O halfling habilmente cortava a grama alta e arbustos mais densos enquanto traçava o caminho da estrada até o riacho escondido entre as árvores baixas. As adagas reluziam ao surgirem subitamente em suas mãos para cortarem o caminho, e sumiam com mais um piscar sem deixar pistas de onde haviam ido parar. É claro que o fato de Phyl estar usando uma camisa simples e encardida, e uma calça transbordando de bolsos deixava a dedução bem simples.
O homem com as placas de metal seguia logo atrás com o mico empoleirado em sua cabeça, acompanhado pelo trôpego e desajeitado jovem de robes longos e escuros que carregava a pilha de vestes da elfa e parecia indeciso sobre tropeçar nas raízes protuberantes e imperfeições do terreno, ou no próprio robe. A anã, cada vez mais vermelha e suada, vinha mais atrás arrastando os pés e bufando.
Logo todos estavam na beira do riacho. O homem pôs suas tralhas e a mochila da elfa no chão, e foi ajudar a anã a se livrar das próprias de maneira estranhamente gentil para um figura tão mal-encarada e sisuda. A anã desabou nas margens d'água assim que pôs os pés dentro da mesma, e brigou e resmungou um bocado antes de acabar aceitando a ajuda do homem para tirar sua mochila e tralhas das costas. O halfling simplesmente se jogou de costas na grama úmida e fresca, e aproveitou a sombra.
A harpia planou em espiral até atingir o solo, e posou elegantemente próxima ao grupo. Assim que os pés da ave tocaram o chão, a transformação se iniciou de forma reversa. Seu corpo se alongando, as penas e bico se retraindo, e as formas se enchendo até dar lugar a seu corpo feminino. Obviamente ela estava agora nua ali, fato que claramente envergonhava profundamente o jovem de robes longos e escuros, que fazia o melhor possível para estender a pilha de roupas que havia trazido para a elfa enquanto virava a cabeça para o lado oposto e espremia suas pálpebras para que se mantivessem fechadas com toda sua força.
O halfling era o único outro que parecia se importar com a aparição da companheira nua ali, lançando olhares fugazes e dissimulados para o corpo da mesma.
A elfa terminou de se vestir, e em breve todos estavam assentados e bebendo água, se refrescando no riacho, e enchendo seus cantis. Finalmente num ambiente fresco e protegido do sol eles podiam enfim descansar e recuperar as forças. A pele alva da anã voltara quase que completamente ao seu tom pálido, ressaltado pelas bochechas, nariz, e ombros que agora exibiam um tom avermelhado que demoraria um pouco a sumir. E ela também parecia bem mais confortável e vigorosa, apesar de que isso só significava que havia recuperado forças o suficiente para reerguer sua fachada orgulhosa.
- Se retomarmos a caminhada depois de descansarmos um momento, ainda teremos algum tempo de luz. Provavelmente o suficiente até chegarmos as ruínas. - disse o homem das placas de metal.
- Temos mesmo que voltar a andar ainda hoje, Karl? Não dá pra ficar por aqui e montar acampamento? Parece um lugar tão confortável... - sugeriu o halfling displicentemente enquanto se espreguiçava na grama.
- E perder metade do dia só porque alguns de nós não conseguem aguentar um pouquinho de calor? - respondeu num tom agressivo a elfa, Nerani.
A anã sentiu-se imediatamente ofendida, se pondo de pé e estufando o peito.
- Eu não pedi que ninguém parasse em lugar nenhum! Estava bem e podia continuar andando se quisessem!
A elfa suspirou e ergueu uma mão apaziguadora.
- Não estava me referindo a você, Lanma. Acalme-se.
A anã bufou e sentou-se novamente, ainda irritada e se aproveitando do rubor da queimadura para esconder o enrubescimento de vergonha que tomava suas bochechas.
- E-eu não queria voltar a andar... Ma-mas acho que daqui a pouco o sol vai estar mais baixo, mais fraco. Não f-faz sentido mesmo parar agora na metade do di-dia. Infelizmente...
- Então, descansaremos um pouco e então voltaremos a andar para chegar nas ruínas antes que o sol se ponha. - ordenou Karl de forma conclusiva.
Cada um então virou-se para um lado e se puseram a descansar. Phyl, o halfling, parecia cochilar na grama. Nerani, a elfa, mantinha-se sentada numa posição de aparência desconfortável olhando para o vazio, enquanto o mico, Prim, saltitava a sua volta caçando insetos. Lanma estava sentada encostada no tronco de uma árvore perto da margem do riacho, com uma feição aborrecida, e acariciava seu pesado machado sobre as pernas como um animal de estimação querido.
O jovem de robes longos e escuros tinha tirado um pesado livro da mochila, e parecia lê-lo concentrado. Porém, foi ele o primeiro a perceber que alguns minutos depois algo havia acontecido.
- Errr... Pe-pessoal...? - ele indagou aos outros a sua volta.
- O que foi, Mirdonis? - o halfing respondeu prontamente, revelando estar bem mais atento do que parecia.
- Ca-cadê o Karlrock?
E o homem das placas de metal, Karlrock, realmente não estava em nenhum lugar a vista.
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