sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Parcimônia Frenética #21 - Pensamentos Aleatórios (Bem & Mal)

Quando eu era criança, e acredito que muitas crianças daquela época também, eu fui basicamente doutrinado no Maniqueísmo.

Havia o bem e havia o mal. Ambição, avareza, luxúria, egoísmo e tudo que era ligado a desejos materiais era mau. A humildade, gentileza, caridade, altruísmo, e tudo aquilo que era ligado ao espiritual era bom.

E isso estava presente em toda cultura popular. Nos filmes e desenhos, não havia vitória maior do que converter o vilão de volta a sua natureza bondosa. Afinal matar ou destruir alguém, mesmo um vilão, é algo mal e o bem não pode fazer isso.

Essa dicotomia governou minha vida até o começo da minha adolescência. Nessa época a cultura popular também começou a introduzir mais personagens maus carismáticos e atraentes, e o entretenimento voltado ao público dessa idade já abordava assuntos mais sérios e cinzas. O mal começou a vencer. O mal começou a não se converter para bem e mesmo assim se tornar o protagonista.
Um exemplo que eu posso dar claramente é o de Star Wars. O personagem mais adorado de Star Wars não era o Luke, ou a Leia, nem o Han... O personagem que todo mundo achava mais legal era o Darth Vader. E sim, ele tecnicamente se redimiu e tal. Mas durante a maior parte do tempo ele era um vilão e nada mais, e mesmo assim ele era o cara mais atraente.

Nessa época já turbulenta da puberdade eu sofri uma enorme quebra de paradigma em relação a minha doutrinação. Subitamente o mal e o bem eram palavras muito fortes para descrever a maioria das relações de poder e interesse que surgiam no cotidiano. Defender os seus aliados as vezes significava causar a destruição de pessoas que nunca fizeram nada de ruim pra você especificamente. Vencer era algo necessário para a sociedade, e vencer as vezes significa acabar com a chance de pessoas inocentes de terem sucesso.

Enfim... O mundo se tornou um lugar muito mais complexo. Eu já não podia mais me esconder atrás de brados de uma luta pela Justiça e pelo Bem. Haveriam aqueles que venceriam, que obteriam sucesso, e aqueles que perderiam. Os populares e os perdedores. Os legais e os otários.

E então eu fiz uma coisa muito bizarra... Eu assumi a merda do papel do vilão. Eu era propositalmente arrogante e prepotente. E eu era inteligente, então eu era muito capaz de passar qualquer um pra trás. Eu fazia tramas e planos ardilosos. Eu mentia e enganava.

Mas eu fazia isso com a intenção de me tornar "o vilão". Eu queria tomar o lugar da entidade que representava tudo que os outros odiavam. Eu queria ser o inimigo em comum, para que os outros pudessem se unir sob uma bandeira "do bem" contra mim.

E eu fiz isso num bizarro ato de altruísmo que visava uma convivência pacífica entre todos os outros. Basicamente, eu polarizava todas as discussões para que as minorias, os perdedores, os otários, não fossem esmagados. Todos que estavam contra mim estavam do lado vencedor e correto.

Mas o que isso tem a ver?

A questão é que hoje em dia, o dark side está na moda. Crianças e adolescentes cada vez mais cultuam e endeusam os vilões. Todo mundo quer ser Sith. Todo mundo quer ser Sonserina. Todo mundo que ser Akatsuki.

Eu não consigo mais ser o vilão e polarizar as discussões em grupos de jovens. Porque os babacas acabam achando a crueldade e a maldade legais.

Muitas características que eu só fui aceitar como coisas que não eram completamente más bem mais velho, como ambição e um certo grau de egoísmo que nada mais é que autopreservação, hoje em dia são admiradas por jovens e crianças.

Essa desmistificação do maniqueísmo na nossa cultura não é algo que eu veja como essencialmente produtivo e bom. Por um lado é conhecimento superior e eu tenho muita dificuldade de ir contra qualquer forma de difusão de conhecimento, mas por outro lado talvez seja uma coisa que vá causar mais problemas do que ajudar.

Sei lá.

Me incomoda um pouco como tem tanta criança hoje em dia que não vê os bandidos, os vilões, como sendo nada além de inimigos. Como alguns até almejam vidas e características que antes só pertenciam a pior escória do universo popular. Afinal conquistar e vencer é bom, não importam os meios ou por quem você passe por cima.

Me incomoda mais ainda o fato de que não sei se essas crianças são só um bando de babaquinhas falando merdinhas para parecerem legais, mas que no fundo seriam incapazes de matar uma mosca. Ou se estamos criando uma geração de pequenos sociopatas.

Concluindo... Isso tudo foi pra dizer que se você acha que os Sith são mais legais que os Jedi, se você se diz Sonserino com orgulho e defende o pobre e injustiçado Draco Malfoy, se você gosta do Sasuke, eu acho você UM ENORME BABACA.

Não, sério... Você é um otário.

Não, mentira... Você é retardado mesmo.

Não, foi mal, parei.

Por favor, reveja seus conceitos. O mundo não é preto e branco, mas os Sith não são legais. Os Sith vivem numa espiral de paranoia e angústia, sem poder confiar em ninguém, sem nunca receber ajuda.

A Sonserina é uma casa que foi criada por causa de racismo e preconceito. É uma casa que aplaude aqueles que se preocupam com si mesmos antes de qualquer outra coisa. E por mais que as coisas sejam diferentes e possam haver qualidades boas advindas disso, ainda não é uma casa que qualquer pessoa com um mínimo de compaixão e empatia adotaria sem um pouquinho de vergonha.

E o Sasuke... O Sasuke é um adolescente retardado, angustiado, e infantiloide. E é vergonhoso você achar ele legal. Sério. Pára.

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