domingo, 16 de junho de 2024

Flambarda - A Detetive Elemental #78

"Mais uma vez, o Bullguer do Botafogo Escada Shopping. As vezes eu acho que esse lugar tem alguma coisa mística."

Esse raciocínio veio a mente dela conforme ela estava no metrô. Ela mandou mensagem pra Sofia e pra Bibi, mais por uma questão de avisar mesmo. Não tinha muita pretensão de continuar uma conversa. O Japa já foi contratado pela Fernanda antes pra investigar a própria e saber que estão no mesmo lugar para discutir o mesmo assunto cheira um tanto quanto estranho. Voltando a aquele momento, ela e suas amigas estiveram na casa dele e ele tinha todas as ferramentas para poder desviar a atenção delas como quisesse acerca do que estava acontecendo e foi o que aconteceu de fato. Logicamente, dessa vez ele não tem razão para mentir para ela.

Demorou um tempo. A viagem de Saens Peña até Botafogo demora mais ou menos 1 hora. Era de se perguntar se ficariam ali por todo aquele tempo. Quando estava perto, recebeu uma mensagem de Fernanda perguntando se ela estava a caminho. Flambarda resolveu não responder e simplesmente aparecer lá. Um pouco arriscado, mas foda-se. Se o que quer que seja que Nanda fosse queria falar com ela tanto assim, ou que fosse até lá, ou então que esperasse. E lá estavam as duas criaturas, mas olhando rapidamente a mesa, ela rapidamente pensou. - "Filhos da puta, pediram um sanduíche pra mim."

A presença da jovem excêntrica bagunçava o local, pelo menos aos olhos da detetive que via as fagulhas elementais passeando pelas coisas através do mundo, e agora passa a ver um excesso de fagulhas brancas e vermelhas. As pessoas pareciam bastante animadas também, com várias conversas acontecendo ao longo do shopping, majoritariamente entre pessoas e atendentes. Por causa disso, as pessoas falavam bastante alto e o som dentro do shopping poderia atordoar uma pessoa distraída. Provavelmente será um dia de lucro para o shopping, e para ela também, desde que convencesse Japa e Fernanda a pagar o lanche.

- E ae? - Flambarda abordou.
- Opa! E ae? - Fernanda respondeu na mesma moeda.
- Fala. - Japa parecia um pouco mais impessoal.
- Posso me sentar aqui? - A detetive perguntou
- Aqui. - Nanda bateu no espaço ao lado dela. Ela estava numa poltrona com um lugar vago do lado.
- Beleza. - Ela sentou-se ajeitando a mochila. - Qualé a boa?
- Então, eu já tinha contratado o Japa antes pra ficar de olho em você quando você ainda não tava com a gente. Agora eu queria conversar com você antes de chamar ele pra ficar de olho no Entrenós.
- Ué? Como assim?
- Bom você sabe que ele tira umas fotos e tal pra rastrear onde a pessoa tá.
- Mas ele nem sabe se esconder direito!
- Só por causa daquela vez que vc se engalfinhou com ele na estação de metrô?
- Exato!
- Ow! Eu saí ileso daquela! - Japa protestou.
- É claro! Agora eu sei porque você saiu ileso!
- Você que veio pra cima de mim sem prova nenhuma!
- Pau no seu cu. Cê sabia muito bem o que cê tava fazendo! - Flambarda pôs as mãos na mesa e ergueu um pouco o tronco.
- Eu não podia te contar!
- Podia sim!
- Eu preciso do dinheiro, valeu!?
- Desse jeito sujo!?
- Sujo não! Trabalho honesto!
- Tá bom! - Fernanda interviu, tentando abaixar os ânimos - Eu sei que eu inflamo demais o lugar, eu carrego parte dessa culpa, mas vamo acalmar os seus respectivos cus porque tem coisa mais importante em jogo. - Flambarda lentamente voltou ao seu lugar.
- Então explica aí, porra. - A detetive protestou.
- Deixa eu terminar esse Lumberjack aqui primeiro.
- Puta que pariu...

Na verdade, já havia um sanduíche para Flambarda também. Era um Lumberjack, o que mesmo que Fernanda estava comendo. Já que estava ali, bora comer também. Ficou um momento de silêncio e apreciação. Por alguma razão o sabor estava mais impactante no paladar, o que fazia com que a detetive tentasse comer mais devagar para degustar mais. Os odores também estavam bem mais característicos, e o cheiro também fazia a comida parecer duas vezes mais apetitosa. Ela não lembra de comer tão bem assim faz muito tempo.

- Pode ser agora? - Disse a arcanista de boca cheia.
- Vamo lá. - Nanda disse mas ainda tinha um pouco de hamburguer pra comer. - Eu não sei se você reparou, mas o clube do Entrenós tem energia verde e vermelha pra todo o lado.
- Me lembro vagamente disso, mas acho que é nessa pegada.
- Então, eu acho que você já leu sobre o Wu Xing e sabe que madeira e fogo são os elementos mais expansivos, correto?
- Olha, pode até tá certo, mas falar que eu li é um pouco demais.
- Cê não lê não, ô piranha?
- Sobre Wu Xing? Até tentei ler alguma coisa. Li na biblioteca, na casa de Sofia... mas vou te falar que entendi muito pouco da coisa.
- Tá, olha pra tia aqui.
- Porra. - Flambarda interrompeu. - Tia é o caralho! Tu é novinha! Se tu for tia eu tô com o pé na cova, tá, filha da puta?
- KAKAKAKAKAKAKAKA. - Japa rachou o bico.
- Então... - Fernanda continuou. - Como eu estava dizendo: Vou meter o resumão aqui pra você. Wu Xing, cinco elementos: Madeira, Fogo, Terra, Metal e Água. Captou?
- Vem cá, não podia ser em ordem alfabética?
- Então, tem uma razão pra gente decorar assim que é o ciclo de transformação da matéria.
- Que?
- Assim ó: A madeira é combustível pro fogo, a terra se forma das cinzas dessa queima, nós com os minerais da terra fazemos as ferramentas de metal, com essas ferramentas coletamos a água, com essa água a gente rega as plantas pra fazer mais madeira.
- Parece uma forma chique de dizer que a gente tem que plantar árvore.
- Mais ou menos. Com o tempo esse ciclo entra no sangue.
- Tá, e o que isso tem a ver?
- Então, esse ciclo tem a ver com a nossa atividade também. Como madeira e fogo são o início do ciclo, facilitam no início dos papos. Nesse caso, mais a madeira. O fogo é a continuidade disso.
- Porra, isso é genial então.
- É, mas é filha da putagem.
- Como assim?
- Por que ele tá jogando energias de madeira e fogo de forma aritificial naquela porra.
- E tem algum problema?
- Porra, Flambarda! - Shou interviu. - Cê não tem moral não? É como apostar na roleta que você sempre ganha!
- Caralho! Se eu tenho uma roleta que sempre ganha e eu não usar eu sou muito burra!
- Porra, Flambarda. - Sofia interviu agora. - Mas essa porra tem consequência! Ou você acha que vão ficar futucando as energias e vai ficar tudo bem?
- Eu sei lá!
- Minha querida, é igual fábrica! Gera lixo! É tipo uma Angra-1! Tem lixo radioativo em algum lugar e a pergunta é onde!
- Caralho.
- E é por isso que eu preciso entender como esse filho da puta tá fazendo isso.
- E como eu tenho um luvetal...
- Esse puto tem mais informação sobre o Entrenós, mas acho que a gente resolve isso mais fácil se vocês trabalharem juntos.
- Se tirar foto minha pelada eu acabo com tua raça. - Flambarda disse para Shou.
- E quem quer te ver pelada? - Shou retrucou.
- Filho da... - A detetive respirou bem fundo. Contou até 10; até 20; até 100. - Eu vou te dar tanta porrada...
- Olha, Fernanda. Acho que vai ser difícil com essa sua funcionária aí.
- Funcionária é o caralho, seu merda. - Fernanda deu um olhar onde era possível ver a ira estampada em sua expressão. - Fala com ela direito, ou eu não vou ter um pingo de piedade.

Shou ficou calado. Flambarda sentiu aquela força implacável vindo de Fernanda, parecido com aquilo que ela viu em Petrópolis. Era estranho pensar que dentro de uma jovem morava uma entidade e como ela mantinha as coisas sob controle. A detetive fez coisas que ela não faria se não tivesse o poder concedido por Alabáreda, simplesmente por ter poder físico o suficiente para dominar quem fosse, mas sua camarada parecia ter a cabeça bem mais fria tendo um poder que parece ser inimaginavelmente maior. Ela podia fazer muito do que quisesse, mas ainda assim se segura.

"Mas se ela é tão foda, poque ela tá me mandando lá? O que é que ela fica fazendo que ela simplesmente não enfia a porrada no Entrenós e descobre as coisas? Ela é esperta, ela provavelmente deve ter pensado nisso mas alguma coisa tá prendendo ela. O que será?"

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