sábado, 4 de maio de 2024

Flambarda - A Detetive Elemental #76

- Valeu, Sofia! - Flambarda gritou conforme passavam pelo portão
- Tchau Flamgata! Tchau Bibi!
- Tchau Sofia! - Bibi também se despediu.

Saíram da casa de Sofia era aproximadamente 19:00. Elas não tinham muito o que conversar porque jogaram basicamente toda a conversa fora durante o tempo que estavam na Sofia. Fizeram debates aleatórios sobre quaisquer coisas aleatórias que não chegavam em lugar nenhum. Sofia deu cantadas em Flambarda, Bibi falou besteira, elas dançaram funk, se zoaram, etc. Foram então até o metrô em silêncio, fizeram basicamente todo o processo em silêncio, mas o metrô de Flambarda passou primeiro porque por alguma razão passa mais metrô pra tijuca do que pra zona norte. Algo que elas sempre se questionaram, mas nunca descobriram exatamente a razão.

A detetive estava um pouco mais tranquila porque a dose de loucura por dia teoricamente já foi a suficiente. Uma druida gostosa que a faz questionar a sua sexualidade e a forma de ver as questões de destino e escolha, um louco que resolve brigar com ela por nenhuma razão aparente e ela acaba ganhando dele na base da força bruta, uma força que nem ela mesmo sabia que ela tinha. Muito provavelmente uma força em função da luva que começou todos esses problemas há 75 episódios atrás, mas que naquele momento se tinha uma coisa que ela era grata foi por toda a força e pela condução de Alabáreda na luta. Talvez ela não fosse capaz de vencer caso não tivesse tanto apoio, afinal de contas, até há alguns dias ela era apenas uma estudante de administração.

"E agora?" - Ela se perguntava, dentro do vagão de metrô onde os elementos viajavam junto com as pessoas boêmias que iam para mais uma noite no centro, ou com as trabalhadoras que estavam simplesmente voltando para casa depois de mais um dia de trabalho. As luzes pareciam lentas tais quais um riacho fora da cheia, mas lembrar desses elementos a faz pensar sobre o que aconteceu com Valdir. Flambarda lembra que conforme lutavam, aquelas energias saíram dele devagar, como se ele já não se importasse mais com nada, mas não conseguia se lembrar se da outra vez aconteceu algo parecido. Não estava acostumada ainda e tudo parecia bastante confuso em sua mente, porém conseguia lembrar que todos os malamorfos que encontrou foram a noite, e eram criaturas sem quaisquer elementos em seu corpo. - "Talvez o Valdir se torne um bicho daqueles, mas se há druidas em todos os lugares, eles só não dizem quem são, alguém vai salvar ele, certo?"

Pensar dessa forma fazia a detetive acalmar seu coração. Ela executou um malamorfo antes, e não queria executar de novo. Sua mente se esforça pra lembrar que talvez ela tivesse que executá-lo ali, pois a morte é necessária para que a vida seja reciclada, só que era dificíl, especialmente quando se sabe que todo malamorfo é alguém ou algum animal. - "Mas o que é um malamorfo afinal? Eu sei só uma parte da história, o que mais essas sociedades sabem? Será que a Fernanda seria capaz de me responder? Mas eu to devendo tanto a ela, e - honestamente - tá tarde e se e ligar praquela puta é capaz dela me dar serviço. Ah, droga, talvez seja melhor eu só escutar música."

O plano daria certo se ela tivesse alguma coisa pra escutar música. Ela não trocou de celular desde o incidente na estação de metrô. Esse celular é da galera druida. Já passou da hora de trocar e talvez Fernanda pudesse ajudar - "Se ela realmente vai me dar dinheiro todo mês igual salário, talvez dê pra parcelar um celularzinho" - e talvez esse celular realmente facilite para que Druidas a encontrem. Faz sentido, mas em contra partida, ela certamente não ia querer jogar fora. - "Mas se eles podem me achar, será que o Japa consegue achar eles de volta?" - Só restava ela esperar pacientemente a chegada na Saens Peña enquanto imergia em seus próprios pensamentos.

Havia bastante coisa pra se pensar em todo esse caminho. Ela talvez tenha lido demais o material de Sofia, que parecia estar bem estruturado e bastante coisa pra se entender. Cores, elementos, se realmente as coisas seguem o Wu Xing como ela já ouviu falar algumas vezes durante esses dias, então talvez aquela papelada da Sofia estivesse certa, e essas cores representassem os elementos, mas ali naquele metrô cheio, apesar de não tão cheio, tudo era caos. Tudo bem, ela estava começando a se acostumar com isso. Talvez esse caos dessas luzes fossem uma mera representação do caos da vida dela. Talvez ela só precisasse jogar alguma coisa no computador, ou talvez só tocar um siririca mesmo. Quem sabe férias? Talvez dois dias de descanso de uma vida que passa na velocidade de uma tartaruga mas com a intensidade de um dragão.

20:35, ela chega em casa, abre a porta. Jéssica está vendo o Jornal Nacional antes da novela. Energias majoritariamente brancas e azuis fluindo por ela. - "Fim do Ciclo, descanso, Metal e Água" - Ela joga a mochila em algum canto da pequena cozinha, enche uma tigela com cereiais e leite, pega uma colher e se senta do lado de sua mãe.

- E aí? - Jéssica perguntou
- E aí? - Flambarda respondeu na mesma
- Foi legal lá?
- Assim... - A detetive tentava analisar a situação de novo - foi mais ou menos. Tiveram altos e baixos.
- Que que aconteceu?
- Essa merda dessa luva aqui fudendo a minha vida.
- É tão ruim assim?
- Porra, mãe. Eu não sei se eu já te falei que eu vejo umas luzes em tudo quanto é lugar, e as vezes aparece uns cara do nada só por causa dessa merda. A gente tava na casa da Sofia esperando o Rodney de boa, aí aparece um maluco, do nada, dizendo que deu porrada no Rodney, e que agora ia me bater.
- Caralho! Cê tá bem? - Jéssica se aproximou e começou a averiguar o estado da filha, mas ela parecia bem.
- Eu, sei lá. Eu tomei umas porradas, doeu mais na hora, mas agora não dói tanto.
- Meu Deus! Onde foi que te bateram!?
- Aqui. - Flambarda aponta pro rosto.
- Foi tudo na cara!? - Mas a cara da filha não parecia nem inchada direito.
- Relaxa, eu também dei na cara dele. Na verdade eu ganhei.
- Menos mal, mas ainda tô preocupada de você entrando em briga.
- A gente tava de boa no apartamento! Eu só fui defender minhas amigas. - Isso não era totalmente verdade.
- Bom. O que importa é que você tá bem. Vai descansar. Você precisa. Amanhã você me conta o que teve de bom.
- Eu concordo... - Disse a jovem se erguendo e indo para seu quarto.

Ela deitou, olhou para o celular primeiro vendo as notificações do Facebook. Nada de muito interessante. Muitas abobrinhas. Ela mandou mensagem no grupo de Whatsapp pra avisar que chegou em casa, que tava tudo bem e que felizmente nada caótico aconteceu do metrô até ali. Sofia e Bibi comemoraram. Considerando a loucura da vida da amiga, qualquer momento de tranquilidade é uma benção.

Mas nenhuma dessas bençãos não seria tão boa quanto a siririca antes de dormir.

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