Flambarda ligou para Fabiana conforme se aproximava, demorou um pouco mas ela atendeu.
- Oi Flam!
- To chegando, Bibi!
- Ah! Eu vou aí embaixo te buscar!
- Não precisa.
- Ah, precisa, sim! É sempre bom estar acompanhada!
- Então vem logo, porque eu to quase aí!
- Puta merda! Já to chegando!
Bibi desligou com pressa, e a jovem detetive riu consigo mesma. Ela já tinha ido a casa da amiga antes, só não era tão frequente. As ruas pareciam relativamente desertas os elementos ao redor não pareciam ter qualquer pertubação, apesar de uma certa predominância de elementos azuis e brancos, mas em si, Flambarda via muito mais elementos verdes e vermelhos. Ela estava tentando lembrar sobre tudo o que leu acerca das filosofias chinesas até então. Se fosse verdade, essas luzes que passam por ela são indícios de ímpeto e de movimento, mas é claro que ficava faltando o que isso significava porque ela não sentia em si nenhum ímpeto nem qualquer vontade de movimentação. Pra que correr? Onde estava o impulso? Eram perguntas que ela se fazia no caminho.
Flambarda foi capaz de ver Fabiana abrindo os portões, pois já estava na calçada em frente ao edifício. Ela estava com um top e um shortinho e naturalmente estava estranhando bastante aquela criatura que parecia que andava de uniforme. Não que ela não estivesse quase sempre de top e short, mas a calça jeans no calor realmente não ajuda uma viva alma. Especialmente no calor do Rio de Janeiro. O abraço foi intenso, com direito a mais típica demonstração de carinho de duas amigas de longa data.
- Flambunduda! - Disse Bibi se aproximando com os braços abertos.
- Bucetuda! - Respondeu a amiga fechando o abraço.
- Bora que eu vou fazer um brigadeiro pra nóis.
- Ô, porra! Me dei bem!
A detetive seguiu a amiga que a conduziu para dentro dos muros da propriedade e então para dentro do prédio de fato. Elas tinham que chegar no 302 e infelizmente não havia elevador. Um problema de acessibilidade que existe em muitos prédios antigos, mas no final as pessoas se viram do jeito que dá, e para essas duas não era muito problema. Bibi seguia o caminho brincando com o chaveiro e já preparava a chave correta para enfiar na fechadura um andar antes. Havia uma multidão de sons, uma vez que cada vizinho ali colocava alguma coisa pra tocar e fazer barulho, provavelmente porque algum deles já havia começado com a música alta e conforme se aproximavam do apartamento, era possível escutar um MC Brinquedo estourando no talo.
Abriram a porta, a mãe de Fabiana estava fazendo a clássica faxina de Domingo. A filha também estava porém foi interrompida pela amiga, mas dona Marta não perdeu tempo.
- Opa! Trouxe ajuda pra faxina? - Disse Marta.
- Mãe! - Bibi retrucou com uma interjeição.
- Que foi!? Visita no domingo é quem veio dar uma mãozinha!
- Relaxa, tia. Só falar que a gente faz. - Flambarda se colocou a disposição.
- Flam! - Fabiana agora chamou a atenção da amiga.
- Que foi? Ela tá certa!
- Tu não veio pra cá pra trabalhar, né: Sua puta!
- Depois cê me paga com o brigadeiro.
- Fabiana vai fazer brigadeiro!? - Marta interrompeu. - Opa! Vê se dessa vez não queima, hein!
- Você fica me interrompendo aí é foda, né, mãe? - Bibi retrucou.
- Eu gosto das coisas mais queimadinhas. - Flambarda suavizou
- Então toma aqui essas flanelas e bora tirar o pó dos móveis!
Flambarda nem sabia de onde tinha tirado tanta energia. Talvez se estivesse em casa não tivesse feito nada parecido, mas faxinar uma casa rebolando a raba ao som do funk no último volume parecia muito mais interessante do que fazê-lo naquele marasmo chato do dever. De certa forma ela sabia disso porque sempre que ela e Jéssica se moviam pra fazer faxina também era ao som de música, mas certamente com um gosto musical bem diferente. Era divertido, a cada objeto do qual se tirava poeira era um pouquinho de rebolada. O andar pela casa era sempre no ritmo da música. Mesmo sendo um apartamento pequeno, ainda é curioso como faxinar e deixar as coisas bem ajeitadas poderia ser trabalho para uma tarde inteira. Quando terminaram já estava caindo a noite, mas estava tudo bem arrumadinho.
A detetive sentou-se no sofá junto com dona Marta que estava dando uma descansada de leve. Talvez pra ela que tem um pouco mais de idade fosse um pouco mais extenuante, apesar dela não parecer tão mais velha assim. De fato parecia ser até um pouco mais jovem que sua mãe, mas não demorou muito, por impulso, a jovem se levantou e foi até a cozinha onde estava sua amiga. Se ela ia fazer um brigadeiro, talvez fosse a chance para que as duas pudessem fofocar enquanto faziam aquele docinho esperto pra fechar o dia. Bibi estava até distraída de frente pra pia, vendo as redes sociais, até que levou um tapão na bunda que deu até um pulo de susto e quase deixou o celular cair.
- Caralho, Vagabunda! Tá maluca!? - Bibi perguntou
- Deu mole com essa bunda aí pro alto...
- Não, po, tava mandando aqui mensagem.
- Sei. - Flambarda provocou - Pro Rodney?
- Não, digo... - Ela parecia levemente constrangida. - Sim! Tava pensando até se mandava um nude pra ele.
- Não sei se ele merece.
- Ai, deixa de ser malvada com o bichinho.
- Bichinho é o caralho! Sempre que ele tá por perto dá merda!
- E você também né?
- E eu também! - Flambarda assumiu, se movendo para o lado da amiga enquanto olhanva para o nada da pia. - Desde que peguei essa luva eu virei um imã de merda. Não tem nada que dá certo.
- Ei. - Fabiana deu um abraço na amiga, que não retribuiu porque estava jogando seu peso sobre seus braços e se sustentando neles. - Vamo fazer o brigadeiro. Vai dar certo.
- Eu vou queimar essa porra.
- É bom que eu posso botar a culpa em você.
- Ah, cachorra...
Bibi começou a comandar a cozinha, apontando e pedindo os utensílios de cozinha conforme ia precisando, e ia fazendo as misutras. Felizmente um brigadeiro não é exatamenre uma mistura difícil de se fazer, o difícil mesmo é acertar o ponto sem queimar. Se você nunca fez um brigadeiro, não critique quem tentou e errou porque é difícil, tá? Se você fez provavelmente você não vai criticar porque sabe o quão difícil é. Fabiana e Flambarda se alternavam mexendo o brigadeiro na panela, até que Fabiana teve uma idéia meio mirabolante.
- Ei, essa porra aí queima, não queima? - Fabiana perguntou olhando pra mão direita da amiga.
- Qual porra?
- Essa luva do caralho aí.
- Ah! Queima. Agora eu tenho que tocar siririca com a canhota agora. É uma merda.
- Compra um sugador de clítoris.
- Depois você me diz onde.
- Tá, mas a luva queima.
- Sim.
- E se a gente usar a luva pra esquentar o fundo da panela ao invés do fogão?
- Caralho, Bibi... - Flambarda pensou por um instante. - Acho que vai dar merda.
- Vamo tentar?
- Bora né. Já tamo aqui mesmo.
Fabiana se afastou conforme sua amiga sinalizou. A detetive então estendeu a mão e se concentrou. Precisava canalizar as energias ao redor, para ativar a luva. Ela leu que os druidas eram bem melhores nisso, mas ela tem o poder de protagonista, então. quando o roterista quer, ela consegue fazer as coisas. Ela foi capaz de dar ignição nas chamas em sua mão, que realmente pareciam aquecer o lugar, e segurou a panela por baixo fazendo o brigadeiro aquecer e manter a consistência molenga que precisava para continuar ser mexido. Só que agora era mais complicado porque o fogão tinha um pouco mais de estabilidade do que a mão dela, mas as duas tentaram e viram que, a menos do jeito que precisava acertar pra mexer, talvez a portadora da luva pudesse fazer um bico de fogão.
Pra evitar acidentes, elas voltaram a fazer no fogo, e já estava perto do ponto. E quando pararam, realmente passou um pouquinho e o fundinho ficou queimado. Bibi naturalmente culpou Flambarda, que meio que aceitou a culpa, mas raspou a parte de baixo antes de comer a parte de cima. Elas fizeram bastante brigadeiro, tanto até que dona Marta colocou em alguns potes vazios de manteiga, embalou em uma sacola de mercado, e mandou com ela de presente. No final das contas, as duas amigas nem conseguiram conversar talvez tudo o que queriam. Estavam mais focadas em fazer as coisas acontecerem.
E foi quando Flambarda estava na plataforma de metrô de Vicente de Carvalho que ela se deu conta, de que ela, e Marta estavam com elementos majoritariamente verdes e vermelhos. Enquanto Fabiana estava mais para cinza e azul, mais parecido com o ambiente em geral, mas confome se encontraram, as luzes que circulavam por sua amiga, passaram também a assumir as mesmas coires quase como se ela tivesse indiretamente influenciado a amiga. Ela olhava para si própria vendo as energias mais brancas, quase como se ela fosse uma lâmpada de neon.
"Será que as minhas energias influenciaram a Bibi? Que caralhos aconteceu ali? Será que eram esses os impulsos e os movimentos que haviam dentro de mim? Eu acho que to começando a pegar o jeito da coisa, mas eu vou pesquisar mais sobre isso quando eu chegar em casa."
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