Acho que todo mundo já leu em algum lugar que "evidências da psicologia mostram que nós nos achamos mais bonites do que realmente somos." Por um momento eu até achei que era verdade, e que a gente se acha isso tudo mesmo, mas eu nunca me achei isso tudo quando eu mesme me olhava no espelho. Eu olho pra maioria das pessoas que estão a minha volta reclamando do quanto elas não gostam de alguma coisa de seus corpos ou de suas aparências e de como elas conseguem apreciar muito mais quem está por perto do que apreciam a si, e essas coisas nunca bateram, mas talvez fosse o meu grupo. Só que hoje eu resolvi desafiar: "Será que a gente realmente acha que a gente é tão bele assim?"
Eu acho que eu leio isso antes de 2013 mas a fonte mais fácil que eu consegui encontrar foi essa que tem uma metodologia pra lá de questionável. Outras metodologias de pesquisa mostram que outras pessoas nos enxergam como se fossem muito mais belas daquilo que a gente realmente acha. Só que beleza é uma coisa bastante subjetiva, apesar de ser, em certa medida, construída. A nossa noção de beleza está muito ligada ao eurocentrismo porque é exatamente isso que é retratado na maioria das mídias como aquilo que é atraente ao protagonista homem. A padronização do aceitável, ou atrativo, também aparece com diversos outros temas da sociedade como também as idéias políticas que devem ser mais aceitas.
Só que, algumas coisas me deixam com a pulga atrás da orelha. A gente sabe que em caso de despressurização no avião, a máscara de gás vai primeiro na gente, e depois em quem estiver do seu lado. A razão é direta: Se você não estiver em boas condições, você não vai conseguir ajudar quem estiver perto. Isso é válido para outras coisas da vida. Não dá pra dar esmola se você não tem dinheiro sobressalente para tal. O papo da máscara de gás funciona até se a pessoa ao seu lado for mais desenrolada que você, porque, se for o caso, ela vai colocar a máscara dela primeiro e você nem vai precisar se preocupar com isso. Ainda assim a gente se desdobra pra dar um jeito de ajudar quem precisa.
Eu tenho duas hipóteses e ambas vão aparecer na sequência, mas você vai cair no bait?
Não Há Individualidade sem Coletivo
Um homem de pão-de-ló mora numa casa de pão-de-ló. Ele entra em desespero porque não sabe se ele é feito de casa ou se a casa é feita de corpos.
Eu nunca li Marx nem Hegel, então eu não posso falar com propriedade sobre dialética. Se você quiser entender isso melhor, ou até apontar os erros aqui, você é livre pra ler Hegel, ou falar nos comentários, entrar em contato comigo, me xingar no bluesky, ou qualquer coisa do tipo. O que eu entendo é que, as coisas são definidas através de oposição. A gente sabe que uma coisa é quente quando tem outra coisa fria. A gente sabe que uma coisa é grande quando tem outra coisa pequena. - Isso tudo pode ser jogado fora se você for na essencia que tudo é atomo, e só importa a configuração, mas aí é uma forma meio foda-se de enxergar o mundo, que é totalmente diferente de tudo aquilo que a gente vê, faz, ou organiza. - A gente sabe que uma coisa é antiga quando tem outra coisa nova. Essa é uma forma, não a única de ver o mundo, que é muito interessante. Se você não entendeu, mas é bom de inglês eu vou deixar essa pedrada fortíssima aqui.
Claro, não precisa ser exatamente opostos. Existirem coisas diferentes é extremamente útil pra que a gente consiga entendê-las melhor porque a gente entende muito mais por comparação do que qualquer outro método. Isso acontece quando você tá testando um software - Esse caso de teste não funciona? Pega outro pra comparar - provando cafés; vestindo roupas; e muitos outros casos. Isso acontece até mesmo com o nosso individualismo e a sociedade. Se não há sociedade, então é difícil dizer o que a gente é como indivíduo. Quando há uma sociedade, a gente consegue dizer que temos alguma individualidade porque a gente não é o outro. O Normose dá uma pincelada sobre isso com um pouco mais de conceito, mas eu não quero por outro vídeo aqui senão essa porra vai ficar horrível de ler. Talvez eu coloque depois.
Nós, como seres humanos, vemos esse caos da natureza, e tentamos dar ordem a isso gerando alguma espécie de entendimento. Como estamos dentro dessa mesma natureza, então é natural - não sei se é natural, mas não queria perder a repetição. - que queiramos nos entender também pra tentar colocar ordem na bagunça que nós somos. Entendo como funciona o nosso corpo nos ajuda a sobreviver na medida que nos permite entender que pode ser desenvolvido através de exercícios, e quais são os limites que podemos atingir, bem como quais comidas podemos comer e quais não podemos. Entender a alimentação nos pemite desenvolver hábitos mais saudáveis que nos tornem mais resistentes.
A compreensão do mundo, que não é exclusividade humana, é chave para a continuidade da espécie. Outros animais também tem alguma compreensão do mundo a sua volta e interagem com ele de forma racional. Quem nunca viu um pet pedindo comida? Claro que há limites e nós, pelo menos até onde temos documentado, somos a única espécie que realmente leva o raciocínio e expande suas fronteiras de forma significativa.
Isso tudo não é novo. Não haver individualidade sem coletivo é só consequencia da forma dialética de enxergar as coisas..A minha hipótese é que nós fomentamos a sociedade e portanto nos importamos com a vida das outras pessoas, as vezes até mais do que a nossa, porque a existência das outras pessoas é importante pra gente, por conta de uma série de fatores. Um desses muitos fatores é o fato de precisarmos da sociedade e da diversidade para nos entendermos como parte importante dela, e indo além, como parte desejada. Nós nos julgarmos pelos nossos valores é muito fácil, mas quando somos desejades, por outras pessoas que tem seus próprios critérios, aí a coisa muda de figura.
Isso tem relação direta com a sobrevivência porque, se a nossa existência depende da nossa vida em sociedade - e realmente o homo sapiens não é das espécies melhor agraciadas pelos dotes físicos, precisando da sociedade para somar forças - então ser desejade vai fazer com que o grupo se mobilize para te priorizar no sentido carnal da coisa: Se X é a pessoa mais importante, então bora procriar com X pra que nosses filhes sejam tão desejades quanto, e assim possam ter maiores chances de sobrevivência.
Então o que me parece é que o nosso movimento mais esperado é darmos mais valores as outras pessoas, e não a nós mesmes. Daí algumas pessoas vendo que talvez isso não fosse a melhor das idéias, e que a gente deve se dar algum valor pela nossa própria sobrevivência, passam a advogar alguma espécie de crescimento pessoal. O que faz sentido para as pessoas menos desejadas, tanto para que elas sejam mais fortes e menos dependentes do coletivo, ou para que elas passem a ter qualidades atrativas que as atraiam de volta para o seio desse grupo.
Sabe quem falava que a gente tinha que se amar? Jesus.
A Bíblia como Manual de Sobrevivência
Um monte de gente estuda a bíblia até mesmo por uma perspectiva histórica. Em grande parte, parece ser um grande livro de ficção com um monte de lição de moral. Só que eu tenho uma hipótese - que eu já escutei em outros lugares - que esse compilado de textos auxiliaram na continuidade da espécie fornecendo algumas diretrizes importantes. A Lei de Talião já estava no código Hammurabi, e os Dez Mandamentos apareceriam como uma resposta a essa norma de conduta da sociedade, ou melhor dizendo, uma evolução no código de conduta. Apesar de poder ser também uma forma de manipular pessoas e poderes fazendo ela temer uma punição divina numa suposta vida após a morte, após quebrar algums dos mandamentos.
Há outras passagens também relativas a comida, sobre não comer carne de porco, o que era realmente complicado numa época em que a assepsia das coisas ainda não era tão bem entendida assim. Comer carne em geral devia ser um problema para nossos antepassados, apesar de sabermos que eles o faziam.
Voltando aos 10 mandamentos, existem um que é o "Não cobiçarás". Isso aqui vai indiretamente na hipótese lançada na seção anterior. Para não cobiçar aquilo que as outras pessoas tem, a gente tem que aprender a dar valor as coisas que a gente tem também. Não cobiçarás é um exercício de amor próprio. Eu vislumbro que já se sabia que existia um problema de hipervalorização daquilo que as outras pessoas tem. Em outras palavras, a grama do vizinho é sempre mais verde. Então é importante que você aprenda a se amar. Obviamente é importante que você também aprenda a se desenvolver só que essa parte não tinha nas tábuas que deram pra Moisés e que ele quebrou ao ver a galera já quebrando o primeiro mandamento na cara dura.
Jesus - que já tinha alguma influência do pensamento grego porque o Novo Testamento foi escrito nessa língua - expande o conceito de não cobiçarás para "Ame ao próximo como a ti mesmo". Naturalmente a gente pode acabar caindo na problemática de definir o que é amor - Coisa que eu já comentei por aqui - mas se o enviado de Deus tá mandando eu fazer, e eu me acho uma bosta, aí fudeu porque eu vou tratar todo mundo como eu me trato e aí vai ser um tratamento horrível. Talvez tenha alguém que realmente quer tratar as outras pessoas igual bosta mesmo - aí eu acho que é outro problema - mas pelo bem do argumento a gente vai supor que alguém realmente queira isso.
Essa pessoa que trata todo mundo como bosta porque se acha bosta, vai pelo menos sofrer bastante, uma vez que a própria sociedade vai ostracizar essa pessoa. Se você precisa des outres, e vai tratar elus como lixo, então vai tomar no cu, a gente não precisa de você aqui. Ou essa pessoa vai ceder e se amar um pouco para fazer parte da sociedade ou então ela irá fazer outra coisa em algum outro lugar. Isso pode ser um problema porque não é uma coisa muito inclusiva, mas aqui a chave é que não dá pra ser inclusivo se a própria pessoa não se pré-dispõe a se incluir na sociedade também. Há outros desafios, não é tão simples assim, mas isso certamente é um início.
O cerne é que a gente tem que se amar um pouco mais pra poder amar as outras pessoas, não que a gente tem que se amar pra cacete acima de tudo e de todes es outres. Tem que amar ao próximo também senão as coisas não funcionam. A minha hipótese é que esse tipo de coisa, por mais óbvio que pareça ser, já era ensinado há algum tempo atrás justamente porque não era óbvio! A gente tende a valorizar mais as outras pessoas não só por questões morais, mas por questões até de sobrevivência! Era necessário alguém vir e falar: Bora ter um pouquinho de amor próprio porque senão isso aqui chamado sociedade não vai funcionar.
E Quanto a Nossa Percepção de Beleza?
Se nós temos um viés pró sociedade, conforme a minha teoria foi colocada ali atrás, então faz todo o sentido que a nossa percepção de beleza seja alterada para baixo, e não para cima porque, ao entendermos as outras pessoas como mais belas, vamos passar a querer protegê-las, isso porque a nossa sobrevivência depende delas, mesmo que a nossa importância na sociedade dependa de nós sermos desejades, faz ainda mais sentido, nós termos uma percepção da nossa beleza voltada para baixo, para termos o desejo de querer melhorá-la para que sejamos de fato protegides pela sociedade também.
Os dados a princípio não dizem isso. Dizem que nós nos percebemos melhores, só que, pelo menos na forma que o artigo coloca, coisas da metodologia são mal explicadas. Quando a pessoa se reconhece em uma foto melhorada mas não se reconhece em uma foto piorada, não se diz exatamente o que foi melhorado e o que foi piorado, de modo que a foto piorada descaracterize elementos que ajudam a pessoa a se reconhecer, enquanto a foto melhorada realce esses elementos.
Além disso é possível que a gente simplesmente tenha alguma recusa a nos enxergar piores, e não que a gente realmente se veja mais atraente do que realmente somos, ou talvez expresse a nossa vontade de se nos vermos mais beles e nos agarramos a essa oportunidade. Até porque, já haviam estudos mostrando que as pessoas, em média, nos acham 20% mais atraente do que realmente somos.
Então...
Então o que nos falta é na verdade termos que ter mais senso crítico acerca de nós mesmos para que possamos reduzir nossos problemas e melhorar nossas potências, porque, os indícios mostram que geralmente fazemos o oposto.
Ah! Claro! O vídeo do Normose!
Fontes:
https://www.scientificamerican.com/article/you-are-less-beautiful-than-you-think/
https://medium.com/@1kg/are-you-truly-ugly-you-are-more-attractive-than-you-think-d155d2cfda44
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