Flambarda sabia que Rain não era burro e que, conhecendo diversos druidas, provavelmente teria pessoas explorando determinadas coisas, especialmente porque Fernanda provavelmente não interviria. Um ônibus pra Barra também não significa muita coisa porque ele poderia descer em qualquer ponto entre a zona sul e a Barra. Infelizmente ele vai ter que esperar um pouco porque tem muitas coisas acontecendo, e se ela desse mole, ia acabar reprovando nas matérias.
Elas se encontraram então na faculdade, com suas saudações habituais, e foram pra primeira aula. Tudo normal, mas durante o intervalo entre aulas, elas foram abordadas inesperadamente.
- Oi. - A voz era masculina e elas naturalmente se viraram para saber quem era.
- Ah, oi Japa. - Fabiana respondeu primeiro, conforme pararam e se viraram.
- Talvez nós vamos nos falar um pouco mais.
- Parece que nossas vidas se cruzaram. - Sofia ponderou.
- E pelo visto não tinha como não ser. - Flambarda reclamou.
- Estava escrito nas estrelas? - Shou continuou.
- Não enrola, Shou.
- Mas eu não tenho muito mais pra falar.
- Nem sobre o Entrenós?
- Você ainda tá nessa, Flam? - Bibi perguntou.
- Pois é. Eu não saí.
- Não sabia que você era tão safada. - Sofia provocou.
- Pra você ver o que uma mulher com tesão não faz. - A detetive retrucou.
- É melhor você segurar esse tesão. - Shou começou. - Esse cara não parece brincar em serviço.
- Como assim, Japa? - Fabiana indagou.
- Pelas minhas pesquisas, esse cara derrubou todos os arcanistas e druidas que tentaram investigar a questão.
- Caralho. Como assim?
- Olha, a gente discute depois, porque a aula vai começar. - Flambarda tentou cortar o assunto e levar a galera pra sala de aula.
- Ela tá certa. - Sofia concordou e passou a andar na mesma direção
Meio que funcionou. Ela não esperava que ia ser tão efetivo, mas ela sabia que ter essa conversa na frente de Sofia e Fabiana ia gerar um problema. Ela não precisa que suas amigas estejam preocupadas e queiram se jogar no meio do fogo cruzado numa tentativa louca de salvá-la. Tudo bem que o gesto é lindo, mas a detetive estava tentando ser prática. Rodney fora da jogada já é um problema. Se uma das duas estiver fora, ela não sabe como ela vai fazer qualquer coisa pro resto da vida. Prestar atenção na aula se tornou extremamente difícil porque não bastava as luzes e as dúvidas sobre esse mundo paralelo, ainda tinha muitos mistérios para serem resolvidos.
Só que essa preocupação estava estampada no rosto da jovem. Sofia estava sentada ao lado e pode ver isso, mas Bibi estava sentada atrás da detetive, com Shou fechando uma espécie de quadrado.
- Ei, Japa. - Fabiana engajou uma coversa em voz baixa pra prejudicar a aula o mínimo possível.
- Oi - Ele respondeu.
- Como é que você veio parar aqui nesse curso?
- Oi?
- É. Isso aqui não tem sua cara. Por que você não tá em... sei lá... computação?
- Cê sabe que isso é meio preconceituoso né?
- Não! Eu to perguntando na moral! - Ela elevou um pouco mais a voz, e logo em seguida levou a mão a boca como uma forma de pedir desculpa.
- Sério?
- Olha só. Você saca pra caramba de computador. Isso aqui não tem nada de computador. Isso aqui é pra quem é burra igual a mim.
- Tá chamando suas amigas de burra? - Sofia deu uma risada.
- Deixa de ser escroto! Você entendeu!
- Ah. Eu tenho minhas razões.
- Ih eu hein....
"Essa vadia se diz burra, mas ela sacou que o Shou é um peixe fora d'água. Eu sei bem que esse filho da puta tá aqui por minha causa só que eu não posso explanar isso pra elas. Sofia teoricamente deveria ser a mais inteligente, mas ela provavelmente está muito mais preocupada com a aula, ou com qualquer outra coisa. Me pergunto realmente o que se passa na cabeça dela. E ainda tem essas merdas dessas luzes. Tem branco em tudo quanto é lugar mas eu olho pra mim e só tem verde e vermelho. Será que tem alguma coisa errada comigo?"
Flambarda se levantou e foi ao banheiro. Ela estava meio perdida, até que esbarrou com Xiao no pátio, fazendo com que ele caísse no chão e ela deu uma cambaleada mas se manteve em pé, mas o impacto parece tê-la acordado de seu transe. Ao perceber que o jovem estava no chão, até um pouco impressionado pela dureza dela, a detetive se apressou para auxiliá-lo a levantar ao mesmo tempo que deixava escapar uma pequena expressão de surpresa - "Ah!" - Curiosamente, nenhum dos dois estava carregando qualquer material escolar. Provavelmente porque ambos tinham objetivos completamente diferentes de assistir a aula. Eis que ela teve uma idéia completamente mirabolante.
- Xiao. - Disse a jovem se virando a ele. Logo após ele se passar por ela.
- Oi. - Ele respondeu e se virou.
- Você é um druida, né?
- Sim.
- Você sabe manipular água?
- Ué? Como assim? Você quer aprender a manipular água?
- Ah! Tanto faz! Só me mostra como você faz!
- Bom, não é como se eu controlasse a água efetivamente.
- Tá. Só me mostra como você manipula essa energia.
- Tá bom. Presta atenção.
O druida tinha treinamento, e era capaz de manipular exatamente esse tipo de energia. A jovem, em contra partida, via luzes azuis se concentrando ao redor de suas mãos. - "Ué, não era pra ser preto?" - Além disso, ele fazia alguns movimentos bem curiosos. - "Que porra de arte marcial é essa?"
- Que que você quer que eu faça com isso? - Xiao perguntou
- Sei lá, o que você consegue fazer?
- Eu não quero jogar água nesse ambiente. Não é uma boa idéia.
- Então, sei lá. Enfia no cu? - Ela realmente não sabia o que dizer e a acidez falou mais alto.
- Cê tá de sacanagem. - Ele cessou os movimentos e de repente as fagulhas azuis correram para longe dele.
- Assim... - Flambarda não sabia exatamente o que dizer. Ela não estava de sacanagem. - Eu queria tirar uma dúvida.
- Ah, vai tomar no cu. Podia só ter perguntado.
- Acho que você não ia conseguir me responder.
- Tá me chamando de burro?
- Então tá, oooo sabichão. Qual é a cor da água no Wu Xing?
- Essa é fácil. Preto.
- Então porque eu não vejo fagulhas pretas com essa porra desses olhos do caralho da puta que pariu?
- Eeeeeerrrrmmm... - Ele realmente não sabia responder.
- Então. Você já tirou minha dúvida.
- Pera!? Você enxerga os elementos?
- Sim.
- Caralho!
- Você quis dizer, "que merda!"
- Não! Eu disse "caralho"!
- Só que eu só tenho buceta.
- Ah, porra, não dá pra conversar contigo.
- Eu sei.
Flambarda segurou Xiao pelos ombros, deu um grande suspiro e disse - "Valeu" - deu duas batidinhas em seus braços, e se virou porque precisava voltar a aula, ela já havia gasto tempo demais.
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