Sandra é alta, forte, usa roupa de academia preta, mas certamente não era nada que fosse comprado em C&A ou Riachuelo. Parecia que ela tinha dinheiro pra arrumar aquelas roupas boas de loja de esportes, além de ostentar um belo corpasso de atleta e era relativamente mais proporcional, diferente da Gracyanne, que tem lá seus méritos, mas não fazia Flambarda questionar a própria sexualidade como essa mulher estava fazendo sem nem mesmo tentar. Por onde ela passava, arrancava suspiros e há quem argumentasse que o trânsito da tijuca ficava mais lento no horário em que ela passava pra ir a academia que era a noite.
- É sempre nessa hora que você costuma vir pra academia? - A detetive perguntou.
- É sim. É a hora que dá, né?
- Eu super entendo.
- Já você pelo visto não tem rotina, né?
- É...
- Deu pra notar.
- Mas você já esteve na academia em outros horários também.
- Uma coincidência oportuna, talvez?
- É, você tem que me explicar melhor esse lance aí.
Elas chegaram juntas na academia, o instrutor Paulo já tinha saído, e isso parecia ser um alívio. Olhando ao redor a maioria das pessoas não parecia sequer conhecê-la, e por mais que ela usasse uma luva espalhafatosa, não parecia nem chamar atenção. Ela pretendia se manter assim, mas para isso precisaria dosar os exercícios severamente para evitar forçar o corpo demais e ativar as chamas, mas como fazer isso com Sandra do lado? Será que ela estava realmente pensando em fazer alguma coisa em dupla?
Sandra já estava vestida, pronta pro exercício. Flambarda teve que ir até o trocador. Por alguma razão suas roupas de academia ainda estavam dentro da mochila, apesar do cheiro não ser dos melhores. Ela olhou e pensou em quanto tempo precisaria deixar aquilo na máquina de lavar, ao mesmo tempo que pensava numa solução para evitar transparecer muito mal cheiro e vestia o que havia disponível. Tascou-lhe um rexona violento basicamente no corpo todo pra disfarçar e rezou, mesmo sem acreditar muito em Deus, dado tudo o que ela já passou. Passou a se policiar novamente quando voltou ao salão principal onde as pessoas faziam exercícios e Sandra puxava um supino bacana. Flambarda se aproximou meio que sem saber exatamente como se comportar. Ela realmente não ia academia pra puxar ferro. O negócio dela era fazer o básico pra secar a barriga, ou seja, esteira, logo a primeira coisa que passou a analisar é o peso total que sua atual companheira estava levantando.
- E aí? - Sandra perguntou
- E aí?
- Cê pega quanto no supino?
- Se for pra pegar no ferro, eu prefiro pegar em outro. - Flambarda preferiu tentar seguir na linha do seu humor pervertido.
- Ahn, safada! - Ela baixou a haste. - Serinho, quanto cê pega pra eu poder ajeitar aqui pra você.
- Olha. - A detetive parecia meio envergonhada de falar e olhava para os lados procurando a melhor forma de explicar. - Assim... Eu nunca fiz supino.
- Ah, então vamos botar aqui 5 quilinhos pra você, deve ser o suficiente. - A semi-atleta já estava em pé trocando os pesos para ajeitar na haste.
- Sério! Eu nunca fiz, e nem sei se eu quero... - mas o aparelho já estava pronto.
- Deita aí, vamos fazer uma sériezinha.
- Sério isso? Eu nunca quis fazer musculação. - A jovem resistia
- Olha... - Sandra chegou mais perto de Flambarda se apoiando na coisa mais próxima que tinha ali. - ...você sabe que você precisa ficar mais forte. Então... - Mas a detetive interrompeu.
- Preciso não! - Ela estendeu o dedo indicador, balançando lateralmente indicando negação. - muita gente já quis me dizer o que fazer, e você não vai ser mais uma delas. E foi então que Sandra entendeu o quão invasiva ela foi.
- Eu... - Ela parecia envergonhada. - ...Me desculpe. Eu não queria parecer grossa, nem nada. A gente pode então só fazer a esteira juntas conversando pelo menos?
- Ok. Isso eu topo.
Flambarda olhou ao redor, as cores da academia eram majoritariamente azuis. - "O professor Elimar tava falando alguma coisa sobre essas fagulhas, mas como é que isso funciona mesmo?" - As coisas pareciam extremamente calmas, apesar de algumas pessoas realmente terem bastante verde e vermelho dentro de si, não era o panorama geral do ambiente, e de alguma forma, essas energias azuis aos poucos transitavam pelas pessoas também que abandonavam outros tipos de fagulhas. Talvez fosse um momento calmo pra tentar conversar e obter alguma resposta enquanto estavam na esteira nas velocidades mais baixas.
- Olha. você disse que me viu no dia que eu desmaiei, não foi? - A Detetive inquiriu
- Assim... - Sandra parecia se enrolar de novo. - ...Talvez eu tenho um pouco de culpa nisso...
- Como é que é? - Flambarda ficou estupefata, mas tentou manter a pose pra não cair da esteira.
- Eu vi a luva pegando fogo e eu vi que você precisava se acalmar, então eu canalizei energia de água pra você.
- Que? - Ela fingiu surpresa enquanto pensava: "Cachorra!"
- Não é como se você não soubesse que dá pra fazer isso. Eu só errei a dose. Quando escutei o seu baque caindo no banheiro foi que eu percebi.
- Então você é igual o Rodney? Você faz parte da SDRJ também?
- Rodney? Rodney Simões?
- É.
- Conheço a peça. Meio estranho.
- Nem me fale, mas acho que foi a única outra pessoa que eu vi que sabe fazer esse tipo de coisa. - "Conhece o Rodney, provavelmente é druida." - é um pouco impressionante da primeira vez, e agora pareceu impressionante de novo.
- É impressionante dividir o mesmo espaço com uma portadora
- Ah, Isso!? - Ela olhou pra luva com uma expressão conformada e aumentou um pouco a velocidade da esteira. - pra mim é só mais problema.
Quando ela viu Flambarda acelerar, ela acelerou junto e pausaram a conversa por um tempo. Ambas imersas em seus próprios pensamentos. Sandra tinha curiosidade, apesar da diretiva da SDRJ de tentar sempre manter algum olho sobre a detetive. a detetive, por outro lado, tentava juntar as peças de um quebra-cabeça que ela não sabia nem se um dia seria capaz de montar, mas sabia que se Sandra era druida e conhecia Rodney, então provavelmente é da área e certamente conhece o Rain, que é o chefe dos druidas. Se querem me vigiar, talvez um dia vão querer me levar, então manter uma vida sem rotina parece estar me salvando de um possível sequestro, mas pra que o Rain vai querer me levar? Se Rain e Fernanda conversam, como pareciam fazer apesar de uma aparente rivalidade, certamente sabem que eu trago mais problemas do que solução, e olhando por outras perspectivas, não é como se ele não soubesse por onde eu ando. Sandra me ajudou daquela vez, mas provavelmente sabia que eu estava a serviço da SDRJ. Será que ela faria o mesmo por mim novamente?
A detetive tinha muito mais perguntas sem resposta do que ela gostaria, perguntas que talvez ela gostaria de fazer diretamente, mas sabe que ali não é o melhor lugar. Ela precisa se conter ou vai acabar chamando atenção demais. Já fazia um tempo que ela estava correndo, até que ela olhou pro lado e viu que Sandra não estava mais correndo, estava parada, visivelmente cansada, olhando de volta perplexa. Flambarda estava tão focada, que estava simplesmente correndo em alta velocidade com facilidade, e como se fosse a coisa mais simples do mundo, ela reduz a velocidade da esteira até parar e se dirige novamente a companheira.
- Tudo bem?
- Sim... - Sandra respirava ofegante. - ...Não sabia que você era tão resistente.
- Eu sou? Eu só tava correndo.
- Quem te tiver na cama realmente vai ter trabalho.
- Ah, nem tanto. Eu sou fácil de agradar. - A detetive respondeu, ajudando a companheira a se recompor.
- É mesmo? Cê acha que eu consigo?
- Hmmmm.... - "Me cantando assim na cara dura!?" - ...Olha você não tem bem o tipo de coisa que eu gosto, mas - Flambarda a olhou de cima até embaixo. - quem sabe. - "Que Sofia nunca me escute dizendo isso".
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