Lanma levantou-se rapidamente, trazendo seu machado num ato quase reflexo.
- Karlrock! - ela bradou olhando em volta apreensiva.
- Ele deve ter ido fazer suas necessidades longe do riacho. Não há motivo para ficar agitada.
- Hmmm.... Uh-hmm, deve ter sido isso mesmo. Melhor você ficar calma, moça... Senão as pessoas podem começar a suspeitar de coisas... - cantarolou de forma zombeteira o halfling.
- Cale-se, Phyllander! - rosnou a anã em resposta.
- Pe-pe-pessoal! Ca-calma! P-por favor... Não se... Não se... Não se alterem... - suplicou Mirdonis quase num sussurro enquanto torcia a manga do robe nas mão aflito.
Nerani suspirou, aborrecida, e se levantou. Prim alegremente saltitou para o topo de sua cabeça enquanto ela investigava os arredores e observava ao longe.
- Pronto. Ali. Não precisam de nada dessa confusão. - disse ela num tom monótono enquanto apontava para algo.
Todos se viraram para o local apontado pela elfa e não demoraram a ver do que se tratava. Não muito longe dali erguia-se uma pequena colina, e no topo dela uma grande e curvado salgueiro. E sob o salgueiro, aparentemente encarando-o em silêncio, a inconfundível figura grande e austera de Karlrock.
A anã, o halfling, o mico, e o jovem de robes compridos observaram a cena com curiosidade. E todos, menos mico, começaram a ter seus pensamentos intrigados pelos motivos que levariam o pragmático homem a fazer aquilo. O mico só pensava se ele traria comida quando voltasse.
- Ele parece... Pensativo... - relatou Mirdonis espremendo os olhos para tentar enxergar melhor.
- Mistério solucionado. Me acordem quando forem sair. - requisitou o halfling despreocupadamente e logo voltou a se deitar e fechar os olhos.
Nerani voltou a sua posição de reflexão e suspirou. Prim rapidamente se pôs em seu colo.
Mirdonis entortou os lábios e sentou-se novamente com o livro nas mãos, mas sem tirar os olhos da figura sob a árvore na colina. Ainda preocupado com a situação.
E Lanma continuou de pé, observando Karlrock ao longe e imaginando o que estaria acontecendo.
- Você deveria ir lá falar com ele... - sugeriu o halfling num tom escarnecedor sem abrir os olhos, claramente se dirigindo a anã.
- Eu não quero atrapalhá-lo. - respondeu seriamente a anã sem aparentar ter se dado conta no tom de escárnio da sugestão enquanto considerava verdadeiramente fazê-lo.
Mirdonis entortou os lábios para um lado e para o outro, remexeu os pés, e abriu e fechou o livro a esmo. Tentou não falar nada, mas por fim não conseguiu.
- B-bem! Pode haver mesmo um problema e... E... E... E... E alguém deve-... Deveria mesmo ir lá e f-f-f-fa-f-falar com ele. - acabou exclamando num impulso.
Lanma olhou para o jovem, ainda um pouco indecisa, e suspirou.
- Certo. Eu vou. - ela disse e começou a vestir sua armadura de pele de urso.
A anã pôs o inseparável machado no ombro e partiu em direção a colina. Acompanhada pelo olhar ansioso do jovem de robes compridos, e espiadas dissimuladas da elfa e do halfling. Ela atravessou o campo de grama alta de forma direta e decisiva, apesar de ter da vontade de desistir e voltar ter passado algumas vezes por sua mente.
Ela subiu a pequena colina sem esforço, e se aproximou com cuidado do homem das placas de metal. Pisou forte e respirou pesadamente enquanto chegava, para anunciar sua presença, mas Karlrock continuou encarando a árvore. Os ramos de folhas amareladas que desaguavam profusamente pela copa da árvore chegavam quase até a cabeça do homem.
- Está tudo bem, Karlrock? - perguntou a anã num tum estranhamente gentil para ela - Você sumiu sem dizer nada e veio aqui para um ponto mais alto. Há possibilidade de sermos atacados? Procura inimigos? - completou apressadamente num tom mais rígido.
Karlrock pôs a mão no tronco da árvore de forma cuidadosa e respondeu sem olhar para a anã.
- Foi aqui. Aqui que eu decidi servir a Justiça.
O homem falou em tom tênue. E então ele olhou para o horizonte.
Lanma acompanhou o olhar do homem e pensou ter visto as ruínas da cidade disforme ao longe naquela direção.
- Aqui minha jornada começou. Aqui eu dei o primeiro passo que fez com que eu me unisse a vocês.
A anã observou as costas largas do homem a sua frente como se o visse pela primeira vez, até então sem nunca acreditar que houvesse algo sobre ele que não fosse óbvio. Surpresa pelas palavras leves e aparentemente sem um fim prático e direto, que nunca antes fizeram parte do repertório de Karlrock.
- Bem... Se você precisa de alguém para ouvir sua história. Eu estou aqui. - ela disse em tom brusco e exageradamente agressivo, para tentar esconder seu real interesse.
Karlrock não pareceu ofendido. Ele acenou afirmativamente com a cabeça, virou-se para Lanma, e então sentou-se no chão encostado na árvore.
- Sim. Acho que é isso que preciso. - ele respondeu com sua mesma expressão neutra de sempre,
Lanma encarou o chão furiosamente para esconder o rubor de suas bochechas. Desnecessariamente, afinal ainda estava bem queimada do sol. Ela cravou a lâmina do machado no chão ao lado dela num movimento intenso e veloz, e então sentou-se no chão de frente para o homem esperando que ele começasse a contar.
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