terça-feira, 16 de julho de 2024

Pensando Sobre Amor

Esses dias eu escutei o prof. Clóvis de Barros com o Ilan no inteligência ltda. Sabe como é, a entrevista lá é longa e aqui no máximo dá pra pendurar um cortezinho.

E nesses dias eles andaram falando sobre amor. Eu queria dar uma olhada nesse conceito, que é repetido em diversas entrevistas pelo próprio Clóvis. É importante frisar aqui que quando falamos de amor estamos falando daquele tipo de relação romântica que existe entre dois seres humanos. Uma ligação que une as pessoas quase como se elas se tornassem entidades. Se você já conhece o discurso, primeiro ele define amor como desejo (Eros), depois como regozijo nas palavras de Espinoza, e por fim como forma de carinho e zelo, num discurso mais na idéia de Jesus.

Bora dar uma conferida

Parte 1: Desejo

Ah, desejo. Como uma pessoa pode saber que é amada se ninguém tem o desejo de tê-la por perto? Seria possível amar algo e não desejá-lo? De fato, os antigos textos gregos já falavam sobre amor muitas e muitas vezes. Eu deveria ter vergonha de não os ter lido, mas nós podemos pegar alguns tais como Orfeu. A tragédia de Orfeu é invocada como a última instância, se não do amor, do desejo. O amor de Orfeu era tão grande que ele falha o teste de Hades e perde sua amada. Muitos textos ao longo do tempo conclamam o amor como uma forma de desejo, tais como Romeu e Julieta de Shakespeare.

Tá tudo bem sentir desejo. Se sentir desejade, em certa medida, é ótimo. Nos faz sentir importante. Há três problemas que eu consigo enxergar, apesar disso:

  1. Por que alguém é desejade?
  2. O quanto alguém é desejade?
  3. Quando alguém é desejade?
Se você é desejade porque faz ótimos sanduíches, pode até ser legal por um tempo, mas e aí? É só isso? Você é só isso? Eu não sou só uma pessoa agênero que escreve uns textão bacana. Eu faço café eu jogo videogame, trabalho com TI, falo sobre coisas de matemática, etc. E eu não gostaria de ser desejade apenas porque eu faço sanduiche, eu quero que quem me desejar queria não só isso mas também meu corpo e minhas idéias. (Felizmente eu tenho essa pessoa!) Talvez essa pessoa não concorde comigo em tudo, mas pelo menos em algumas coisas. Eu não quero ser desejade como uma ferramenta.

Eu não quer ser desejade a ponto da minha liberdade estar em cheque. Eu quero ser desejade junto com minhas vontade. Eu também não quero que minhas vontades sejam um impecilho pra quem quer que seja.

Além disso, desejo é algo que se manifesta quando falta alguma coisa. Desejamos algo quando essa coisa não está por perto. Quando finalmente está, o desejo acaba, e eu não quero que minha presença seja requisitada apenas para ser dispensada no momento seguinte.

São perguntas válidas que desafia o conceito de amor como desejo. Pode alguém amar um martelo? Ou além, será que os objetos não são dignos de serem amados? Qual é o sentido de desejar algo quando essa coisa não está por perto, mas não apreciar a presença dessa coisa? Essas três perguntas conversam entre si e nos levam para o próximo passso.

Parte 2: Regozijo

Desejar não é o bastate. Até porque, o amor acaba quando se esgota o desejo? Eu não desejo minha esposa o tempo todo (Eu quero curtir minha solidão também!), mas dá pra concluir daí que eu não a amo? Acontece que eu, de fato, me regozijo na presença dela, e de acordo com o prof. Clóvis, essa é uma das essências do amor. Ele dá até um passo além dizendo que a diferença entre a felicidade e o amor é entender a causa da alegria. É compreender que essa alegria vem da pessoa amada. É algo que pode ser discutido mas é razoável dizer que o amor precisa trazer alegria em torno da pessoa amada. Uma relação que não traga alegria não se sustenta.cannot sustain itself.

É bem óbvio. Se o amor é o desejo de estar com alguém, então isso tem de ser agradável, então não é o desejo de ter alguém mas sim de estar com alguém. Então não é sobre objetivo, como dissemos anteriormente, não é sobre como ter a pessoa como objetivo, mas sim de se alegrar através daquela pessoa.

Se voltarmos ao tópico anterior, poderíamos dizer que isso é uma resposta a terceira pergunta. É de se perguntar se há amor se há o regozijar-se mas sem o desejar. Além disso, se você busca se alegrar através da pessoa, é quase como pensá-la como uma ferramenta, o que piora a primeira questão. Como a gente mitiga ela?

Parte 3: Zelo e Cuidado

A maioria de nós diria que essa é a forma de amor mais universal a possível. Cuidar de alguém é a forma mais básica de demonstrar afeto. Dar presentes, alimentar, guardar, etc. É fácil sentir o amor de alguém quando há carinho, afinal de contas, por que cuidar de alguém se não por amor?

Naturalmente as intenções são discutíveis. Amor pode não ser a razão do cuidado, mas também é difícil dizer que há amor se não há cuidado. Como se alegrar na presença de alguém se elá está se sentindo mal? Não precisa ser algo trágico, uma dor de cabeça é o suficiente. Se não for por uma questão de saúde, que seja por uma razão egoísta de ter a pessoa mais tempo ao seu redor.

Olhando por essas perspectiva, é razoável dizer que o cuidado é o desejo por saúde. Ou além, o desejo pelo bem estar de uma pessoa, não só a saúde, mas as condições gerais. Isso seria a mitigação das razões do desejo, de modo que libera a pessoa para que ela seja aquilo que ela queira ser, ao invés de entendê-la como uma ferramenta, mas se dispondo também como uma ferramenta para a alegria daquela pessoa.

Isso ainda deixa uma pergunta em aberto, acerca de amar sem possuir, mas para libertar. Cuidar de uma pessoa pode ser uma forma de aprisioná-la em sua teia. Não é de se admirar que permitir que algumas pessoas tenham uma renda básica se libertem de seus abusadores por remover as amarras econômicas. Cuidar não é, necessariamente, libertar.

Part 4: Não há Substituição Possível

O Prof. termina o assunto dizendo que a pessoa amada é insubstitutível. O que não é exatamente errado, mas tem alguns problemas quando dito sem colocar as devidas ressalvas. Isso da a idéia de que você é capaz de amar apenas uma única pessoa. Isso é simplesmente falso (Não-Monos que o digam). Não porque as pessoas são substituíveis - até porque não são - mas porque as pessoas são únicas de suas próprias formas o que torna a substituição impossível, e ainda sim dá pra amar todas elas! Além disso, a forma com a qual você as ama pode, se não deve, ser diferente entre elas. O que eu quero dizer é que para amar alguém você precisa compreender a unicidade delu.

Essa compreensão pode tornar a idéia de liberdade ainda pior. Se há unicidade e desejo por ela, é como um convite para segurar aquela pessoa e não deixá-la ir! A não substituição é mais uma resposta para a primeira pergunta. Compreender a unicidade de alguém permite que você ame a pessoa como ela é. Complementa a segunda seção que tratamos acerca de regozijo. Se a diferença entre felicidade e amor é entender a causa da alegria, então é razoável assumir que também é sobre entender a unicidade da pessoa desejada.

Parte 5: Consenso

Essa é a minha adição ao paradigma do Clóvis. Para que o amor seja entendido em uma relação, então deve haver consenso das partes. Dá pra amar alguém que não te ama de volta? Ou além, por que amar alguém que não te ama? Ou ainda, por que amar alguém que te odeia?

Se você quer ajudar alguém, essa pessoa precisa permitir ser ajudada, ou qualquer esforço é em vão. Com amor é a mesma coisa. Se alguém não permite que você lhu ame, então ali não florescerá amor, pelo menos se entendermos amor como uma relação entre duas pessoas. Consenso é uma resposta a segunda pergunta porque agora os limites da relação estão definidos. Até que ponto as coisas podem ir e o que não pode ser violado. O desejo é por uma presença concedida, não forçada. A imposição da presença destruiria a alegria da pessoa, violando os princípios de zelo e cuidado e corrói o conceito de relação saudável.

Isso responde a última pergunta em aberto da primeira seção, encerrando o amor como uma relação com algumas características. Eu particularmente não sou pretensiose o suficiente para dizer que só há amor sob essas condições. Eu posso estar errade, e não é difícil de entender porquê.

E Amor é Sobre Desejo?

Até então eu desenvolvi o conceito de amor sobre o conceito de desejo. Algo fácil de se apropriar para capturar a atenção das pessoas antes de nos aprofundarmos acerca do que é o amor. A primeira crítica sempre esteve a espreita. Que é justamente a pergunta dessa seção. Veja, podemos pensar em conceitos de amor que excluem o desejo, especialmente porque o desejo tem os problemas listados - e aqueles foram só os que eu consegui pensar! - Se desejo pode ser um conceito tão problemático para falar sobre amor, então talvez não seja a base correta.

Dá pra amar alguém sem ser amade de volta? De acordo com a nossa cultura popular, isso é bastante comum. Não só por causa das histórias mas também por causa do conceito de "Zona da Amizade"(Friendzone). Que é um termo horrendo, porque invoca que o desejo, especialmente o sexual é o cerne das relações, como a gente tava fazendo há bem pouco tempo.

Só que nem todo mundo pensa assim. O conceito de Relações Platônicas vai na contramão, relações onde sexo e desejo estão quase que fora de congitação. Pessoas nesses tipos de relação buscam intimidade, se conectando de formas extremamente abertas. Isso é compreendido algumas vezes como uma forma mais nobre de se amar alguém porque você retira o desejo do quociente. Cuidar, regozijar-se e quaisquer outras ações mencionadas são feitas sem o componente do desejo.

Mas tá errado entender amor como desejo? Não. E como Relação Platônica? Também não. E como um conjunto de reações químicas? Eu diria que isso é superficial e que ainda tem bastante avanço pra se fazer nas ciências psicológicas, mas eu posso estar errade.

E quanto a você? O que é amor para você?

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