- Ok, mas como é que eu ia te explicar que eu arrumei uma luva mágica que solta fogo sem você rir da minha cara?
- Assim ó: - Ela fez um gestual debochando da filha. - "Mãe, eu arrumei uma luva mágica que solta fogo. Pode me ajudar?"
- Tá de sacanagem né? Como é que eu ia adivinhar que você sabia dessa loucura toda?
- Você devia desconfiar desde que seu nome é Flambarda.
- Como assim?
- Senta que la vem textão. - Disse a mãe, colocando o livro de Wuxing no lugar e apontando para fora da biblioteca.
- Que que tem la fora?
- Você não quer mesmo ficar conversando dentro da biblioteca, quer?
Flambarda inchou as bochechas, estava levando bronca da própria mãe em um ambiente onde ela deveria ter a vantagem! Jéssica, a mãe de Flambarda parecia particularmente calma mesmo depois de ter sido raptada, quase como soubesse que seria resgatada em pouco tempo. - "Até onde minha mãe sabe dessas porras!?" - Ela pensava, conforme ambas iam se deslocando para uma sala onde haviam muitas mesas e cadeiras, mas estava curiosamente estava vazia.
Jéssica estava no seu habitual. Diferente da filha ela não era tão alta, e o trabalho pesado a fez ganhar ombros largos e braços razoavelmente grossos que se destacavam na camisa rosa sem mangas surrada de ficar em casa. Ela estava usando shortinho simples sem muita firula que exibiam suas pernas e chinelo havaianas todo florido. O cabelo estava desgrenhado depois de ir pra lá e pra cá sem ter tido a oportunidade de pelo menos penteá-lo, não era a coisa mais lisa do mundo mas faziam cachos selvagens até um pouco abaixo do ombro. Sua cor de pele mulata e seu cabelo negro mostravam que a sua origem tinha um pé na África.
- Ok. - Disse Flambarda se sentando em uma mesa. - Eu tenho esse diabo dessa luva que pega fogo. Eu peguei ela do chão no centro da cidade porque achei que era maneira mas eu nunca ia imaginar que isso ia grudar em mim e nunca mais ia sair.
- Olha... Eu honestamente... - Jessica ia falar mas foi interrompida pela filha
- E aquele bendito dia que você pegou uma faca!? Se você sabia de tudo isso, porque não me falou logo!?
- Flam... - Mas ela não parava
- E aí eu saio de madrugada e você parece achar isso tudo normal! Até parece que eu saindo de madrugada é uma coisa normal! Você não... - Agora a mãe interrompeu.
- Flambarda Novaes Aensland! - Ela disse gesticulando vigorosamente. - Cala a boca senão eu não consigo falar, porra! - Flambarda fez um sinal como se estivesse passando um zíper na boca. - Posso falar agora!? - Ela perguntou pra responder em seguida. - Obrigado! Enfim, o lance da faca era que eu queria tentar cortar a luva porque eu mesmo não sei como essa porra funciona. Quando eu vi que você não ia me contar mais porra nenhuma dessa merda eu liguei pra única pessoa que podia me responder alguma coisa, o Rain.
- Pera, você conhece aquele babaca?
- Era amigo do seu pai, era difícil não conhecer. Seu pai tava envolvido nessa porra toda.
- Papai?
- É! Seu pai fazia parte desse caralho de "druída". - Jessica acentuava a letra "i" porque sempre falaram errado perto dela. - Ele encheu o saco quando eu tava grávida que seu nome tinha que ser Flambarda. Deus, eu soquei a cara do homem e mesmo assim ele não desistiu da idéia, daí eu acatei pra ver se ele parava com isso.
- Pera, não era pra eu me chamar Flambarda!?
- O minha filha, eu queria por um nome normal em você, sabe? Tanto nome bonito... Ângela, Sofia, Ágata, Renata, Roberta... Aí vem seu pai e resolve por seu nome de Flambarda. A primeira coisa que eu fiz foi me perguntar de onde caralhos ele veio com essa porra desse nome. Só pra escutar de resposta que ele teve uma visão de que você seria a salvadora do mundo empunhando uma alabarda flamejante e por isso o seu nome deveria ser forte simbolizando a união dessas duas coisas.
- Que!? - Flambarda deu um grito indignada. - Quer dizer que esse filho da puta conhecia meu pai desde o início!? Esse viado sabia quem eu era esse tempo todo!? Ah não, peraí... - Ela fez como quem ia se levantar mas sua mãe a agarrou pelo braço.
- Senta aí que eu não terminei, porra!
- E daí!? Eu quero ir lá socar a cara daquele puto até ele cuspir a minha história.
- Ele não vai porque eu não deixei! - Flambarda ficou meio estupefacta e sentou novamente.
- Como assim?
- Seu pai encheu o saco pra por esse nome em você mas eu impus uma condição. Ele não ia forçar você a entrar nessa de salvadora do mundo. Eu ainda queria que você tivesse uma vida normal e seu pai tinha planos imensos e eu quase que enfiei a porrada nele porque ele não tinha que projetar nenhum sonho dele em você.
- E ele concordou com isso?
- E que escolha ele tinha? Ele criou você como uma pessoa normal, até a morte dele. Você foi no enterro dele e eu não quero gerar mais lembranças tristes pra você.
- Eu nunca sabia quando ele ia estar em casa, mas eu lembro de brincar bastante com ele...
- Pois é... Ele realmente se esforçou pra ser um pai "normal", porque a última coisa que ele era é normal. De qualquer forma, 2 anos depois você começou a falar que estava vendo um monte de luzes, e que elas brincavam com você. Só tinha uma pessoa que eu sabia que resolveria isso.
- Rain...
- Pois é. Ele veio, nos visitou e você falou que sua vista voltou ao normal e que você não enxergava mais nenhuma coisa colorida brincando com você. Eu fiquei aliviada, nós almoçamos e ele foi embora. Depois disso eu criei você como uma garota normal, mas foi difícil viu?
- Mãe solteira com filha pequena. Eu acho que eu consigo imaginar.
- Eu já tava desconfiada que tudo isso estava voltando pra você quando você começou a ficar estranha, mas quando eu vi a luva pegando fogo eu vi que não tinha jeito. Eu não queria que você entrasse nessa bagunça toda, mas pelo visto seu pai estava certo, era pra acontecer.
- Você acredita mesmo em destino, mãe?
- Porra, Flam, eu nunca parei pra pensar sobre destino, eu só não queria que você se envolvesse com isso porque eu sabia que era perigoso. Mais de uma vez eu vi seu pai chegar em casa cheio de ferida, todo arrebentado. Tu acha que eu vou querer isso pra minha filha!? Ele tinha acalmado depois que você nasceu apesar de continuar fazendo serviço pra isso.
- Eu não lembro do papai machucado.
- Claro, porque, como eu falei, ele sossegou depois que você nasceu.
- Certo.
- Mas como eu tava dizendo, mesmo que eu não acreditasse em destino, eu fiz até o que eu não queria pra você não entrar pra essa vida, mas daí mais de dez anos depois você me aparece com uma porra de uma luva que pega fogo do nada, é claro que eu ia acreditar que tinha uma profecia com você.
- Então eu tenho que salvar o mundo?
- Filha, eu quero que o mundo se foda. Só quero que você fique viva.
Flambarda saiu correndo de lá e voltou pra casa o mais rápido que pôde. Ela se trancou no banheiro, sentou no vaso pra fazer xixi e conforme fazia ela chorava e se perguntava. - "Por que eu!? Por que!?" - Ela sentiu como se tivesse uma responsabilidade enorme de consertar o mundo como se apenas ela pudesse fazê-lo e que se ela fracassasse simplesmente não haveria mais mundo. Ela lembrou das vezes que mandou o mundo tomar no cu, mas ela jamais esperava que algo dessa magnitude fosse cair sobre seus ombros.
Até o momento que ela escutou baterem na porta. Ela respondeu prontamente - SAI! ME DEIXA! - apenas para que dez segundos depois batessem novamente na porta do banheiro. - SAAAAAAAAAAAAAAAAAI! VAI EMBORA! ME DEIXA SOZINHA! - Ela ficou por cerca de um minuto em paz e finalmente achou que estava livre. Até que bateram na porta novamente e ela mentalmente gritou - "DESGRAÇAAAAAAAAAAAA" - mas falou em alto e bom som conforme colocava as roupas de volta - Ah é!? Então vamo lá! Me fala o que você quer me falar! - E abriu a porta.
- Assim ó: - Ela fez um gestual debochando da filha. - "Mãe, eu arrumei uma luva mágica que solta fogo. Pode me ajudar?"
- Tá de sacanagem né? Como é que eu ia adivinhar que você sabia dessa loucura toda?
- Você devia desconfiar desde que seu nome é Flambarda.
- Como assim?
- Senta que la vem textão. - Disse a mãe, colocando o livro de Wuxing no lugar e apontando para fora da biblioteca.
- Que que tem la fora?
- Você não quer mesmo ficar conversando dentro da biblioteca, quer?
Flambarda inchou as bochechas, estava levando bronca da própria mãe em um ambiente onde ela deveria ter a vantagem! Jéssica, a mãe de Flambarda parecia particularmente calma mesmo depois de ter sido raptada, quase como soubesse que seria resgatada em pouco tempo. - "Até onde minha mãe sabe dessas porras!?" - Ela pensava, conforme ambas iam se deslocando para uma sala onde haviam muitas mesas e cadeiras, mas estava curiosamente estava vazia.
Jéssica estava no seu habitual. Diferente da filha ela não era tão alta, e o trabalho pesado a fez ganhar ombros largos e braços razoavelmente grossos que se destacavam na camisa rosa sem mangas surrada de ficar em casa. Ela estava usando shortinho simples sem muita firula que exibiam suas pernas e chinelo havaianas todo florido. O cabelo estava desgrenhado depois de ir pra lá e pra cá sem ter tido a oportunidade de pelo menos penteá-lo, não era a coisa mais lisa do mundo mas faziam cachos selvagens até um pouco abaixo do ombro. Sua cor de pele mulata e seu cabelo negro mostravam que a sua origem tinha um pé na África.
- Ok. - Disse Flambarda se sentando em uma mesa. - Eu tenho esse diabo dessa luva que pega fogo. Eu peguei ela do chão no centro da cidade porque achei que era maneira mas eu nunca ia imaginar que isso ia grudar em mim e nunca mais ia sair.
- Olha... Eu honestamente... - Jessica ia falar mas foi interrompida pela filha
- E aquele bendito dia que você pegou uma faca!? Se você sabia de tudo isso, porque não me falou logo!?
- Flam... - Mas ela não parava
- E aí eu saio de madrugada e você parece achar isso tudo normal! Até parece que eu saindo de madrugada é uma coisa normal! Você não... - Agora a mãe interrompeu.
- Flambarda Novaes Aensland! - Ela disse gesticulando vigorosamente. - Cala a boca senão eu não consigo falar, porra! - Flambarda fez um sinal como se estivesse passando um zíper na boca. - Posso falar agora!? - Ela perguntou pra responder em seguida. - Obrigado! Enfim, o lance da faca era que eu queria tentar cortar a luva porque eu mesmo não sei como essa porra funciona. Quando eu vi que você não ia me contar mais porra nenhuma dessa merda eu liguei pra única pessoa que podia me responder alguma coisa, o Rain.
- Pera, você conhece aquele babaca?
- Era amigo do seu pai, era difícil não conhecer. Seu pai tava envolvido nessa porra toda.
- Papai?
- É! Seu pai fazia parte desse caralho de "druída". - Jessica acentuava a letra "i" porque sempre falaram errado perto dela. - Ele encheu o saco quando eu tava grávida que seu nome tinha que ser Flambarda. Deus, eu soquei a cara do homem e mesmo assim ele não desistiu da idéia, daí eu acatei pra ver se ele parava com isso.
- Pera, não era pra eu me chamar Flambarda!?
- O minha filha, eu queria por um nome normal em você, sabe? Tanto nome bonito... Ângela, Sofia, Ágata, Renata, Roberta... Aí vem seu pai e resolve por seu nome de Flambarda. A primeira coisa que eu fiz foi me perguntar de onde caralhos ele veio com essa porra desse nome. Só pra escutar de resposta que ele teve uma visão de que você seria a salvadora do mundo empunhando uma alabarda flamejante e por isso o seu nome deveria ser forte simbolizando a união dessas duas coisas.
- Que!? - Flambarda deu um grito indignada. - Quer dizer que esse filho da puta conhecia meu pai desde o início!? Esse viado sabia quem eu era esse tempo todo!? Ah não, peraí... - Ela fez como quem ia se levantar mas sua mãe a agarrou pelo braço.
- Senta aí que eu não terminei, porra!
- E daí!? Eu quero ir lá socar a cara daquele puto até ele cuspir a minha história.
- Ele não vai porque eu não deixei! - Flambarda ficou meio estupefacta e sentou novamente.
- Como assim?
- Seu pai encheu o saco pra por esse nome em você mas eu impus uma condição. Ele não ia forçar você a entrar nessa de salvadora do mundo. Eu ainda queria que você tivesse uma vida normal e seu pai tinha planos imensos e eu quase que enfiei a porrada nele porque ele não tinha que projetar nenhum sonho dele em você.
- E ele concordou com isso?
- E que escolha ele tinha? Ele criou você como uma pessoa normal, até a morte dele. Você foi no enterro dele e eu não quero gerar mais lembranças tristes pra você.
- Eu nunca sabia quando ele ia estar em casa, mas eu lembro de brincar bastante com ele...
- Pois é... Ele realmente se esforçou pra ser um pai "normal", porque a última coisa que ele era é normal. De qualquer forma, 2 anos depois você começou a falar que estava vendo um monte de luzes, e que elas brincavam com você. Só tinha uma pessoa que eu sabia que resolveria isso.
- Rain...
- Pois é. Ele veio, nos visitou e você falou que sua vista voltou ao normal e que você não enxergava mais nenhuma coisa colorida brincando com você. Eu fiquei aliviada, nós almoçamos e ele foi embora. Depois disso eu criei você como uma garota normal, mas foi difícil viu?
- Mãe solteira com filha pequena. Eu acho que eu consigo imaginar.
- Eu já tava desconfiada que tudo isso estava voltando pra você quando você começou a ficar estranha, mas quando eu vi a luva pegando fogo eu vi que não tinha jeito. Eu não queria que você entrasse nessa bagunça toda, mas pelo visto seu pai estava certo, era pra acontecer.
- Você acredita mesmo em destino, mãe?
- Porra, Flam, eu nunca parei pra pensar sobre destino, eu só não queria que você se envolvesse com isso porque eu sabia que era perigoso. Mais de uma vez eu vi seu pai chegar em casa cheio de ferida, todo arrebentado. Tu acha que eu vou querer isso pra minha filha!? Ele tinha acalmado depois que você nasceu apesar de continuar fazendo serviço pra isso.
- Eu não lembro do papai machucado.
- Claro, porque, como eu falei, ele sossegou depois que você nasceu.
- Certo.
- Mas como eu tava dizendo, mesmo que eu não acreditasse em destino, eu fiz até o que eu não queria pra você não entrar pra essa vida, mas daí mais de dez anos depois você me aparece com uma porra de uma luva que pega fogo do nada, é claro que eu ia acreditar que tinha uma profecia com você.
- Então eu tenho que salvar o mundo?
- Filha, eu quero que o mundo se foda. Só quero que você fique viva.
Flambarda saiu correndo de lá e voltou pra casa o mais rápido que pôde. Ela se trancou no banheiro, sentou no vaso pra fazer xixi e conforme fazia ela chorava e se perguntava. - "Por que eu!? Por que!?" - Ela sentiu como se tivesse uma responsabilidade enorme de consertar o mundo como se apenas ela pudesse fazê-lo e que se ela fracassasse simplesmente não haveria mais mundo. Ela lembrou das vezes que mandou o mundo tomar no cu, mas ela jamais esperava que algo dessa magnitude fosse cair sobre seus ombros.
Até o momento que ela escutou baterem na porta. Ela respondeu prontamente - SAI! ME DEIXA! - apenas para que dez segundos depois batessem novamente na porta do banheiro. - SAAAAAAAAAAAAAAAAAI! VAI EMBORA! ME DEIXA SOZINHA! - Ela ficou por cerca de um minuto em paz e finalmente achou que estava livre. Até que bateram na porta novamente e ela mentalmente gritou - "DESGRAÇAAAAAAAAAAAA" - mas falou em alto e bom som conforme colocava as roupas de volta - Ah é!? Então vamo lá! Me fala o que você quer me falar! - E abriu a porta.
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