- Vem cá, sua piranha. - Disse Flambarda para Fernanda. - Você não é pica pra caralho?
- Depende do que você chama de pica.
- Eu vi você brigando com o Rain. Não mete essa.
- Ah. Você diz que eu sei bater?
- Você é forte pra caralho. Você pode ir e vir do jeito que quiser, e mesmo assim fala pra eu ir lá.
- Bom, é porque a gente ainda é humana. Aguenta até um pouco mais, mas se a gente levar um tiro morre do mesmo jeito.
- E quem é que vai te dar um tiro?
- O Entrenós.
- Que!? E você quer que eu vá lá?
- É... bem...
- Pau no seu cu, Fernanda! Esse filho da puta podia me matar esse tempo todo e você brincando de detetive!? Porra, nem os chefes da minha mãe falaram pra ela ir pro trabalho quando o tiro tava comendo! - Ela disse se levantando. - Não! Chega dessa porra! Pelo menos quando eu era Druida o Rain não me colocava na linha de tiro! - Ela bateu na mesa e começou a sair.
- Eu falei que ela era difícil... - Disse Japa.
Flambarda estava puta da vida. Ela lembrou dos golpes que o Entrenós desferiu. Aquilo doeu, e começa a fazer algum sentido. Socar uma parede não doía tanto, mas os golpes mais sobrenaturais que recebeu realmente machucaram. A investigação era perigosa, e sua raiva era ainda maior porque em nenhum momento isso foi dito. Ela ainda estava relutante em recusar porque dentro de si, ela sabia de sua importância e que havia também um risco em deixar aquele cara fazer o que quer que estava fazendo, se é que Fernanda estava de fato falando a verdade. Imaginar que ela podia ser uma detetive também gerava uma certa paranóia na própria cabeça.
A detetive se pôs a mandar mensagm de para Sofia e Fabiana conforme saia do shopping. Ainda era de tarde e o movimento estava um pouco mais baixo. Uma de suas amigas mora relativamente perto mas ela não queria pertubá-la, ainda mais depois das últimas ocorrências. Talvez fosse um dia para pertubar Bibi, apesar de ter uma chance dela estar saindo com o Rodney.
Flambarda: Meninas to saindo aqui do Botafogo Escada Shopping
Sofia: Uai, que que vc tá fazendo aí?
Bibi: Nem chamou a gente!
Flambarda: A maluca da Fernanda me chamou, e eu to meio que na merda.
Bibi: Que que houve, miga?
Flambarda: Sabe aquela casa de Swing que a gente foi no outro dia?
Sofia: Que que tem?
Flambarda: O dono daquela porra é perigoso.
Sofia: Uai, como assim?
Flambarda: É. Ele tá metido com umas paradas bem ruins. O problema é que é sobrenatural.
Bibi: Puta merda.
Flambarda: Pois é.
Flambarda: Eu queria até dar um pulo aí, Bibi.
Flambarda: Tá ocupada?
Flambarda: Foi dar uns pega no Rodney?
Bibi: Oi oi.
Bibi: Não, pode vir.
Flambarda: Beleza. To indo praí.
Enquanto Flambarda procurava um breve momento pra respirar em algum lugar, todas as outras coisas pareciam pressioná-las forçando-a a seguir um determinado caminho, e ela, teimosamente, resistia enquanto dava. O peso de salvar o mundo misturado com o medo de morrer é um fardo muito grande e ela parecia finalmente entender como o Homem-Aranha devia se sentir, e isso porque o Homem-Aranha salva só Nova York. Ao mesmo tempo ela ficava imaginando como Fernanda e Rain deviam se sentir a respeito do mundo e das coisas a sua volta, se comunicando com centenas de pessoas e pedindo para que elas façam coisas e ainda tendo que lidar quando isso tudo da errado. Isso fazia com que ela se cobrasse ainda mais.
A conclusão óbvia era que a faculdade não fazia mais parte do horizonte de possibilidades. Isso a preocupava, pq na sua cabeça, sem faculdade, ela não conseguiria um emprego, e daí não conseguiria uma remuneração decente. Apesar da sua mãe conseguir, de alguma forma, sustentá-la. Em contra-partida, havia uma suspeita de que Jéssica tinha outra fonte de renda que não o trabalho como diarista, afinal, o pai dela era um Druida, e talvez aquele bando de gente doida pagava pra ela ser uma mãe pelo menos decente. Adiantou? Não porque o mundo é mais do que uma relação de mãe e filha, mas pelo menos ela não parecia ser uma escrota.
O que fazer então depois disso? Ela iria pra Bibi. Iria desabafar, explicar o que aconteceu, e depois explicar pra Sofia também, que nesse momento talvez estivesse com alguma pontada de ciúme, mas ela esperava alguma compreensão uma vez que não tem muito tempo que as três estavam lá na casa dela. Havia mais coisas que a detetive suspeitava. Devido a quantidade de coisas que aconteceram com elas naquela área, ela não queria ir para a casa de sua amiga com um alvo nas costas e expô-la a algum perigo desnecessariamente. Se Botafogo é um caldeirão de problemas sobrenaturais, e ela era um ponto de interesse, melhor se manter longe.
Nesse momento Flambarda teve uma epifânia:
"Peraí. Peraí. A 2a2 fica aqui em Botafogo. Um monte de coisa torta está acontecendo ali naquela caralha. De acordo com a Fernanda o Entrenós, que é o dono da 2a2, ta fazendo alguma merda que tá fudendo com o equilíbrio emocional e faz todo o sentido com todos os problemas que estão acontecendo por aqui! Puta merda! Será que todos esses problemas que deram em Botafogo foi por causa da influência desse filho da puta? Se for o caso, a Sofia tá em constante risco por causa dele! A gente esteve em constante risco por causa dele!
A Fernanda infelizmente tá certa! Eu preciso resolver isso! Não é nem uma questão de eu ser pré-destinada, é porque a minha amiga ta no meio do tiroteio! Eu talvez tenha o poder de parar isso e reduzir a chance de dar merda com ela! Mas que porra! Esse tempo todo eu tava fazendo a coisa certa e eu não era capaz de ver!
Mas e agora? Eu meio que fudi o rolê. Eu preciso falar com a Fernanda. Eu realmente preciso me dedicar a essa investigação, mas a Sofia e a Bibi vão ficar decepcionadas comigo... o que fazer?
Fora que eu tenho que trancar a faculdade, realmente, eu to fudida."
Ela finalmente chegou na casa de Bibi. Ela morava mais pra zona norte, lá pra Vicente de Carvalho. Tinha que fazer a baldeação e trocar de metrô, e ainda andar mais um pedaço, infelizmente pro lado oposto do shopping, mas tudo bem, o objetivo não era gastar dinheiro. Pensar que sua amiga ia tão longe só pra vê-las realmente fazia ela pensar o quão legal Fabiana realmente era e que talvez elas devessem tratá-la um pouco melhor. Marcar esse desabafo talvez fosse o início do pagamento de uma grande dívida que elas sempre tiveram com a amiga, e em nome de uma amizade tão gostosa, pagá-la é bem mais do que justo.
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