Eu não sou filósofo. Não sou formado em filosofia, mas escutar os intelectuais e pensadores dos campos políticos tem me desviado cada vez mais para escutar pessoas que são filósofas de fato. No meu caso, Pedro Ivo (ateuinforma), Daniel Cidade (Iluminismo Pós-Moderno), e Marcela Sperandio (Diotima Perplexa). Só que como eu não tenho o pano de fundo da filosofia, as correlações que eu faço são com raciocíonios que eu escutei em outros momentos da minha vida, e também com o momento atual. Os pensadores de esquerda são, em sua grande maioria, historiadores, e a forma que eu enxergo história hoje é totalmente da forma que eu enxergava no passado. Parafraseando Ian Neves: "A gente estuda história pra entender o presente porque ele está imbuído de passado."
Da mesma forma, Jana Viscardi mudou a minha forma de enxergar linguística e linguagem de forma geral. O deGrasse Tyson falando sobre física é fascinante. Pirulla, Emílio Garcia, Mila Massuda, Ramylly Myrna, falando sobre biologia fazem o assunto render com uma facilidade enorme. Alexandre Linck (Quadrinhos na Sarjeta) analisando obras de entretenimento é incrível. Tem muita coisa incrível a ser descoberta no mundo e essas pessoas meio que me ajudam, meio que sem saber, a descobrir que tem coisas incríveis por aí afora. Só que o que me parece é que tudo isso parece estar conectado numa coisa só, que é um emaranhado bastante complexo.
Como tudo está conectado num emaranhado só, a minha visão sobre conhecimento e ciência passou a ser muito mais holística do que era antigamente. A sociedade atual está organizada de modo a compartimentar o conhecimento em caixas que se conectam muito pouco, quando na verdade o desenvolvimento de todas essas coisas está entrelaçado. Talvez eu venha a dar um pouco mais de importância para a história porque, quanto mais eu escuto e - dessa forma - estudo, vejo que entender o processo histórico de formação de pensamento é extremamente importante. Ao mesmo tempo, vejo que jamais teremos tempo o suficiente para avançarmos no conhecimento, se estudarmos todo o histórico de formação das coisas, apesar de ser extremamente necessário e talvez não seja possível avançar o conhecimento sem se conhecer a formação dele até aqui.
Só que eu quero ir além. O desenvolvimento de todas as coisas está conectado. Isso significa que ciência, sociedade, linguagem e arte se desenvolvem juntos. Eu não consigo imaginar uma sociedade que se desenvolve sem que as pessoas possuam uma linguagem em comum para se comunicar, até porque essa mesma linguagem certamente será um dos elementos de definição de uma dada sociedade. Não obstante é comum que um determinado povo que geralmente está em um país tenha uma linguagem que atende pelo nome desse mesmo povoado. Na Inglaterra se fala inglês, na França se fala Francês; no Japão, japonês; na China, Mandarim porque elus são diferentões.
Há também algumas coisas engraçadas que podemos observar nas linguagens. Por exemplo, os Chineses não chamam a China de China, mas a chamam de Zhong Guo. Diversos países na verdade terminam com a partículo Guo que seria algo do tipo "país".
Se uma galera começa a se juntar e a falar uma língua, é razoável dizer que essas pessoas estão formando uma sociedade, onde se usa essa determinada linguagem. Agora, nos apoiando nas questões materialistas, essa linguagem deve se desenvolver de acordo com as necessidades daquela sociedade e sob as condições materiais nas quais elas estão submetidas. Não é a toa que os povos andinos tinham um calendário específico, não é a toa que o ano novo chinês é comemorado em um período diferente do que é estabelecido como regra na sociedade que usa o calendário gregoriano.
Ok, falamos de sociedade e de linguagem. Faltam dois elementos aí, que são a ciência e as artes. Eu não vou me aprofundar, mas creio que é razoável pensar que a linguagem em uma sociedade é também uma ferramenta de transferência de informação. Para que as pessoas entendam aquilo que eu estou falando, é preciso que todas nós sejamos capazes de entender os mesmo sinais sonoros ou escritos de comunicação. Através da informação as pessoas criam conhecimento, e se termos transferência de conhecimento através dessa mesma linguagem, é também razoável dizer que essa sociedade está produzindo uma ciência.
Naturalmente é possível discutir também a definição da palavra ciência que é bastante complicada. Ao passo que algumas pessoas interpretam a ciência como o conhecimento que pode ser construído e consolidado através do método científico - método esse que pressupõe sociedade porque os testes científicos precisam ser repetidos e comprovados pelos pares - outras pessoas podem entender a ciência como a mera compreensão de uma informação, tal qual se usa e cominucação corporativo, ou em comunicação judiciária. As vezes você vai ver no e-mail algo do tipo: "Para sua ciência" Quando na verdade é apenas uma tentativa de colocar mais um assunto pra você prestar atenção.
Só que, se eu quero fazer uma análise lógica, tal qual eu aprendi estudando matemática, primeiro a gente tem que dar uma boa definição pra fechar o escopo daquilo que a gente tá falando, senão as pessoas vão pegar as definições que elas quiserem das palavras e aí você não consegue fazer uma análise. A definição geométrica de circunferência não é uma bola desenhada em um papel, e sim o conjunto de pontos equidistantes de um outro ponto chamado centro. A nossa definição de ciência aqui vai ser: O conhecimento acumulado e consolidado por uma sociedade. Ou seja, se só uma pessoa sabe que não pode comer cogumelo roxo, isso não é ciência porque isso não está difundido na sociedade onde ela vive.
É claro que o contra-argumento seria: "Você definiu ciência pra caber no seu objetivo de ligar ciência, linguagem e sociedade". Dá pra ir até além: "Você definiu o que é ciência mas não definiu o que é linguagem, nem sociedade". Se você pensou essas coisas, você está absolutamente certo. Eu estou supondo que o que é linguagem e o que é sociedade são coisas bem definidas para todes, o que não é necessariamente verdade, mas aí eu acho que eu vou ter que criar um post separado pra cada um. Além disso eu já falei de ciência antes aqui.
Na verdade eu não quero entrar em disputa pelo conceito da palavra ciência porque o que eu quero dizer é que uma dada sociedade acumula conhecimento, técnica, tecnologia, e todas essas coisas que melhoram seu entendimento do mundo e aprimoram os seus meios de sobrevivência. Creio que essas cosias se encaixam no escopo do que hoje chamamos de ciência, portanto eu creio que minha definição é razoável.
Voltando ao que importa, o que nos falta é a questão artística. Que, sabemos que está de certa forma condicionado as materialidade das condições também. Por exemplo, a existência da tinta e as formas de flora e fauna que existem nas proximidades. As pinturas rupestres em sua grande parte pareciam representar a vida das próprias pessoas que viviam naqueles lugares e até a própria grafia das letras tem um componente artístico. Não a toa a forma da grafia da comunicação é diferente entre diversos lugares. A grafia do Mandarim, do alfabeto Hiragana e dos Kanjis japoneses, e do Hangul coreano, são todas diferentes entre si, e olha que estão mais ou menos no mesmo lugar. Se você for para o oriente médio, a grafia é um bagulho ainda mais loko.
Então essas coisas estão todas juntas e misturadas. química, física, biologia, são basicamente estudos que buscam a essência das coisas. Como as coisas funcionam, como elas mudam e como elas interagem. E essas coisas não estão separadas da geografia, da sociologia e da antropologia porque, cada vez mais sabemos que nossas interações sociais desencadeiam reações nos nossos corpos, bem como nós reagimos diferente a determinadas substâncias que estão na natureza que estão distribuídas ao longo do globo terrestre onde vivemos. Compreender os fenomenos da natureza nos ajuda a planejar as cidades e as sociedades e são fenômenos que se entrelaçam com o que chamamos de "ciências naturais".
Só que o meu argumento é que não existe ciências naturais, existe apenas ciência porque está tudo conectado. Política também está conectada. Isso significa que política é ciência e ciência é política? Não, mas isso significa que ao estudar, ao buscar ciência de qualquer coisa você está também estudando um pouco de política. São duas coisas diferentes em termos de conceito porque política é sobre intermediação de conflitos e impasses, e ciência é sobre compreensão do universo. Só que se você compreende melhor o universo, você tem melhor compreensão de como intermediar conflitos para buscar uma melhor solução para todas as partes. Então fazer ciência, estudar, é um ato político também.
Então estude. Qualquer coisa. Estude. Se for numa universidade, melhor, mas se não for em uma universidade, estude também. Escute pessoas falando sobre coisas que você não sabe porque isso também é uma forma de estudar. Estudar nos torna melhores, e nos tornando melhores podemos fazer uma sociedade melhor.
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