quarta-feira, 24 de junho de 2020

Apenas Outra Peça no Tabuleiro

Eu acho que todo Brasileiro deveria parar pra escutar esse audio aqui.


Qualquer dia eu explico o histórico de como eu cheguei nesse vídeo, mas por enquanto eu só queria comentar um pouco das obviedades e alguns corolários.

Eu vou dar uma resumida no vídeo, caso você não tenha visto. O analista fala aquilo que a maioria dos Brasileiros já está cansado de saber: "Onde houver brecha, haverá corrupção". E cita como exemplo como alguns estados tem se comportado mesmo diante da situação atual, de acordo com as investigações da Polícia Federal.

E... cara... eu tenho tentado me abster de comentar sobre política mas a gente olha pra qualquer lado e não vê salvação. Na verdade as pessoas que poderiam trazer um mínimo de esperança nesse sentido geralmente acabam se afastando sob a pena de um destino trágico. A quantidade de gente que tem se afastado de cargos públicos por causa de escândalos sob uma situação de pandemia é, pelo menos, curiosa, especificamente aqui no Brasil, onde não há um consenso sobre o óbivo.

Veja que curiosamente, é esse conflito de poderes que faz com que as investigações sobre os indícios de corrupção se apresentem. Quando não havia conflito político, e consequentemente existindo mais acordos, não se viam mais essas operações e escrutínio sobre os dados e as movimentações financeiras que se faziam. Eu sou um rapaz jovem com memória baixa, mas vamos tentar lembrar de algumas coisas:

1992 - Esquema PC Farias - Collor
1996 - Escandalo da Pasta Rosa - FHC
2005 - Mensalão - Lula
2014 - Lava Jato - Dilma

Isso foram os principais, não estou citando nem citando os menores. O fato é, que todos esses escândalos ocorreram por causa de disputas de poder ou de dinheiro mesmo, sendo que o escandalo da pasta rosa nem foi tão pra longe assim porque o "Engavetador Geral da República" deve ter dado uma segurada na coisa. Eu não era crescido o suficiente pra entender um pouco desse jogo nessa época.

Veja você que o Mensalão foi denunciado pelo Roberto Jefferson que deflagrou uma investigação que tirou uma série de ministros e fez o Lula pedir desculpas em rede nacional. Já a Lava Jato, apesar de ter começado porque o Aécio ficou enchendo o saco, a investigação continuou porque a Dilma arredou o pé e deixou o sangue sujo da política jorrar, no que eu diria que foi um dos movimentos mais íntegros que eu vi um presidente fazer, apesar da integridade da presidente sempre poder ser questionada. Tomou o Impeachment porque não é uma questão de justiça, e sim, conforme eu disse antes, uma questão de poder ou de dinheiro.

E agora estamos sob uma situação de pandemia vivendo basicamente todas as crises possíveis. Só falta um desastre natural pra completar. A crise é sanitária, economica, política, social, e mesmo nesse fucking ambiente de crise os caras ainda dão um jeito de desviar recurso pro bolso deles, é simplesmente impressionante. Eu não sei se isso é exclusividade do Brasil, mas devido ao constante embate político os achados das investigações policiais vão aparecendo por todos os lados.

Agora vamos nos voltar para nós mesmos. O que nós somos frente a esses caras. No pior dos casos a gente é só gado a ser abatido, no melhor deles, somos apenas outra peça no tabuleiro, num jogo doentio onde a gente não faz nem idéia de qual é o objetivo de quem vem de cima, e mesmo assim as pessoas insistem em absorver os discursos de gente que não tá nem aí pra elas. São pessoas que vão ser cortadas assim que as oportunidades forem aparecendo.

E nesse ínterim, eu fico me perguntando qual é realmente a melhor das situações, porque num clima de crise política perpétua, os esquemas de corrupção são deflagrados e desfeitos aos poucos, mas ao mesmo tempo as camadas mais periféricas - e geralmente mais densas - da população sofrem e morrem em uma batalha que eles não estão nem participando. Essa parece ser uma escolha fácil. Oras, entre a vida das pessoas e a investigação policial, escolha a vida das pessoas. Não é verdade?

Não é tão fácil assim, porque sob a nefasta corrupção, a mesma camada da população sofre e morre, talvez numa taxa um pouco mais lenta, mas o resultado é congruente. Sendo que, obviamente, quanto maior a taxa da corrupção, mais dinheiro é desviado menos serviços públicos são oferecidos e mais gente morre! Quantas pessoas mais vão precisar morrer pras pessoas notarem que não dá pra desviar dinheiro e enfrentar uma porção de crises diferentes ao mesmo tempo?

E o que é mais bizarro é que o discurso não vale só pra quem está em cima, quanto pra quem está embaixo também. Organizações que distribuem as coisas gratuitamente, só pra verem os bens sendo vendidos ao invés de serem utilizados. É insano você pensar que as pessoas estão dando mais importância ao dinheiro do que aos procedimentos de higiene que tem mais chance de salvar a vida delas. A noção de que é importante consumir pra viver,  é tão forte que as pessoas se agarram nela como se fosse a própria vida.

A grande pergunta é: Como a gente quebra o jogo sendo só uma peça dele? Como pode o peão se recusar a fazer o movimento do jogador? A gente nasce no sistema já condicionado a ser uma peça. Somos ensinados a ser uma até o ponto em que lutamos pra continuar sendo peças pois é o único vislumbre que nós temos da nossa vida.

Talvez nós não consigamos deixar de ser peças, mas talvez possamos evitar que mais peças entrem no jogo.

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