava na porta, hesitou por um instante até que entrou.

"Ok, Flambarda, você já esteve aqui antes. Mais de uma vez até. Saiu viva nas duas vezes. O máximo que pode acontecer é você trepar com alguém. Que mal há nisso, né? Tem as camisinhas que eu comprei. Acho que não vou precisar de mais de um pacote." - O impacto das energias do local foram quase que imediatos, mas a detetive estava extremamente focada, e destoante do ambiente, com muito mais fagulhas azuis e brancas. Ainda assim, a música, as próprias vozes das pessoas que conversavam já eram provocantes, o suficiente para que ela deixasse de hesitar para entrar.

Eis que a jovem se senta em uma das cadeiras do bar, verifica se o cartão tá na carteira da mochila, e - para sua felicidade - está. Pedir uma cerveja não vai ser um problema. Os problemas começam quando um casal se aproxima.

- Estilo diferente. - Diz uma mulher mascarada, vestida com um belo vestido verde cortado, expondo sua perna esquerda. - Eu gosto.
- Isso por acaso é uma cantada? - Flambarda responde, um pouco escaldada, mas tentando ainda deixar uma entonação leve na sua voz. Ao mesmo tempo sem fazer contato visual.
- Você gostou dela, amor? - O homem, que visivelmente fazia par com a mulher de vestido verde, perguntou.
- Eu gostei. - Ela se senta do lado da detetive conforme fala. - Parece um espécime raro.
- Definitivamente. - Flambarda responde bebendo um gole da cerveja.
- O seu estilo é intrigante. Dá vontade de conhecer.
- Você realmente acha uma boa idéia me conhecer?
- Você por acaso é uma criminosa?
- E se eu fosse?
- Bom, seria uma criminosa bem sensual.
- E qual crime você cometeu? - Perguntou o homem.
- Botei uma luva na minha mão e minha vida virou de cabeça pra baixo. - Flambarda respondeu
- É uma luva amaldiçoada? - A mulher indagou.
- Totalmente. Só tomei no cu desde que eu vesti essa porra.
- Então você se deu bem. Eu adoro levar no cuzinho.
- Quem me dera fosse desse jeito.
- Eu to curiosa pra saber como é receber uma punheta com essa luva.
- Poxa, foi mal, mas eu não curto... - Então ela se tocou. - Pera, você disse punheta?
- É.
- Desculpa, eu... - Flambarda não sabia exatamente o que dizer.
- Pode ser sincera.
- Eu nunca lidei com esse tipo de situação. - E assim a detetive foi. Parecia ser a coisa mais certa a se fazer. - E eu não quero ser desrespeitosa nem nada, mas eu não sei se eu to pronta.
- Direta e reta. - Disse o homem.
- É. - A mulher concordou. - Só que isso é muito melhor do que aquelas pessoas que dizem topar mas no final não me aproveitam. - Ela se virou para o bar. - Um Sex on The Beach, por favor.
- Escuta. - Flambarda chamou a atenção dos dois enquanto dava as costas para o bar e observava as outras pessoas. - Vocês não acham esse lugar meio estranho?
- Não. - Ele falou primeiro.
- Acho um pouco sim. - Disse a mascarada. - Ás vezes eu acho que tem alguma coisa errada, mas eu não consigo dizer o que é.
- Também acho. - Concordou a detetive.
- Mas então por que você tá aqui? - Ele perguntou
- Estou tentando responder algumas perguntas.
- Quais perguntas?
- O que você sabe de filosofia chinesa.
- Acho que nada.
- Filosofia chinesa numa casa de swing? Hahahahaha! Isso não faz sentido nenhum!
- Pra você ver como a vida não faz sentido.

Um silêncio se fez entre eles, até que a mascarada o quebrou. Passando um cartãozinho com um número de telefone.

- Liga pra gente quando você se decidir.

Se levantaram e foram em direção a outra pessoa.

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