- Fabiana?
- Flambarda?
- Fabiana... - Flambarda dizia, meio que aos prantos. - me desculpa.
- Flam, relaxa. Todo mundo já teve seu dia ruim.
- Eu to sendo uma péssima amiga. Não falo as coisas com vocês. Eu...
- Flam, não precisa ser vitimista.
- Eu tô tentando afastar vocês, tá bom!? Pronto! Falei!
Um silêncio tomou a conversa por um tempo. Flambarda chorou, mesmo tentando se segurar. Ela apertou a mão esquerda com força, quase como se fosse um gesto de contenção. Fabiana levantou-se da sua cama, foi até a janela, e conforme observava a rua e as pessoas que passavam para lá e para cá, tratou de responder a amiga.
- Você vai tomar no seu cu, tá bom? - Mais um momento de silêncio. - Você vai tomar no meio do seu cu. Você lembra o que eu passei com você? Não posso dizer muito sobre a Sofia, mas eu tava lá quando aquela merda daquele elevador travou e um bicho feio do demônio apareceu e falou que a gente ia morrer, e o Rodney tentou socar a cara dele e deu errado e você afundou o elevador, e as paredes começaram a apertar e vai saber o que aconteceu com aquele edifício depois de tudo aquilo.
- Bibi...
- E aí teve aquela vez que a gente entrou naquele alçapão lá na biblioteca da tijuca e a gente viu... - Fabiana frisou - ...a gente viu aquele filho da puta fazer magia na frente dos nossos olhos. A gente tá atolada nessa merda até o pescoço já! E você fazendo isso não tá ajudando a gente! Porque agora que a gente viu isso tudo, a gente sabe que mais cedo ou mais tarde alguma coisa vai vir atrás de gente com o pau durasso! E a gente não faz a mínima idéia do que fazer pra evitar ter o cu arregaçado por o que quer que seja essas merdas!
- Bibi...
- E agora você fica aí... Bibi; Bibi; Bibi... Na moral! Vai tomar no teu cu!
- Fabiana! Que merda! Dá pra me escutar!?
- Ufa... - O suspiro de Bibi foi tão forte que deu pra escutar nítidamente do outro lado. - Agora sim parece a Flambarda que eu conheço.
Flambarda se levantou, foi até o banheiro, e começou a vociferar de volta para Bibi, que, por alguma razão, preferia a sua amiga assim, parecendo uma doida varrida, do que prostrada e sem ação.
- Vou tomar no meu cu sim! Vou tomar quantas vezes forem necessárias pra evitar que vocês se chafurdem nesse mar de merda que eu tô! Então você pegue sua buceta e vá esfregar numa pica que não te jogue mais fundo nessa porra! Caralho! Pra piorar ainda passa a pegar o Rodney! Aquela porra é um imã de merda! E agora eu também sou! Onde quer que eu vá alguma merda bizonha acontece! E sabe o que eu faço!? Eu vou e me enfio mais nessa porra! E tudo porque eu não sei se eu sou de fato uma porra de uma escolhida que tenho que aceitar o destino que tá traçado pra mim, ou se eu tenho o direito de viver como uma pessoa normal que come, bebe, dorme e, principalmente, fode!
- Ah! Mas deixa eu te falar que fudendo você já tá! Tá fudendo comigo e com a Sofia! E não tá pagando nem um pastel com caldo de cana!
- Claro! Vocês parecem duas taradas atrás de um pau GG com essa porra!
- Flambarda! É porque agora já era!
Subitamente a coisa estalou. - "Caralho! Eu sou muito burra! É óbvio que elas não tem escolha! É pior! Elas escolheram essa merda! E agora?" - Flambarda saiu do banheiro foi correndo até a cozinha, carregando o celular, e foi beber água enquanto falava com Fabiana. Enquanto isso, sua amiga continuava.
- Você tá achando o que!? Tudo bem que você tem uma luva foda que pega fogo e tira uma porra de uma arma do cu, mas eu e a Sofia somos suas amigas, e a gente não quer ser âncora, sabe? A gente quer te apoiar, seja pra você sair dessa ou pra se afundar de vez.
- Porra... - A detetive bebeu um gole d'água no meio da fala. - Vocês são foda. Na moral. Cês querem tomar no cu gostoso? Então tá bom. Se preparem porque a pica vai entrar e vai entrar fundo.
- Isso! Mas pode ser amanhã porque hoje já tá tarde?
- Claro que vai ser amanhã. Eu já tive emoção o suficiente por um dia hoje.
- Ufa, a gente se vê amanhã então?
- Amanhã, Bibi.
- Beleza, Flambunduda.
- Beijo e tchau.
Flambarda desligou o telefone, passou um café pra ela e pra mãe, que ainda estava assistindo o Jornal Nacional. Elas se abraçarem silenciosamente. Jéssica escutou sua filha vociferando pra amiga no telefone, e tentou respeitar a vontade dela de conversar ou não. O mero fato dela ter se deslocado de volta pra sala ja dizia bastante sobre como ela estava buscando ajuda. Ligar pra Fabiana também foi uma forma disso. Talvez ela estivesse crescendo, ou talvez só estivesse desesperada, ou talvez a gente só cresça em meio ao desespero. Ela se sentou agora do lado da mãe, dividindo o sofá. Assistiram juntas ao que restava do jornal até o próximo comercial. Quando terminaram, a mãe foi ao banheiro e Flambarda se voltou ao telefone.
Deu uma passada nas redes sociais. Nada de interessante. Bastante assunto de política. Ela olhava praquilo pensando se seria realmente importante se inteirar dos assuntos além da sua vida, que era conturbada demais. Jéssica voltou do banheiro, e quando ela o fez, foi a vez de sua filha. Ela sentou pra fazer seu xixi, enquanto meditava e raciocinava sobre o mundo a sua volta vendo aquele bando de pisca pisca pra lá e pra cá. Muita luz branca. Luz essa que se confundia um pouco com a própria luz do banheiro e acabava sendo difícil de ver mas se tornava evidente quando passava por algum ponto mais colorido como a toalha pendurada ou mesmo sobre si mesma.
Isso a fazia refletir sobre a luva. Será que em algum momento ela teria algum domínio? Alabáreda falou que ela só precisava canalizar energia pra mão e a coisa ia funcionar. O problema é que ela nunca treinou pra isso, apesar de todo mundo falar que ela tem talento natural, mas por que não tentar? Ela olhou pra luva com determinação, canalizou um pouco de energia, e no mais puro estilo Kyo Kusanagi. Ela apertou a mão e fez como uma pequena explosão, conjurando as chamas ao redor da luva, mantendo assim por um tempo, até liberar a tensão, e juntamente a ernergia que ela canalizou pra luva, fazendo as chamas extinguirem.
Em seguida ela foi se deitar. Foi se deitar cedo porque queria ter certeza de que amanhã seria um novo dia. Muito provavelmente seria louco como todos os outros tem sido, mas ela queria pelo menos comprar pão, tomar café e ir pra faculdade. Pelo menos um raciocínio simplório pairava a mente dela dessa vez.
"Legal. Agora é só eu aprender a fazer aquele especial do socão do 2000. Ou talvez o Magnokinda do 97/98."
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