quinta-feira, 30 de abril de 2015

Reflexões #6 - Je ne suis Charlie

Ok. Isso já aconteceu, mas a moda ainda perdura. Desde o atentado ao jornal Charlie Hebdo onde algumas pessoas que trabalhavam foram mortas, e se iniciou o movimento "Je suis Charlie", agora todo mundo é todo mundo.

Com licença, eu não. Aliás, minha mãe sempre disse que eu não sou todo mundo.

Particularmente eu sempre fui contra essa idéia de "Eu sou aquele cara ali.". Na minha cabeça não faz sentido nenhum. Não é uma questão de falta de sentimentos quanto ao sofrimento dos outros. Na verdade, se você quer sentir o sofrimento dos outros, vá morar no Quênia como escravo de algum senhor lá se você acha que ser homem é mais fácil que ser mulher. Ou como uma mulher na Índia se você acha que ser mulher é mais fácil que homem.

Eu não sou o Charlie Hebdo. Quando essa coisa toda explodiu eu nem sabia que essa mídia existia. É um grupo de sátiras geralmente direcionadas a igreja ou religiões. Ah! E adivinhe só! O movimento não durou pouco mais que algumas semanas, até se propagar como outras vertentes de outro acontecimentos por aí.

E o "Je suis Charlie" recebeu duras críticas. E novamente geralmente se referindo ao povo africano que é um dos que mais sofrem diariamente. Daí que o movimento evoluiu para uma modinha que qualquer um é qualquer coisa. Você vê uma bola de futebol mal chutada e daqui a pouco você vai ver a mensagem "Eu sou a bola de futebol".

Apenas, pare.



Não diga que você é alguém se você não sabe a história completa dessa pessoa. Todas as 24h por dia que ela viveu até hoje. Você não sabe quais foram as coisas que aquela pessoa fez de ruim ou de bom para os outros. Coisas que você condenaria, e coisas que você não faria ou até coisas que você mesmo não é. Você não é um chargista que gosta de fazer chacota de religião por aí. Na verdade muitos ate tem muito mais cuidado ao falar sobre religiões para evitar entrar em discussões ecumênicas que são profundamente filosóficas e acabam irritando ambas as partes por não conseguirem convencer uma a outra.

Mesmo quando tentam colocar isso em relação ao garoto que morreu jovem! Cara, eu não sou aquele garoto que morreu! O melhor que nós podemos fazer é trabalhar em memória dos que já foram para evitar que tenhamos mais perdas não naturais.

É simples. Você não é eu. Eu não sou você.

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