" A palavra economia deriva do grego oikonomía : oikos - casa, moradia; e nomos - administração, organização, distribuição." - Você vai encontrar essa citação em vários lugares. Eu só coloquei "Economia etimologia" no google. A própria I.A. do Google gerou essa joça sem eu pedir, mas provavelmente copiou do ECONOTEEN que estava logo abaixo.
Eu vou falar sobre economia, mas com pouca propriedade porque eu não sou um economista. O que eu sei foi escutando outros economistas falarem sobre o assunto. Humberto Matos, Ju Furno, Andre Roncaglia, Paulo Gala...
Tá, mas o que eu prato de salada tem a ver com economia? A gente não deveria falar de dinheiro, juros, PIB, e essas coisas chatas que aparecem no jornal?
Não.
Eu fiz uma cadeira de economia na faculdade e a primeira coisa que foi feito foi cortar o papo de que economia se trata de dinheiro. Se trata de produção e distribuição de bens, se trata de quanto de tomate, quanto de alface, quanto de batata está sendo produzido e se esses produtos estão chegando para as pessoas que vão consumir. Significa também se há pessoas cozinhando esses produtos, como estão sendo cozidos e quem está comendo, e se essas pessoas estão comendo o suficiente para continuar os seus afazeres. Isso é meio complicado porque confunde um pouco com logística, quase como se fosse uma extensão da mesma. Pensando por um lado, talvez seja.
Não se trata necessariamente de justiça, apesar de ser possível de, em certa medida, usar medidas econômicas para que se execute justiça de forma um pouco mais objetiva.
Se economia se trata de produção e escoamento, então o que realmente está sendo avaliado é: O que está sendo produzido; quem está produizindo; como isso acontece; onde isso acontece; qual a finalidade da produção; o que está faltando; quem está recebendo e quem não está... Esse tipo de coisa. O dinheiro ele auxilia na compreensão da economia porque ele pode fornecer medidas de valores e daí a gente pode analisar algumas coisas a partir de uma perspectiva combinada e mais abrangente, o que é muito útil quando se está lidando com uma massa de dados muito grande.
Por exemplo, o cálculo da variação de preço é feito analisando várias mercadorias de uma vez e verificando se o preço dessas coisas inflacionou ou deflacionou. Isso permite entender a produção de forma média, mas não permite entender os mecanismos mais intrínsecos que fazem a economia funcionar a menos das características sociais e culturais que também impactam na mesma. As vezes a inflação pode estar atrelada a um aumento no custo da distribuição das mercadorias, o que encarece toda a cadeia de produção elevando o preço de vários produtos.
Só que, novamente, economia feita de forma série é uma coisa que dá trabalho porque é algo muito granular. É algo que, se não houver um controle forte daquilo que está sendo produzido e de como essas coisas estão sendo escoadas, qualquer análise feita está sendo comprometida. Monitorar as compras é uma forma de se monitorar o escoamento dos bens, mas não significa monitorar a produção, o que é extremamente importante porque existe o problema da perda desses mesmos bens. Derivar a produção através das compras feitas ao longo da cadeia de suprimentos é relativamente possível, mas é extremamente passível de erros.
Sabe quem tenta fazer isso? Say. A "Lei de Say" diz que a demanda agregada é igual a oferta agregada.
Só que isso é uma mentira porque a oferta está diretamente relacionada a produção, e não a compra. Aquantidade de batatas ofertadas não é igual a quantidade de batatas consumidas. Existem batatas que serão produzidas que não serão consumidas por ninguem, igual essas batatas aí que estão estragando na sua geladeira. Além disso, comprar não significa consumir, ok? Se você não cozinhá-las, ninguém vai comer.
Anda, vai cozinhar as batata.
A Bendita Cadeia de Suprimentos
Cadeia de suprimentos é um papo de logística, mas como eu falei, isso aqui tá conectado com a economia porque é um assunto que está ligado com o escoamento dos produtos. A gente precisa saber o que está sendo produzido e pra quem. Comida em geral é relativamente fácil de dizer porque a comida tem um destino bem definido. Destino que só não é melhor definido quando essa comida vai pra alimentar outra comida, vulgo, animais.
Quando outras pessoas consomem essa comida elas produzem outras coisas. Algumas pessoas vão produzir ferramentas que melhoram a produção de comida. O que é interessante e que vai mudar o panorama de algumas coisas. Se as coisas estão começando a se parecer com um jogo de estratégia, é porque é isso mesmo. Jogos de estratégia falam, de forma relativamente rasa, sobre economia. Sobre o uso de recursos pra melhorar a produção desses mesmos recursos, ou além, sobre o uso de um recurso pra produção de um outro recurso, tal qual você faz uma picareta de pedra pra poder mineirar ferro no Minecraft.
Ou seja, a produção das coisas está amplamente conectada. Tal qual uma teoria do caos, toda a produção e o escoamento de uma determinada coisa é impactada pelo produção e o escoamento das outras coisas. Pra produzir batata você precisa de água, e a distribuição dessa água depende da distrubuição das batatas que a galera que distribui água vai comer. Quando você começa a analisar as coisas nesse nível de granularidade os sistemas ficam incrivelmente complexos porém ficam muito mais próximos da realidade e estão lidando com aquilo que a economia tem que lidar, produção e escoamento.
Se economia é sobre isso apenas, onde é que entra o problema então? Lembra que eu falei que existe componente social na economia, e o nome desse componente é "Done do recurso". Se todo mundo come rabanete, e uma pessoa é a dona de todos os rabanetes, essa pessoa basicamente tem o poder de decidir quem vai viver e quem vai morrer. Supondo, claro, que as outras pessoas não vão se unir pra se insurgir contra ela. Ser mandatárie de um recurso, é então algo muito poderoso e é algo que não é definido naturalmente. Porque diabos o sr. Cavalier tem que ser dono de todos os tomates? Isso tem um nome, bastante conhecido: Monopólio.
Note que um monopólio não necessariamente confere poder a alguém porque o que importa mesmo é a demanda das pessoas, por mais que ela possa ser influenciada pela oferta. Se a galera precisa comer e o sr. Cavalier não quer distribuir tomate, mas a srta. Giraffe ta distribuindo batata, que se foda o Cavalier. Naturalmente, se houverem apenas tomates e batatas para se consumir, haverá uma disputa de poder entre Giraffe e Cavalier especialmente se a produção de qualquer um dos dois não for suficiente pra atender todas as bocas dessa economia hipotética local. O poder aparece apenas quando existe controle do suprimento da demanda.
Só que existem recursos estruturais que não são renováveis, e, portanto, deter o controle desses recursos é uma forma de se obter controle de cadeias produtivas. Se o petróleo movia o mundo, as pessoas que tem o controle do petróleo tem o controle das cadeias de produção. Essa é efetivamente a razão pela qual todos os países procuram ter um controle estrito sobre isso, e razão pela qual os outros países fazem toda a pressão possível para que esse recurso seja liberado da forma mais "amistosa" que se consegue, nem que pra isso seja necessário dar um golpe de estado em outro país e colocar um preposto de governo lá.
Ah, oi Netanyahu. Nem te vi aí.
Os "Problemas" da Economia
Bom, existem dois problemas da economia. O primeiro é falta de oferta, porque isso afeta a cadeia de produção das coisas. O segundo é o excesso de oferta. O que é que acontece quando você produz coisa demais?
Um agricultor que acaba tendo uma boa safra de arroz, distribui seu arroz na localidade, e ainda sobra vai tentar fazer a coisa mais normal a possível, trocar esse excedente de arroz em alguma outra coisa. Isso significa que produzir a mais era - e talvez ainda seja - bom para uma sociedade, porque vai permitir que ela faça troca com outras sociedades que possuem outras coisas de interesse e que sejam respeitadas as necessidades locais.
Através da economia podemos entender e talvez resolve o problema da escassez de recurso que foi a causa assoladora da humanidade pela maior parte do tempo. Produzir e distribuir comida sempre foi um problema até que os seres humanos tivessem algum domínio da agricultura. Não é difícil perceber também que qualquer produção tem que ir além do mínimo porque o futuro é imprevisível e portanto as safras não são determinadas. Logo é necessário imaginar uma safra maior para que, em caso de problema, o mínimo ainda esteja garantido. Se houver excedente, aí ocorre a troca. Isso fica ainda mais evidente quando se compreende as estações do ano, períodos de seca, quando determinadas plantas darão seu fruto e quando não darão. A partir daí outras questões de logística tais como a estocagem e a conservação.
Dá pra dizer então, que o excesso de oferta é um problema que é facilmente solucionado. Ou até mais, não é um problema, é de fato algo que é desejado.
Pelo que a gente colocou anteriormente dá pra notar que a falta de oferta é um problema que a gente não quer enfrentar. A gente produz em excesso pra fugir da falta de oferta porque, quando isso acontecer, vai morrer gente, vai ter conflito, vai ter guerra. Hoje a gente não chama de conflito, a gente chama de crise. Crises que geralmente resultam em conflitos na sociedade? Certamente, e isso é visível na própria realidade quando, por exemplo, os caminhões param e a gente tem um problema de abastecimento e aí as pessoas começam a se degladiar pra conseguir abastecer seus carros, estocar comida, etc. etc. etc.
Desenvolvimento Natural?
Quando a gente olha pra esse curso de ação, é de se imaginar que boa parte da tecnologia embrionária da humanidade consistira em como produzir, transportar e conservar comida. Isso é claro, estamos desconsiderando muita coisa. Homens faziam armas para caçar, coisas para vestir pra não pisar numa cobra acidentalmente, encontravam formas de se fazer uma casa, dentre diversas outras demandas. Ainda assim, comunidades se assentariam onde houvesse um rio, porque essa era a forma mais simples de se resolver a demanda da água. É muito difícil você imaginar uma cidade mais antiga que não tenha se desenvolvido ao entorno desse tipo de estrutura. Que não fosse um rio, pelo menos um lago. Exemplos não faltam, começando com alguns bem famosos:
- Londres: feita ao redor do Thames
- Paris: feita ao redor do Sena
- São Paulo: Tietê
- Rio de Janeiro: Maracanã
- Boston: Muddy e Charles
- Cairo: Nilo
- Bagdá: Tigre e Eufrates
- Kyoto: Yodo, que se ramifica no Katsura, Uji e Kizu
Existe cidade grande longe de um rio? Existe, mas é difícil. Qualquer cidade longe de um rio só pode ter nascido depois que a tecnologia de transporte de água tornou isso possível. Tem também a questão das transposições dos rios e etc.
Mas o que eu estou querendo dizer é se o desenvolvimento da agricultura de subsistência, para o modelo econômico grego, que eu não sei nem classificar, para aquilo que aconteceu no império greco-romano, e etc. até o nosso capitalismo de hoje seria uma coisa esperada. Eu sei que a história não conta a história que poderia ter sido, apenas a que foi, mas a minha pergunta é se o resultado não seria muito parecido, trocando talvez o nome das cidades e das nações. O desenvolvimento da economia levaria naturalmente ao capitalismo, e pra que lado as coisas deveriam descambar a partir daí.
Fato é que os seres humanos se expandem. Assentam-se as pessoas ao redor do rio mas se não tiver procriação, não tem continuidade da espécie e portanto não tem desenvolvimento. Conforme mais pessoas nascem, é necessário aumentar o tamanho do terreno para o plantio, até a hora que o terreno de uma galera, vai encontrar com o terreno de outro, e assim ocorrerão choques. Além dos conflitos internos que as pessoas podem ter, os conflitos entre tribos, clãs e nações serão majoritariamente disputas fundiárias. Quando a gente olha por esse prisma a expansão de nações como detemrinados impérios é inevitável.
Nações e impérios que são muito anteriores aos ditadores romanos! Os faraós egípcios lideravam uma grande nação! Alexandre veio conquistando uma galera; Gengis Khan tocou o terror na ásia; Havia o império Inca na América do Sul e os Astecas na américa do norte. O grande lance é que os império egípcio tava aí desde 2500 antes de cristo. A Babilônia tava ali entre o Tigre e o Eufrates desde 2300. Povoados cujas decisões eram centralizadas em figuras de comando tais quais Tutankamon e Nabucodonosor.
Só que eu não respondi a pergunta que eu nem fiz nos parágrafos anteriores. Por que diabos as sociedades se organizaram de forma a centralizar a tomada de decisão em alguma figura?
Entendemos que as tomadas de decisão do povo egípcio eram feitas pelo faraó, da mesma forma que a Babilônia tinha seu rei, da mesma forma que as civilizações gregas teriam seus imperadores, bem como os persas, e toda a galera bem doida. Talvez tenha sido a galera do egito que falou para os babilônios: "Faz um império. É mó legal." Também não dá pra dizer que essa galera foi até a mesoamérica pra falar a mesma coisa pros Maias muitos séculos mais tarde. Em contra-partida, a pratica da escravização de um povo perdedor de um conflito é algo que acontece parece há muito tempo. O Egito tinha escravos, que depois vão fugir para o outro lado do rio e vão se tornar os Hebreus.
Até onde eu pesquisei, o império mais antigo é o egípcio, mas isso não significa que não haviam sociedades antes disso, e o que de fato ocorreu para o nascimento desse império foi a união de duas sociedades distintas ao longo do Nilo! As aldeias ao redor do Nilo chamamos de Nomos, e, mesmo nesse estado embrionário da história, a administração delas já era centralizada em uma figura que hoje chamamos de Nomarca. A menos do nome, porque eu não colocaria a mão no fogo pra dizer que era assim que os próprios povos se denominavam, isso nos indica que a hierarquização da sociedade é algo que, se não é natural, é pelo menos intuitivo.
Porque intuitivo? Bom, nem todo mundo gosta da hierarquia ao qual está exposto, especialmente quando essa hierarquia faz questão de reduzir o seu valor e definí-lo em um patamar abaixo do valor dos criminosos. O império egípcio vai se fragmentar posteriormente, bem como outras uniões depois vão se dissociar tal qual o império bizantino.
Apesar de nem tudo ser conflito fundiário, existirem casos de servidão voluntária quando dá ruim na safra de uma família e ela precisa se juntar a outra, por exemplo, ou uniões diretas mesmo. Como podemos observar, o nascimento de uma pá de nações acontece com a união de dois ou mais povoados diferentes. Quase todos os países que conhecemos hoje tem essa característica. Se o Brasil foi descoberto em 1500, a Alemanha só iria surgir depois da guerra Franco-Prussiana de 1866. Quando Karl Marx nasceu não tinha nem Alemanha ainda, e a Revolução Francesa tinha acontecido há cerca de 20 anos.
Olhando por essa segunda perspectiva, existem muitas e mutias tribos e povos, mas a gente só lembra e só conta a história das unificações, mas pouco se fala do porque essas unificações se formavam. Afinal, porque unir os povos do baixo e do alto Nilo pra formar o Egito? O que exatamente se ganharia com isso? Seria muito fácil falar "tributação" mas pra que isso tenha surgido como uma idéia, muito provavelmente haveria de ter sido executado anteriormente pelos próprios povoados. Ou seja, o processo de pagamento de tributo pela execução de um trabalho em algum lugar já devia ser uma prática adotada. A origem da prática pode ser uma série de fatores, mas é fato que já existia. Se não foi a tributação qual seria o fator?
A Sanfona do Caos
É sanfona porque tem que ir e voltar pra continuar tocando.
O que eu estou querendo dizer é que o união e a fragmentação de nações são processos mais comuns do que a gente imagina. Quando a gente ouve falar do mapa-mundi e dos países que nele estão dispostos, parece que sempre foi assim desde o início do tempo. Talvez pra você, ó ser iluminado, não era, mas pra mim isso parecia ser verdade. Pesquisando a gente descobre que realmente não era. A gente descobre que a independência do Brasil ainda tá mais distante da gente do que o "descobrimento". Temos apenas 202 anos de independência, contra os 322 de colônia portuguesa. O surgimento dos diversos países após a fragmentação da União Soviética deve ter menos de 100 anos porque Stalin capota em 1953. Então eu chutaria que tem países ali que tem 71 anos ou menos de existência.
É importante notarmos que isso é mais comum do que se imagina, mas a gente também tem que pensar em como esses processos acontecem. As fragmentações mais recentes ocorreram após a guerra fria, como a divisão da coréia, ou um pouco mais a frente a fragmentação da Iugoslávia. Ou seja, qualquer país pode se fragmentar a qualquer momento tal qual existia um movimento separatista no Brasil que queria separar a região sul do resto. O império egípcio se fragmentou, o império bizantino também, e por aí vai, de modo que é difícil dizer que a configuração do mundo tende para o aumento dos estados ou para a fragmentação dos mesmos.
Qual é a pegadinha? A pegadinha é que nações não nascem do vácuo. Limites não são definidos a partir da iluminação divina do universo. Essas coisas são definidas por pessoas que tem determinados interesses, seja um interesse de se desfazer de uma nação opressora, seja o interesse de unir forças em prol de um bem maior. É difícil não pensar que as ofertas de unificação de povos outrora dispersos não foi feita através de um discurso de melhoria mútua, porque caso contrário as unificações seriam muito mais sangrentas pois a unica outra forma possível seria a coerção.
Mas as coisas não são tão simples. Uma vez que os povoados se erguem ao redor dos recursos, um agente externo que deseja esse recurso pode fazer acordos com outros agentes externos ou internos para tomar aquele povoado obtendo, dessa forma, o que quer que era da posse de outra sociedade. A fragmentação dos estados do oriente médio ocorre bastante por causa do interesse dos Estados Unidos em extrair o petróleo de lá. Portugal e Espanha por alguem tempo se tornaram a União Ibérica, para depois se desfazer. A Austria e a Hungria estavam juntas no Império Austro-Húngaro até a primeira guerra. A Suiça surge ali no meio da Europa por volta de 1815. Todos esses movimentos de fazer e desfazer de nações mostra que as coisas não são tão fáceis de se compreender e que existe muita história pra se estudar.
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