Só que havia muito mais coisas com as quais a detetive precisava lidar, e no momento estava tentando criar uma espécie de conexão com esse mulherão que a recebeu relativamente bem, apesar de se perguntar se não era apenas por causa da bendita da luva, mas era particularmente útil porque ela recebia uma atenção toda especial que o Paulo não podia dar, ou talvez não quisesse dar por qualquer razão que fosse, e como personal é uma coisa cara, ela certamente não estava reclamando, e os exercícios realmente pareciam estar surtindo mais efeito, e naturalmente, a consequência é que o corpo dela parecia mais cansado, além de doer mais.
- Mas, vem cá, Sandra - Flambarda indagou - era pro corpo ficar doído assim mesmo?
- Bom, você agora tá fazendo de um jeito que faz um pouco mais de força, e digamos que você ainda é sedentária, né?
- Nisso você tá certa. - A detetive bebeu um gole de água antes de continuar a falar - mas até que essa regularidade tá me fazendo bem. As cólicas nem parecem tão violentas.
- E por que você acha que eu faço exercício? - Sandra começou a fazer um Supino reto e sua companheira foi conversar no descanso do próximo treino.
- Teu cu que é só por causa da cólica. - Flambarda respondeu. - Esse corpo aí de fazer inveja, toda trabalhada, só acho que não deve fazer muito sucesso com muito homem porque a maioria deve ter até medo de chegar perto de você.
- Ainda bem... - Ela ia falando em meio as repetições. - Que eu não preciso... De homem... Pra me satisfazer.
Flambarda olhou pra Sandra com os olhos um pouco arregalados, talvez com medo de que estivesse recebendo uma cantada ao vivasso mas ela tentou contornar.
- Nada, sugador de clítoris - Flambarda ja ouviu falar disso mas nunca foi atrás.
- E é bom esse negócio?
- Querida, depois disso fica muito difícil querer homem.
Sandra terminou, e o tempo de treino estava acabando porque ela em algum momento precisava sair para faculdade. Ela foi até o vestiário, se trocou, pensou um pouco no que foi dito na conversa, e certamente precisaria bater um papo com Sofia. A menos de seus pensamentos libidinosos, o dia se passava "normal". Fazia um tempo que Flambarda não tinha um dia "normal" e isso já começava a parecer muito estranho, mas colocar o papo em dia com as amigas depois de tanto tempo era libertador, mesmo que fosse tomando aquele sorvete superfaturado da cantina.
Até que chegou a hora da saída. A detetive pegou o metrô para casa, lotado como sempre, naturalmente depois de terminar os assuntos com suas amigas. Flambarda voltou passou na padaria, comprou pão e voltou pra casa, chegou um pouco antes de sua mãe, e começou a acertar alguma coisa pra janta. Ela dificilmente fazia isso e naturalmente acabava não acostumada a resolver os dilemas que a cozinha trás como: "Tem essas coisas na geladeira, o que posso fazer?" Pelo menos ela sabia passar o café pra sua mãe, mas ela tava mesmo afim de beber um nescauzão porreta o que ela fez, e acabou optando por não comer nada específico.
Ela sentou-se no sofá da sala, ligou a netflix pra assistir alguma coisa até sua mãe aparecer. Não demorou muito, foi meio episódio de Orange is the New Black até sua mãe chegar. Ela pausou a série assim que Jéssica terminou de abrir a porta porque sabia que ela ia querer ver a novela.
- Já começou Paraisópolis?
- Ainda não. - Disse a detetive se ajeitando no sofá pra dar espaço pra mãe. - Mas vai começar agora agora.
- Ufa! Cheguei a tempo! - Disse Jessica, enquanto servia café para si.
- Tá acabando o RJ2.
Não ver notícias onde ela, druidas, e magos estariam provavelmente envolvidos, trazia alguma esperança para a jovem, mas desde que começou a investigar coisas, e viu que as notícias as vezes não passam perto da realidade, ela se pergunta onde é que determinadas coisas podem ter influencias sobrenaturais e onde elas não poderiam. Pra dificultar, olhar para as imagens das pessoas na TV não mostra os elementos que ela estava naquele momento, apenas mostra que a TV está em atividade. O que é, de certa forma, inútil, mas ela não queria pensar nas energia que passeavam pela televisão. Pelo menos não hoje onde as coisas pareciam minimamente normais.
- Você parece... - Jéssica iniciou uma conversa enquanto sentava no sofá.
- Entediada? - Flambarda complementou.
- É... mas antes você parecia viver na corda bamba também.
- Eu honestamente não sei dizer o que eu gosto mais.
- É bom quando aquilo que a gente faz parece fazer diferença, né?
- Parece que sim. Dá uma sensação foda.
- E é por isso que serviço doméstico é um saco. - Houve uma pausa momentânea. - ou pelo menos até você lavar o banheiro.
- Realmente, o banheiro faz uma diferença do caralho.
- Mas é um saco porque tem que fazer todo o dia.
- Todo o santo dia.
- É...
Jéssica viu a filha sacar o telefone num movimento estiloso, olhar, pensar por um instante, e reclamar na sequência.
- Merda, amanhã eu vou me encontrar com a Sandra.
- Por que? Vai sair hoje?
- Pensei em sair
- Que caralhos você vai fazer lá fora, Flambarda?
- Sei lá!
- Você é uma detetive, tá bom! Você não trabalha rodando as ruas igual uma porra de avestruz alucinado! Bota essa cabeça pra funcionar! Caralho! Até parece que não pensa!
Sua mãe hoje não passaria frio, pois estava coberta de razão. Não há razão pra ela ir lá fora, ela é uma detetive! Ela tem que juntar as peças dos quebra-cabeças que estão rolando, e se tinha alguma coisa que era um quebra-cabeça era tudo que acontecia na sua vida recem virada de cabeça para baixo, mas ainda haviam coisas. Ela tinha normes, ela conhecia pessoas, mas nunca imaginou que daria tanto trabalho juntar as peças, provavlemente porque ninguém nunca ensinou pra ela como as peças se encaixavam, ou pra ser mais exato, como descobrir o encaixe delas, já que na vida real, nenhum desses problemas tem encaixes bonitinhos.
Ela deu um beijo na bochecha da sua mãe, seguido de um: "Te amo!" O que pode ter deixado Jéssica um pouco confusa, mas ela disparou pro quarto em seguida. Talvez ela não fosse a melhor detetive do mundo, mas estava disposta a pelo menos pegar no tranco. Ela pegou um caderno e começou a anotar as coisas. Tudo o que ela sabia, tudo o que ela descobriu, e todas as pessoas que poderiam estar envolvidas em todas as tramas do tecido que a envolve. Ela não poupou nomes, nem mesmo o de sua mãe. Precisava colocar as idéias no lugar e é isso que ela ia fazer, e se tudo der certo, talvez ela fosse conseguir mais alguma coisa a respeito do Entrenós, que era o caso que Fernanda pediu pra investigar.
Só que ela não tava errada também. Nada apontava pra alguma pista nova. Ninguém realmente parecia relacionado com Entrenós. Talvez a própria Fernanda porque parece que as criaturas já se conheciam de alguma forma. O que será que falta? Como as coisas vão se encaixar? De tanto fritar a cachola, ela acabou dormindo e nem reparou que havia dormido sem nem trocar de roupa. Ela acordaria 1h da manhã pra reclamar disso e se vestir adequadamente para dormir, o que é basicamente sem roupas - de acordo com o calor do Rio de Janeiro - mas certamente não iria dormir de calça jeans. Não mesmo.
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