domingo, 2 de dezembro de 2018

Flambarda - A Detetive Elemental #31

O celular apitava escandalosamente, pelo menos era assim que Flambarda escutava, porque estava no mesmo volume que ela sempre deixava, ela só não queria acordar pra lembrar que seria mais um dia maluco cheio de bizarrice. Ela só queria ficar deitada na cama de bunda pro alto sem lembrar que existia, só que pelo visto, só a Bibi já tinha ligado umas 10 vezes. Na 11a. Flambarda resolveu atender já xingando.

- Me deixa dormir, sua puta! - A voz rouca de sono combinados com mal humor temperaram a frase.
- Puta é teu futuro se tu não vier pra faculdade agora! - Bibi devolveu.
- Faculdade é o caralho! A vida não tem sentido! - Flambarda dizia enquanto esfregava a cara. - Eu quero mais é que tudo se foda!
- Se você perder essa prova, eu vou aí mesmo, queira a Sofia ou não, enfiar alguma coisa bem grande na sua bunda!
- Ótimo! E eu espero que você me rasgue logo de uma vez pra ver se eu vou embora desse mundo sem sentido!
- Quanto amor, hein? - Disse Sofia, falando por cima do ombro de Fabiana.
- Enfia o amor no cu, Sofia.
- Você vem ou não vem? - Perguntou Bibi.
- Eu vou pra essa merda. Já acordei mesmo. Se é pra se fuder, vamo se fuder direito. - Ela disse e desligou o telefone.

Pra cada fagulha luminosa que passava em sua visão, Flambarda xingava. - "Filho da puta" - Ela amaldiçoava a luva com todas as suas forças, porém, contraditoriamente, ela parou no espelho por alguns instantes e começou a falar mensagens positivas para si mesma.

"Vamo lá, Flambarda, hoje vai!"
"Hoje não vai dar ruim!"
"Você vai lá e nada vai explodir!"
"Ninguém vai querer te matar hoje!"
"Por que caralhos eu estou falando comigo mesma?" - A positividade acabou por aí.

Não tinha mais nada de positivo pra se pensar mesmo. Ela foi lá, tomou um banho nem um pouco caprichado, mas deu uma lavada de leve no cabelo e nas partes baixas, vestiu a sua roupa padrão, pegou a mochila e meteu o pé pra faculdade. Quando saiu viu que havia um bilhete na mesa, mas como estava atrasada, passou direto e não leu. Desceu de escada porque não estava com paciência pra esperar o elevador, deu um tchau bem seco pro porteiro e correu pra estação de metrô de Saens Pena. Ela olhava as fagulhas luminosas e até então não viu nenhum comportamento anormal, até que entrou na estação, de fato. Foi quando ela sentiu as suas energias formarem um escudo, igual da outra vez.

"Filho da puta... Agora eu te pego" - Pensou. Ela esqueceu completamente que estava atrasada pra prova e se virou visualizando um cara que estava fingindo mexer no celular. Ela foi até ele e, rudemente, puxou o celular pra baixo revelando o "Japa". Que tomou um susto, ao mesmo tempo que ela tomou, e tentou correr pra longe, só que Flambarda foi mais rápida e o puxou de volta derrubando no chão, fazendo o celular voar. As pessoas ao redor olhavam meio aterrorizadas e algumas passaram a ir atrás de autoridades, enquanto Flambarda o erguia do chão puxando-o pela roupa.

- Que porra é essa, Japa? - Ela falava relativamente baixo.
- O que?
- Que que você tá fazendo nessa estação, num canto aleatório.
- Uai, tava vendo meu celular enquanto não dava hora de ir pra faculdade.
- Teu cu, que tu tava vendo o celular. Anda! Desembucha! - Ela era ríspida mas ainda assim tentava controlar o tom de voz.
- Ali seu guarda! É a mulher perigosa com a luva vermelha! Prende ela! - Disse uma senhora no meio da multidão.
- Ê! Ê! Ê! "Pó pará aê!" - Gritou o agente de segurança do metrô, que era alto, pardo, forte e de cabelo raspado. - Que que ele te fez?
- Hoje? Eu não sei! Antes disso? Também não sei mas suspeito! - Flambarda respondeu.
- Essa mulher tá maluca, seu guarda. Eu tava só usando meu celular. - Japa se defendeu.
- Ei! Vocês dois vem comigo.

E o agente levou os dois para dentro daquela sala com vidros fumê. Sentou os dois em cadeiras e projetou o corpo pra fora, parece ter dito alguma coisa, esperou e voltou a inquí-los.

- Você. - Apontou pro Japa. - Cadê seu celular?
- Não tá comigo, voou da minha mão quando ela me derrubou.
- Então tá com você. - Ele disse pra Flambarda.
- Fumou é!? - Flambarda devolveu.
- Você sabe com quem tá falando!?
- Antônio. - Flambarda leu a plaquinha com o nome dele.
- Sim esse é meu nome! Mas sabe o que eu faço?
- Dúvida de mulheres que estão potencialmente sendo perseguidas! É isso que você faz!
- Eu vou revistar os dois agora! E vou começar por você, sua insolente!
- Então revista! - Flambarda levantou. - Pode revistar! Quero ver, vai fazer revista completa! - E começou a tirar a calça ali mesmo.
- Pare com isso! Isso é atentado ao pudor! - Ele tentava controlá-la, mas ela continuou fazendo e terminou de baixar as calças.
- Vai! Revista aí! - Flambarda desafiava.
- Jaqueline. - Ele chamou no rádio. - Dá um pulo aqui em cima por favor?
- O que!? Não tá bom!? Peraí! - E começou a tirar a blusa também.
- Que porra é essa!? - Disse uma mulher negra forte e alta, um pouco menor que o outro agente, mas com o cabelo de dread.
- Eu quero ser revistada! Ele falou que eu roubei o celular desse cara aqui!
- Bota a roupa logo! Anda! A gente já viu que você não tem nada.
- Ah! Obrigado! - Ela disse de forma semi-sarcástica enquanto voltava a se vestir.
- Agora você! - O agente homem disse pro Japa. - De pé que eu vou te revistar.
- Pode revistar seu guarda! - Ele se pôs de pé e levantou os braços como quem está passando pelo procedimento padrão de revista.
- Tá limpo. - Disse o homem. - Jaqueline eu vou ver as câmeras aqui, e já te chamo. - Ele falou, acompanhando a companheira a saída da sala.
- Beleza. - Ela falou, saindo. Enquanto ele trancava a porta.
- Agora deixa eu ver isso aqui.

Ele começou a ver o sistema de filmagem e viu que um celular havia realmente voado um pouco distante de onde o Japa caía no chão. Viu o momento em que Flambarda levanta o homem enquanto a multidão se forma, e vê uma outra pessoa encapuçada passar pelo celular e o mesmo sumir. E nesse momento ele toma a decisão.

- Ei, china, você ta liberado, mas eu vou com ela pra delegacia, então vem comigo se quiser prestar queixa. - Disse o agente de segurança enquanto destrancava a sala.
- Não, obrigado. - E o Japa saiu assim que a porta abriu.
- Enquanto você vem comigo pra delegacia. - Ele disse enquanto fechava a porta novamente.
- Mas eu vou perder minha prova! - Flambarda reclamou.
- Pensasse nisso antes de se tornar cúmplice de um crime.
- O que!?
- É! Uma outra pessoa pega o celular e você certamente foi quem tirou o celular do rapaz!
- E por que você acha que fui eu que tirei o celular dele!?
- Porque logo depois que ele cai e o celular voa você aparece e o impede de alcançar o celular.
- O filho da puta tava me stalkeando!
- Você vai acusá-lo mesmo!? Sem prova!?
- Eu sou a vítima e tenho que provar as coisas!?
- Vítima!? Você é cúmplice! E nós vamos agora até a delegacia resolver isso! - Ele falou se levantando.
- Tá bom! Beleza! Mais um dia em que tudo vai pelos ares! Já to fudida mesmo! Foda-se! - Ela se levantava e o seguia xingando.

O homem a algemou e eles foram andando em silêncio rumo a delegacia ali na Tijuca mesmo. Só que o oficial João prontamente a reconheceu.

- Flambarda! Tá presa porque!?
- Oi João... To presa porque esse inútil aqui livrou a cara do stalker e não a minha.
- Hmmmm... O que aconteceu?
- Tinha um cara, que até estuda na mesma faculdade que eu, chamado Shou. O puto tava na estação Saens Pena me stalkeando! Provavelmente tirando foto ou se preparando pra tirar alguma!
- Calma! Vamos achar primeiro o celular e depois vamos averiguar o que está acontecendo.
- Por favor.
- Antônio, solta ela e pode ir. Você, Flambarda, vem pra cá que a gente vai bater um papo.

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