- É melhor você ligar pro socorro ou chamar alguém. - Disse Alabáreda
- Claro!
Flambarda procurou o celular na mochila, e felizmene não foi muito difícil de achar. O sinal não estava perfeito mas havia alguma coisa e talvez fosse possível contactar o 193. O que se passava pela sua cabeça era como explicar o que diabos aconteceu ali na plataforma e como diabos o agente de segurança foi parar lá e acabou desacordando porque seria a pergunta mais natural a se fazer. Pensar que ela precisaria responder isso - e dizer a verdade provavelmente não adiantaria de muita coisa - fazia com que ela hesitasse em suas ações, mas decidiu que seu companheiro - relativamente inseparável - estava certo. Ela pensaria em alguma desculpa assim que conseguisse ajuda. O telefone chamava enquanto ela subia as escadas procurando quem pudesse auxiliá-la.
A estação parecia meio fantasma. Pra não dizer totalmente, havia uma caixa ainda pra atender quem quer que fosse, se é que apareceria alguém, e pra sua surpresa quem apareceu estava do outro lado da catraca gritando.
- AJUDA POR FAVOOOOOOR - Gritou Flambarda.
- OOOOOOOOOI!? - A mulher respondeu
- ME AJUDA!
- O QUE QUE FOI!?
- O GUARDINHA DESMAIOU!
- VIXE!
A mulher parecia estar fazendo uma série de ligações, até que alguém finalmente atendeu na ligação que estava sendo feita no celular.
- Alô? - Disse a voz do outro lado do telefone
- Oi! Eu preciso de ajuda!
- Calma, senhora. O que está acontecendo?
- Miga. - "Senhora é a puta que te pariu", a detetive pensou enquanto conversava. - Tem um guardinha desmaiado aqui na estação de metrô.
- Qual estação?
- Engenho da Rainha.
- Estamos enviando uma viatura praí agora mesmo. Não mexa nele enquanto isso, por favor.
- Tá bom. - "Tá falando meio tarde, miga."
A caixa saiu de sua posição e foi até Flambarda. Ambas pareciam ter aproximadamente a mesma idade, mas isso não importava agora. A energia azul que passeava ao longo do corpo da trabalhadora - que abria a cerca metálica para atravessar para o outro lado - estavam agitadas, apesar das energias do local parecerem bem mais equilibradas após o embate com o Malamorfo. Juntas elas andaram com um pouco mais de pressa até o corpo do homem que estava ali desacordado, vigiando sem saber exatamente o que fazer.
- Como isso aconteceu? - Veio a fatídica pergunta.
- Eu não sei. Ele veio nessa direção como quem não quer nada; parou ali; deu uma olhada em mim; eu olhei de volta; ele disfarçou; olhou prum lado; olhou pro outro; começou a tombar e caiu de cara no chão.
- Você virou ele?
- Virei! Eu não conseguia ver o pulso, mas eu escutei o coração batendo.
- Puta merda. Não era pra ter virado.
- Desculpa! Eu não sabia que não era pra mexer!
- Tá. Tá. Vamo tentar não mexer mais, deve estar vindo outro guarda ali de Tomaz Coelho.
- Eu liguei pro 193.
- Ótimo.
Um silenciou se instaurou por alguns segundos.
- E agora? A gente espera? - Flambarda indagou.
- É. eu já escutei sua história. Acho que vai ficar tudo bem.
- Isso quer dizer que... ? - A detetive estava se convidando a sair.
- Pode ir quando chegar o trem de Thomaz Coelho. A gente cuida disso.
- Obrigada.
- Por nada.
Mais silêncio. Demorou um pouco até o metrô chegar. Flambarda embarcou, e viu as portas se fecharem enquanto a caixa acenava, provavelmente para o agente de segurança que devia estar desembarcando através de outro vagão. A condução atual realmente demorou bastante, e as poucas pessoas do lado de dentro comentavam várias coisas entre si. Não pareciam fazer muita questão de não serem ouvidas, mas as conversas não se cruzavam. Era possível saber que estavam discutindo sobre o motivo do trem ter ficado parado tanto tempo na estação antes da anterior, especialmente porque não parecia haver nada de errado ali.
Ja ela, sabia exatamente o que aconteceu. O fato de ter a luva de fogo faz com que seu corpo responda muito melhor a tudo, então o golpe que ela recebeu já doía bem menos. Ela ia ter que fazer baldeação de qualquer jeito porque ela precisava ir pra Tijuca, e estava hesitosa se deveria se deslocar pelo metrô ou se deveria só sentar a bunda em alguma cadeira e deixar o corpo descansar. Ela escolheu a segunda opção no final das contas, mas foi fortemente influenciada por um rapaz gato que entrou na estação de Inhaúma, e ela queria ficar olhando pra ele de tempos em tempos. As cadeiras ficavam de frente uma pra outra mas em lados opostos, transversais ao sentido do trem.
O cansaço já havia tomado conta de seu corpo - de certa forma - que ela simplesmente esqueceu de disfarçar e passou a olhar fixamente para o rapaz, que estava ficando visivelmente desconfortável. As energias dele se moveram quase como se estivessem tentando bloquear o olhar da detetive, algo que ela sentiu acontecer em si uma vez, mas agora ela via acontecer com outra pessoa. Ela piscou os olhos por alguns momentos, e passou a mover a cabeça lentamente olhando para as energias de diversos angulos como se estivesse estudando um objeto completamente novo. O problema é que nisso ela estava também de certa forma olhando para o homem, e o desconforto chegou em um ponto onde ele decidiu se levantar e ir para mais longe.
"Droga. Eu acho que eu tava começando a entender e ele vai embora..."
Então, dentro da estação de Estácio, no momento de fazer a baldeação, o celular de Flambarda tocou. Era Fabiana.
- Flam!? - Bibi parecia preocupada do outro lado
- Oi, Bibi. - A detetive ainda estava impactada por tudo o que havia acontecido.
- Eu preciso da sua ajuda.
- O que foi?
- Sequestraram o Rod.
- Caralho! - "Puta que pariu, Rodney..." - Como é que você sabe disso?
- Me ligaram do celular dele.
- Tá. Eu preciso de um instante pra pensar.
- Flam! Me ajuda!
- Eu vou! Mas eu preciso desligar! Eu já te ligo de volta!
"Caralho! Eu vou matar aquele filho da puta! É incrível como sempre dá merda com ele! É IN-CRÍ-VEL!" - Flambarda na verdade estava falando isso em voz alta no meio da estação tentando se acalmar enquanto pensava no próximo curso de ação. Ela pensou em ligar pra Fernanda, talvez ela conseguisse apoiar e resolver a treta. Pensou em ligar pra Sofia pra ter alguém com alguma consciência falando alguma coisa, mas talvez Bibi já estivesse no telefone com ela. A detetive passou o olho na lista de contatos, e lá estava, quase como se fosse uma espécie de sincronicidade. Ela seleciona o nome; o número; faz a chamada; e uma pessoa atende.
- Criança! Quem diria!? - Rain respondeu.
- Cala a boca, velho!
- Já vindo com etarismo?
- Aaaaaah! Pro caralho com essa porra! Escuta aqui! O Rodney foi sequestrado!
- Oras. O Rodney?
- É! Eu pensei que talvez você quisesse saber disso porque eu sei o quanto ele é importante pra você.
- O que é que você sabe, Flambarda? - O tom de voz de Rain mudou severamente.
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