sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Polêmica #79 - Tolerância

Symsoup já abrindo o ano com postagem pra ver se começa com o pé direito, mas como nós somos pessoas tolerantes, fique tranquila que nós não condenaremos se você começa o seu dia com o pé esquerdo.



Mas se você começar a me encher o saco com pé direito e pé esquerdo, favor começar o seu dia quicando com a bunda no chão.

Eu vou falar de um tópico que provavelmente você já ouviu falar antes até porque ficou famoso por um tempo no Facebook e é um tópico filosófico um tanto quanto interessante que é a tolerância. A capacidade de você permitir a convivência de coisas diferentes ou até mesmo diametralmente opostas. Olhando por uma questão política, que é normal no estado polarizado em que se encontra o mundo, a base da democracia é a tolerância, permitindo que idéias diferentes coexistam.

Mas então a surge a pergunta, até onde ai a tolerância. Duas idéias diametralmente opostas podem mesmo coexistir? Vamos começar pensando que os dois pontos dessa linha, pertencem ao mesmo círculo. Então eles já meio que coexistem dentro de um objeto, bem distantes um do outro, mas coexistem. Então, pessoas homossexuais podem discutir sobre homossexualidade, bem como heterossexuais podem discutir sobre heterossexualidade e esses dois grupos podem discutir sexualidade entre si sem que a discussão se torne uma guerra apocalíptica de destruição. Não é uma coisa impossível.

Só que naturalmente você se pergunta até onde os argumentos são válidos, e será que é realmente válido que as duas coisas coexistam mesmo. Você poderia perguntar se fatos e ficções podem existir.porque é natural que um fato destrua uma ficção, mas isso não significa que a ficção não tenha qualquer valor. Uma ficção como O Código da Vinci, por exemplo, tem o seu valor, mesmo sendo uma ficção. E é uma história que coexiste com outros fatos no mundo. A questão é sempre no argumento, e como gerar um argumento válido. É natural que você não possa usar uma ficção quando você está discutindo fatos, mas será que o argumento em favor de um lado, significa necessariamente a destruição do outro?

Porque é natural que nós objetivamos aquilo que é correto porque o correto consolida a compreensão de alguma coisa. Se uma dada expressão matemática para um fenômeno físico o exprime com acurácia, podemos dizer que ele está correto. Eu não gosto do exemplo puramente matemático de 2 + 2 = 4 porque matemática é linguagem e se você muda a linguagem você pode por o seu conhecimento de aritimética em cheque. Eu gosto mais de dizer um fato científico natural como o fluido se desloca do ambiente com mais pressão para o ambiente com menos pressão. Se você vir um fluido se deslocando do ponto de menor pressão pro de maior pressão provavelmente há algum caroço nesse angu. Obviamente há uma expressão matemática para isso, mas agora eu não lembro exatamente qual é.

Só que tem coisas que não são assim. Tem coisas que são mais cinzentas e não estão consolidadas, mas ainda assim algumas pessoas usam argumentos com o propósito de invalidar o outro lado, e esses argumentos muitas vezes não são válidos, até pelo própria natureza do assunto sendo debatido. Se você for discutir se é melhor escovar os dentes começando da direita pra esquerda, e o outro lado acha que é melhor da esquerda para a direita, é facilmente notável que os resultados serão os mesmos e um método não invalida o outro, então um argumento destrutivo não faz sentido nesse tipo de debate. Aqui entra a questão da tolerância de você entender o outro lado e entender que não é possível nem faz sentido destruir o outro lado.

E agora entra o paradoxo da tolerância porque há argumentos para todo o tipo de debate cujo propósito é de destruição do outro lado quando isso realmente não é nem ao menos razoável, e em uma discussão onde se espera racionalidade de ambas as partes, é esperável que esse tipo de argumento não seja nem aceito, só que o paradoxo não diz respeito aos argumentos e sim as pessoas. Os argumentos que as pessoas usam são baseados em suas experiências e seus objetivos. Se uma pessoa tem o objetivo de destruir os seus opositores, essa pessoa tem de ser tolerada?

Isso é um paradoxo porque naturalmente sim. A tolerância em seu caráter pleno deveria permitir que esse tipo de pessoa cujo comportamento é de destruição e de não aceitação deve ser tolerada, uma pessoa mais filosófica talvez dissesse que mais do que tolerada, deveríamos tentar compreender as raízes desse comportamento, mas se esse tipo de pensamento se perpetua e ganha espaço ele tende a destruir os outros tipos de idéias reduzindo a tolerância ao que é diferente, e sendo, consequentemente, intolerante. Provavelmente você já viu essa imagem no Facebook.


E é por isso que se diz que por mais tolerante que você seja, você não deve tolerar pessoas intolerantes pois elas perpetuam um diálogo que apenas reduz e retrai a tolerância que hoje existe.

Eu gostaria de estender esse argumento pois em um determinado ambiente é natural que o argumento seja esse, mas e se colocarmos situações extremas? Eu particularmente não consegui. Tentei, mas na maioria dos casos, a tolerância acabava entrando por uma direção que eu não esperava então provavelmente essa linha de raciocínio acima está correta, apesar de eu discordar dela devido ao meu modo mais binário de pensar.

De fato, na visão do cara que pra você é intolerante, você é o intolerante por não aceitar as opiniões dele, e caso ele siga essa mesma idéia, entáo de certa forma ele está fazendo exatamente aquilo que essa linha de raciocínio diz. Então talvez a intolerância das pessoas não só deve ser ouvida como deve tentar ser compreendida para que as raízes dessa intolerância não se propaguem, ou talvez se propaguem caso seja compreendido que a intolerância é o caminho verdadeiramente correto.


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