domingo, 17 de setembro de 2023

Flambarda - A Detetive Elemental #65

Sandra e Flambarda terminaram os exercícios e foram para o vestiário juntas. O que chamou a atenção das pessoas na academia, que naturalmente fofocariam entre si, mas longe do ambiente atual ou talvez em vozes bem mais quietas, porém Flambarda queria fazer com que Sandra falasse o máximo possível, mesmo que pra isso ela precisasse falar também, então elas conversavam enquanto faziam xixi.

- E de onde você conhece o Rodney? - começou a detetive.
- Uma vez eu encontrei ele na biblioteca. - conforme ela falava, seus olhos buscavam respostas nas paredes, como se estivesse tentando se localizar. - eu tava indo procurar um livro de... - ela estalou os dedos duas vezes tentando se lembrar do que era, e Flambarda completou.
- Feng Shui?
- Isso, Feng Shui. Pode não parecer mas eu curto bastante essas coisas!
- Realmente, não parece muito. - "Cê quer enrolar a quem?" - chegou a fazer alguma coisa com ele? - Disse Flambarda terminando o xixi.
- Não. Ele é meio devagar, sabe? - Agora Sandra terminava seu xixi.
- Eu sei, mas o papo dele foi te levar pra conhecer  uma sociedade secreta?
- Que sociedade secreta?
- Qual é, Sandra, você mesmo falou que sabe manipular energias... - Por alguma razão nenhuma das duas queria sair do vestiário mesmo sem qualquer intenção de trocar de roupa.
- É verdade... - Ela fez uma cara meio que decepcionada consigo mesma, mas resolveu prosseguir. - Mas o papo dele realmente não foi esse. Ele parece um imã de problema, sabe? Sempre dá ruim quando ele tá por perto!
- Jura!? Achei que era só comigo!
- E então um belo dia eu fui salva por ele.
- Salva? Pelo Rodney?
- É! Era já de noite quando eu tava voltando pra casa. Não tinha quase ninguém na rua. Eu tava bem triste, tinha acabado de terminar um namoro, e por telefone!
- Putz. - A detetive fez uma cara como alguém que sentiu a dor das palavras da mulher. - Complicado...
- E antes de entrar em casa tava passando alguém, que parece que não tinha nada a ver com a história, não consigo me lembrar muito bem de como ele era, mas eu lembro de querer descontar a raiva nele. - Sandra olhou pra parede pensativa por alguns instantes. - Eu não lembro do que aconteceu depois, mas lembro de acordar perto do Rodney me abraçando agradecendo que eu tava viva.

Flambarda estava com o queixo levemente caído quando Sandra terminou a história, e balançou a cabeça quando percebeu que a mulher a fitava intensamente esperando uma resposta acerca do que ela havia acabado de contar. Realmente parecia um bocado de informações pra detetive processar, apesar dela já ter conseguido construir a história na sua mente. - Ela ficou puta, isso deve ter afastado as energias dela, e então ela se tornou um malamorfo por ter ficado vazia. Atacou a primeira criatura que viu, e é muito importante dizer que ela viu a criatura antes de se tornar um malamorfo de fato, e o Rodney realmente a salvou! Os dois únicos furos aqui são o Feng Shui e a pessoa que ela atacou.

- Olha, deve ser complicado ter uma lacuna vazia na nossa vida. Felizmente eu nunca bebi a esse ponto.
- Eu também não!
- E aí você foi atrás de respostas?
- Fui, né!? Ele falou que mudaria minha vida para sempre.
- Que merda, hein?
- Mudou mesmo. Agora eu sei de coisas que eu nem imaginava... - Ela deu uma pausa. - E você, senhorita?
- Eu o que?
- Como conheceu o Rodney? - Sandra indagou.
- Olha, eu posso deixar essa história pra outro dia?
- Então você está dizendo que vai me encontrar de novo?
- Que? - "outra cantada!" - Acho que não é tão difícil de te encontrar aqui.
- Me liga pra combinar, mas eu já te aviso. - Sandra chegou perto. - Se não me chamar eu vou ficar muito chateada com você.
- Tá bom... tá bom... a gente sai pra tomar um café esse domingo.
- Onde?
- Na biblioteca da Tijuca.

Sandra ficou um pouco surpreendida pelo convite. Afinal a maioria das pessoas não a chamaria para tomar um café numa biblioteca, até porque teoricamente nem se pode beber café lá. Isso deu a Flambarda algum tempo para que ela pudesse sair, e partiu em disparada para casa ao sair da academia. Passa pelo porteiro, espera elevador, chega no quarto andar, e finalmente... Casa. Jéssica deixou um lanche pronto enquanto assistia novela na TV, deitada no sofá da sala, o programa médio do brasileiro médio, mas tudo bem, porque até mesmo as pessoas mais extraordinárias tem o direito de ser medianas no que quiserem.

- Oi mãe.
- Oi filha! Tudo bem? - Jéssica gritou sem se levantar do sofá.
- Tudo... - Flambarda pensou bem e adicionou. - ...Eu acho.

Jéssica olhou de forma preguiçosa para a filha, que aos poucos se ajeitava na cozinha. Ela se ajeitava para comer o lanche que a mãe fez, algo pelo qual ela era grata, mesmo sem verbalizar. A mãe em contra-partida talvez se chateasse um pouco com isso, mas estava ocupada demais vendo a novela prestando atenção nos mínimos detalhes. A detetive, em seguida, passou em direção ao seu quarto para deixar a mochila no lugar, em seguida foi ao banheiro, já com vontade de fazer xixi novamente, pra tomar um banho, saiu de toalha, foi até o quarto, pôs uma roupa bem confortável - uma camisa já usada e um shortinho de tecido - e se sentou no chão ao pé do sofá pra assistir novela com a mãe. O que fizeram silenciosamente até a hora do intervalo.

- E aí? Como foi na academia?
- Estranhíssimo.
- Sério?
- Mãe, aquela mulher é uma gata.
- Ué? Tá dando uma de Sofia?
- Nunca pensei que daria, mas ô... - Flambarda abanou seu rosto com a mão. - aquela mulher me fez duvidar por um instante.
- E rolou alguma coisa? - Jessica mudou de posição no sofá pra ficar com o rosto mais perto da filha.
- Não! Mas eu confesso que eu me segurei.
- E o que ela tinha mais de especial.
- Ah. - a detetive deu de ombros. - ela é druida.
- Putz. Era só o que faltava. - A mãe mudou de posição de novo, levemente decepcionada. - Parece até que a gente atrai esse tipo de gente.
- Quer água? - Flambarda levantou pra ir buscar água.
- Quero sim, filha.

Nesse meio tempo, o intervalo terminou, e começou o noticiário. - "Hoje no shopping Nova América, uma jovem evitou uma que uma moça fosse furtada. Um cinegrafista amador foi capaz de registrar alguns momentos com seu celular." - E então Flambarda pode se ver correndo e encurrlando o meliante que chegou a escapar depois. Junto com a opinião de várias pessoas que foram perguntadas em seguida com umas respostas bem mirabolantes, do nível de pessoas que achavam que ela devia linchar a pessoa, a que ela não devia ter saído correndo dentro de um shopping cheio.

Jéssica, viu sua filha assistindo o noticiário boquiaberta, sem imaginar que alguém em algum lugar teria sacado um celular pra filmar ela naquele tipo de circunstância, e então ela se ajoelhou do lado de Flambarda e a abraçou, na tentativa de fazê-la ver que tinha o seu apoio. A detetive abraçou a mãe de volta, se levantou e foi até o seu quarto, onde ela deitou olhando pra cima e ouviu seu celular tocando. Era Fabiana, ligando provavelmente porque viu o noticiário. Um mundo de pensamentos inundou a mente de Flambarda, sobre ser ou não ser uma boa amiga, nas desculpas que ela poderia dar. Até que o telefone parou de tocar. Uma mistura de alívio e ansiedade pois não havia mais o toque mas também a certeza, infundada mas certeza, de que sua amiga agora a detestava. Até aparecer a notificação do Whatsapp.

Bibi: "Amiga, eu não sei o que tá acontecendo, mas eu tô aqui. Quando estiver pronta, por favor me liga."

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