Dê uma voadora na porta e deixe as pessoas entrar, porra!
Não, eu não vou maneirar na linguagem.
Chegou em mim a notícia que começaram o Gamergate 2. Um vexame ao gamergate 1, que foi uma campanha que nem devia ter começado, mas que foi bem mais forte que o 2, talvez porque no 1 o cara tava vendendo pornô de vingança. Bom, mas a idéia é a mesma: gente que já pertence a um hobby, especificamente o de jogos eletrônicos querendo que outras pessoas: Mulheres, pessoas LGBT, pessoas negras, etc. Parece familiar? É porque é. O mundo de jogos eletrônicos era de uma população majoritariamente masculina, branca, cis, heterossexual. Os quatro cavaleiros da babaquice.
Sabe qual é o pior? Eu meio que caio nisso aí porque eu de certa forma performo isso tudo. Eu, apesar de aos poucos me identificar cada vez mais de forma agênero, eu cresci nesse tipo de meio, eu nasci como homem biologicamente, eu sou branco, eu e performo muito a cis e heteronormatividade... Mas eu tive o privilégio de conhecer pessoas fora desse círculo. Talvez porque eu sempre tive mais facilidade para me enturmar com o público feminino, e talvez essa facilidade de me enturmar com o público feminino tenha a ver com as minhas questões de rechaçar o gênero masculino com o qual eu me identificava menos e menos, mas esse artigo não é sobre mim. É sobre pessoas que querem fazer parte de uma cultura mas estão sendo rechaçadas pelo mero fato de serem quem são e não serem similares a outras pessoas de um grupo.
Então já sabemos o que é o Gamergate, mas quem é Sweet Baby Inc? Sweet Baby Inc é a vítima da vez. Que não é uma pessoa física, e sim uma pessoa jurídica. Essa é uma companhia que está sendo vítima de uma campanha de ataque, assédio, e ameaças. Isso significa assédio e ameaças as pessoas que trabalham na SBI (Sweet Baby Inc), e se tem assédio e perseguição, muito provavelmente quem é a vítima difícilmente fez algo de errado. Por que então estão perseguindo a SBI? A alegação que estão fazendo é de que essa empresa está empurrando a agenda "woke" nos jogos.
Não existe cultura woke
A SBI é contratada para escrever roteiros e personagens para os jogos de forma inclusiva. Personagens negres, mulheres, não-binaries... Em outras palavras, coisas que não sejam, homens, brancos, héteros, e cis. Talvez eles até apareçam, mas a idéia é retirar esse perfil da hegemonia para que outras culturas e outros povos sejam também contemplados na nossa cultura geral. Isso é cultura woke? No final das contas o que a SBI faz é desenvolver roteiros e histórias, não os jogos em si. Todo o trabalho da SBI pode ser jogado fora se e produtore de um jogo quiser. Por que elus não o fazem? Porque dá dinheiro.
Em outras palavras apoiar a Sweet Baby Inc é estar do lado da diversidade, é estar do lado contra-hegemônico, e como eu falei de forma indireta no último post estar do lado contra-hegemônico é a melhor forma de estar do lado da humanidade e da liberdade.
"Por que a Sweet Baby Inc.?" Você pode estar pensando. A resposta é simples, porque ela influenciou em jogos que tem franquias e temáticas fortemente conectadas a culturas de branquitude tais como God of War e Suicide Squad. E quando você tem um movimento em direção a uma quebra de paradigma de uma cultura hegemônica, a reação é inevitável. Reagiram, acharam um inimigo, e a idéia é destruí-lo. Novamente, defender a Sweet Baby Inc é defender a destruição de uma hegemonia em direção a uma cultura mais inclusiva, e portanto maior e melhor. Se hoje temos jogos com temáticas mais profundas com personagens mais diferentes e mais profundos, a gente tem que apreciar o trabalho da SBI.
Gatekeeping é ridículo - e é base de Imperialismo
A real é que Gatekeeping é uma das coisas mais escrotas que existe. Não é exatamente uma colonização mas é calcada no mesmo fundamento "A minha cultura é melhor que a sua". Só que enquanto a colonização é uma pressão para a alteração de uma cultura para outra, Gatekeeping é a proteção dessa. Só tem um probleminha com isso.
Não há cultura superior a outra. Os brancos europeus que vieram não tinham uma cultura superior a dos indígenas, mesmo tendo tecnologia superior. Os estadunidenses ao abrirem os portos do japão na violência bélica (apesar de não ter tido guerra diretamente, foi uma abertura na força mostrando tecnologia bélica de alta mortalidade) tinham tecnologia superior, especialmente a bélica, mas isso não diz respeito a uma cultura, e isso não é uma exaltação a cultura dos samurais, que era uma cultura machista pra caralho. É simplesmente um exemplo pra convencer que evolução tecnológica não é evolução cultural porque cultura não é só sobre economia.
Os porteiros em geral recorrem a pânico moral pra defender seus ideais. Que é exatamente aquilo que é aquilo que chamam de "cultura woke". Pânico moral por medo da mudança da cultura que já estabelecida. A questão é que a diversidade de pessoas inclusas em uma cultura tende apenas a enriquecê-la, das mais diversas formas, porque há a convivência de crenças e questões diferentes no mesmo lugar. Perceba que eu não to falando que os Europeus não podiam ter transmitido sua cultura aos povos indígenas. Eu to dizendo que a cultura indígena não precisava ser colonizada.
Mas se colonizar não é preciso, então por que esse processo aconteceu? Vamos especificar que a colonização não é um processo necessário para que duas culturas coexistam, mas a colonização é necessária para a perpetuação de uma cultura em detrimento de outra, e quando uma cultura é imperialista, ela tá pouco se fudendo pras outras. Colonização é sobre imposição da sua cultura, geralmente sob o pretexto de evolução e superioridade, e para propagar sua cultura imperialista, os Brancos colonizaram e continuam tentando colonizar outras culturas e não vão parar porque o imperialismo é sobre isso: Imperar.
E antes que alguém comente, eu vou cortar logo na raiz. Não havia como os povos originários defenderem e fazer um "gatekeeping" da sua cultura porque o objetivo do colonizador é a dominação completa de um povo , e isso inclui a destruição ou pelo menos a apropriação da cultura desse povo.
Obviamente o contra-argumento é: "Isso quer dizer que a cultura woke é uma colonização!" Não porque, primeiro, não existe cultura woke. Segundo, não dá pra destruir a cultura hegemônica porque a cultura hegemônica é quem tem detem os poderes materiais e é quem já está estabelecida. A colonização dos povos originários, só era possível porque a tecnologia bélica era superior e, portanto a destruição era iminente. Logo, não há uma tentativa de colonizar a cultura já estabelecida simplesmente porque isso é impossível. Essa cultura já estabelecida tem o domínio dos materiais necessários para fazer as coisas acontecerem, e dessa forma não só bloqueia como bloqueará qualquer tentativa de miscigenação de cultura que não aprovar. O que sobra as culturas colonizadas é se miscigenar a cultura do colonizador como forma de sobrevivência e evolução. Não há como os colonizados se defenderem.
Fontes:
https://indiecator.org/2024/03/18/sweet-baby-inc-and-gamergate-2/
https://www.wired.com/story/sweet-baby-video-games-harassment-gamergate/
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