sábado, 23 de março de 2024

Flambarda - A Detetive Elemental #73

- Sabe. Acho que no final das contas é uma lição pra gente aprender a não pegar qualquer coisa do chão. - Disse Flambarda, sentando-se em uma das cadeiras de um vagão quase vazio.
- Ou de que não dá pra lutar contra o destino? - Indagou Fabiana.
- Bom, quando o destino da gente tá sendo escrito por outra mão, realmente é difícil. - Sofia concluiu.

Não tinha muito o que dizer após o fim de assunto dado pela jovem exótica. Talvez se as outras duas lessem mais, porém não era a fonte principal de cultura delas, então ficaram em silêncio pelo resto da viagem, observando as pessoas que entravam e saíam. O Vagão ficava mais e mais cheio, mas não parecia ter nada de errado. Era só gente. A detetive apenas via energia fluindo livremente para um lado e para o outro. Ela ergue a mão direita e a abriu, fazendo com que, na sequência, parecido com o que aconteceu no ônibus no outro dia, energias dançassem ali, quase como se a jovem pudesse canalizar as energias de formas especiais. Ela dançava com a mão e as energias dançavam junto, o que naturalmente gerou questionamentos por parte de suas amigas, que preferiram não desconcentrá-la.

Flambarda agora trouxe a mão esquerda, que passou a dançar junto com a destra com diversos movimentos aleatórios porque ela não fazia a mínima idéia do que estava fazendo de fato, apesar de estar se divertindo. Até que o metrô começou a sair da estação do Flamengo em direção a Botafogo, o que fez com que Sofia e Fabiana se levantassem. A detetive então perdeu a concentração e os elementais tomaram algum outro caminho conforme ela se levantou para seguir o fluxo. Bibi naturalmente perguntou de curiosa.

- Que porra era aquela Flam?
- Que porra?
- Aquele parada que você tava fazendo com a mão.
- Qual!?
- Sei lá! Cê tava brincando com as mãos assim. - Bibi fez uns movimentos meio aleatórios com as mãos
- Ah! Aquilo... Como é que eu vou explicar. - Flambarda pensava em como explicar de forma a não parecer uma doida varrida enquanto subia as escadas para fora da estação. - Então, sabe aquele papo de gente que vê fantasma e tal?
- Hm?
- Então, é como se eu visse uns fantasminhas.
- Ué? Como assim?
- É difícil de explicar. Eu não faço idéia de como caralhos eu vejo isso, eu sei que eu vejo, tá legal? Acho que já tem uma semana que eu vejo essas merda. É umas porra duns pisca pisca do caralho, mas o Rain falou que era o fluxo elemental das coisas.
- Caralho! Que foda! Você vê os elementos!
- Não, eu vejo luzinha. É diferente.
- Que mané luzinha! Você enxerga o mundo que a gente não vê!
- Caralho, Bibi! Eu enxergo essa porra em tudo quanto é lugar, que eu já to começando a me acostumar, mas a minha vista tá mais poluída que a Baía de Guanabara! Então acalme seu cu, tá bom!?
- Eita. Tá bom. Ainda tá estressada.

Ao chegar no que podemos chamar de saguão, elas olharam ao redor. Nenhum sinal do Rodney. Pessoas iam e viam, como era de se esperar em uma estação de metrô. De fato, chegaram mais cedo do que marcaram e começaram a pensar e discutir sobre o que fazer enquanto não dava a hora de se encontrar com a criatura.

- Tá, a gente vai fazer o que? - Fabiana perguntou
- Vamo lá pra casa. Manda um zap pro Rodney, e a gente encontra ele lá. - Sofia sugeriu
- Tá, mas sem zap. - Flambarda adicionou.
- Ué? - Bibi indagou. - Tá doida?
- Eu quero saber se ele é capaz de prever as coisas mesmo.
- Hmmmm... - pensou Fabiana. - Faz sentido.
- Intrigante. - Sofia concluiu. Conforme começava a se deslocar. - Até onde será que vai o poder do Rodney?

O caminho parecia normal, elas precisariam andar um pouco ainda até chegar lá subindo a Muniz Barreto até a Marquês de Olinda. As três olharam para a saída da Rua Alfredo Gomes, que deria no Praia Shopping, que elas tanto visitaram e muito provavelmente visitarão no futuro. As lembranças foram imediatas. Não teve muito tempo que elas viram o início do mundo delas virando de cabeça pra baixo, e cada dia que se passava parecia que o mundo capotava mais um pouco, a pergunta que elas se faziam, mesmo sem conversar uma com a outra era algo na linha: "Qual vai ser a merda que vai dar hoje?"

Sofia abriu o portão com a chave, e então elas subiram até o apartamento como era o esperado. A fome estava naturalmente começando a apertar, e a dona da casa começou o seu trabalho de cozinhar enquanto as outras começavam a ficar mais a vontade. Fabiana foi até a cozinha para cortar cebola, alho, e fazer o básico, e Flambarda decidiu que talvez a cozinha ficasse pequena demais para 3 mulheres querendo dar pitaco na comida e passou a admirar a sala de Sofia. Estava diferente desde a última vez que ela esteve aqui. Parecia até que Sofia estava tentando equilibrar tudo numa espécie de paranóia. Da mesma forma, Flambarda via elementos de todas as cores ali. Jogado em um canto do sofá, algo que talvez parecesse uma apostila. Um monte de papel jogado, mas com símbolos que chamavam a atenção.

E não era pra menos. A jovem exótica parecia estar afundando no universo que a detetive tentava evitar. Ver que sua amiga estava estudando o Wu Xing para tentar entender como tudo isso funciona a fez pensar o quão boa ela estava sendo. Também era admirável o esforço que estava ali uma vez que havia muito material para se ler, além da falta de referências com qualquer coisa da cultura delas. Talvez nem tanto pra Sofia, uma vez que ela sempre parecia saber mais do que o superficial sobre qualquer assunto que conversavam, mas conforme Flambarda lia, mais absorvida ela parecia ficar. As outras duas as vezes voltavam para espiar, e viam que o foco da companheira, e decidiram juntas que talvez fosse melhor deixar que ela lesse até que a comida estevesse pronta.

Mas havia mais eventos esperando. Rodney mandou uma mensagem pra Fabiana. Uma mensagem que por algum momento parecia confortar o coração da detetive. Conforme Bibi soltou um - "É, parece que ele realmente não previu que a gente viria pra cá."

Rodney: Ué, cadê vocês?
Fabiana: Na casa da Sofia.
R: Porra
R: Nem pra avisar
F: Desculpa
F: A gente chegou muito mais cedo
F: Aí a gente decidiu vir pra cá até pra comer mais barato
R: Tem comida aí?
F: Tem, uai.
R: Posso ir aí?
F: Sofia falou que pode
R: Beleza
F: Sabe chegar né?
R: Acho que lembro
F: Manda mensagem se precisar

Flambarda parou de ler o material de Sofia. A cabeça dela parecia um pouco cheia de informação demais, mas as mudanças na sala de Sofia começavam a fazer sentido. Quadros com pinturas bem coloridas. Os efeites das estantes, também, tudo isso para quebrar o excesso de branco das paredes e dos móveis, e do preto dos eletrônicos e do sofá, os elementos mais predominantes ali na sala. Isso naturalmente a fazia se perguntar como está o quarto de sua amiga, mas não talvez não fosse a hora pra isso, uma vez que a comida estava pronta. Quase vegana, mas tinha uma linguiça cortada fina pra dar algum sabor mais carnívoro pra quem quisesse.

- Já sabe o que vai perguntar pra ele? - Sofia indagou
- Saber eu já sei. Só to pensando se vou no estilo babaca ou se tento dar uma voltinha.

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