O título é bem bonitinho né, mas a minha dúvida é mais intrigada pelo fenomeno da fotopenis, ou fotopolla, ou dickpic, como você preferir chamar, bem como também pensar o fenômeno do cantada de pedreiro. Muito provavelmente ao estudar um pouquinho de comunicação é muito provável que você tenha visto a seguinte figura em algum momento da sua vida.
Não é uma imagem errada. Ela até coloca a comunicação como se fosse uma espécie de um ciclo apesar de você pode também entender como se num segundo momento os papéis fossem simplesmente trocados e e Receptore passa a se tornar ume Emissore. Além disso eu já comecei a dissertar sobre isso em outra postagem mas eu não tinha focado nesse objetivo de pensar essa comunicação específica e enveredei mais por um caminho inicial acerca de linguagem e contexto, que é uma coisa importantíssima da comunicação. Só que dessa vez eu vou fazer duas críticas a esse modelinho aqui. Se elas são válidas? Talvez algume estudiose da comunicação possa dizer algo. Será que eu consigo alguém pra uma discussão mais interessante ou pra macetar as cagadas que eu vou falar?
Direto ao ponto, uma coisa que não é colocada, e talvez não seja o objeto de estudo da comunicação em si, mas eu creio que é pertinente, é o gatilho inicial da comunicação. Por que diabos e emissore vai enviar uma mensagem para o receptor? Qual é a razão pela qual e emissore vai enviar para e receptore uma mensagem que elu nem sabe se vai ser interpretada da mesma forma? A mensagem é tão especial que ela precisa ser disseminada? O que leva alguém a crer que seu pau é tão mágico que no momento que ele for enviado vai gerar uma reação positiva em e receptore e vai gerar uma resposta que inicia um ciclo virtuoso de comunicação?
O problema é que em geral as pessoas não colocam como esses ciclos tem início. Parece uma coisa mágica, mas tem que ter um gatilho que inicie isso aqui. Tome por exemplo essa postagem, o que será que me deu o gatilho de onde eu pensei - "Porra, preciso falar sobre comunicação" - e aí eu começo a pensar as palavras que eu vou usar pra te dirigir a pensar sobre as mesmas coisas que eu quero e pa e tal? Foi uma fotopolla? De fato foram fotopollas mas não enviadas para mim, nem para pessoas que eu conheço, mas eu tenho uma curiosidade em saber a razão pela qual as pessoas o fazem. Também tenho uma curiosidade genuína de saber porque uma pessoa vai passar uma cantada na outra, especialmente de uma forma descontextualizada. Faz sentido que entre dues amigues, algume entre elus confunda as coisas e passe uma cantada em outre. As vezes é até esperado.
Que Comece o Ciclo!
Eu estou dizendo que há um gatilho, há uma vontade de passar uma mensagem por parte de emissore, e esse intuito não pode ser ignorado. Alguém que manda uma foto de um penis para outra pessoa tem uma intenção, uma intenção que naturalmente depende do contexto, mas tem. Quando você manda uma fotopenis sem contexto pra alguém, qual seria a sua possível intenção? Eu particularmente não consigo pensar em nada que não seja minimamente agressivo, apesar da gente ter que se perguntar também porque nós associamos pirus a agressividade, mas tem mais uma coisa aqui que é o fato dos paus continuarem voando pelas mensagens privadas por aí, o que indica uma certeza de impunidade. Até porque é difícil punir alguém que te manda uma piroca e desaparece no ar.
Essas discussões naturalmente são importantes mas não são o foco desse post, aqui eu quero falar sobre o inicio das tentativas de comunicação porque nem todo mundo quer manter um ciclo comunicativo até porque como você faz um ciclo comunicativo com uma pica? Dá? Questionável. Aquilo que vai iniciar um ciclo de comunicação é naturalmente aquilo que é chamativo para e receptore e que naturalmente instiga a uma resposta. Geralmente algo que vai muito na linha emocional. Mesmo que a gente mude pro outro lado, e venha a famosa fototeta, e aí há uma questão sobre a agressividade da fototeta, mas dá mesma forma não dá pra conversar com peitos. Não dá pra conversar com xota, não dá pra conversar com bunda. Novamente, contexto, as vezes existe uma troca de sexting, e aí é outro papo. Uma teta exposta na sua timeline aleatóriamente é um caso de sexting? Que conversa se pretende iniciar ao enviar um pedaço de carne sensualizado para outra pessoa?
Isso significa que a gente não pode sinalizar interesse sexual em outra pessoa? Claro que podemos, mas como diria a magníssima Jana Viscardi, a forma com a qual nos comunicamos importa também. - Há quem diga que talvez importe mais até que o conteúdo, provavelmente porque somos muito mais atraídos pela estética, mas isso é especulativo. - Ora, se a forma importa, isso quer dizer que há uma diferença gritante em mandar a foto de um caralho em riste, do que uma pergunta minimamente educada mas sem graça do tipo: "Boa noite. Você é gostose. Bora transar?" Eu escolhi essa frase porque veja que ela é mais educada que uma fotopenis mas ela ainda tem a agressão do termo "gostose" que é controverso e algumas pessoas certamente não vão aceitar essa palavra muito bem sem um mínimo de contexto, mas ainda é uma forma melhor.
Voltando a questão da vontade, isso significa que o início do ciclo é uma forma de comunicar as intenções de e emissore. É a forma de emissore dizer, "eu quero fazer sexo" ou "eu quero um relacionamento", ou seja, emitir uma mensagem sempre dirá mais sobre nós do que qualquer outra coisa. As mensagens estão carregadas de nossas opiniões e nossas intenções em iniciar, manter ou encerrar os ciclos de comunicação pelas mais diversas razões.
Mantendo o Ciclo
Da mesma forma que um ciclo se inicia, em geral nós temos que dizer qual é a condição na qual esse ciclo se mantém. Se esse ciclo se mantesse para sempre, isso significa que toda comunicação seria um ciclo perene interminável de troca de mensagens e não é isso que se verifica na vida real. Se não há resposta, não há ciclo e diversas comunicações na nossa vida tem ciclos terminados. Algumas vezes o fim dessa comunicação é uma perturbação no meio tal qual "tá na hora de trabalhar", ou as vezes é a distância se manifestando durante uma despedida.
Logo a mensagem de resposta diz muito mais sobre e receptore, o que pra mim desbanca a idéia de que se você quer saber algo de alguém você precisa perguntar a outra pessoa. A resposta é carregada da intenção de manter o ciclo ou encerrá-lo, porém para tomar essa decisão e receptore precisa analisar as informações dadas por e emissore. Se desejar manter o ciclo, pesa agora a responsabilidade sobre a resposta ser instigante para que e emissore não queira fechar o ciclo. A coisa pode ficar mais complicada que isso da mesma forma que um protocolo TCP. Para mais informações sobre protocolo TCP eu falei sobre isso por aqui também.
Só que agora vem a segunda crítica. A comunicação ela é frequentemente colocada como a transmissão de uma informação para outra pessoa, só que quando a gente olha por essa perspectiva ela transmite muito mais intenções do que informação racional de fato. Avisar uma pessoa que tem um urso atrás dela, pode realmente ser uma informação interessante, mas ela pode ser apenas uma mentira com a intenção para te deslocar para uma outra posição. Então comunicação não necessariamente tem a ver com informar, mas tem a ver com manipular. Toda manipulação é ruim? Isso é questionável, mas em geral quem manipula tem um objetivo individual.
Só que se alguém compreende que comunicação é sobre manipulação, essa pessoa também compreende que manter ciclos a coloca sob uma posição de vulnerabilidade. Um manipulador então busca iniciar mais conversas e também encerrar mais conversas. Isso para mim é visível no debate público, onde personagens mais manipuladores tentam encerrar os ciclos e personagens menos procuram mantê-los. Da mesma forma, a manutenção de um ciclo permite uma maior troca de intenções e também de informações.
Mas e as Relações?
Eu comecei falando de relações porque relações precisam de comunicação pra funcionar. Talvez as relações românticas ou sexuais entre as pessoas fosse mais fácil se houvesse esse papo reto sobre os interesses nos corpos, porque há um tabu em lidar com essas temáticas. As obras artísticas muitas vezes tratam o sexo como objetivo, o que não é um problema. Você pode ter o objetivo de fazer sexo com alguém, mas para se contar uma história mais envolvente e mais interessante gera-se toda uma narrativa - muitas vezes pautada por monogamia - de luta e batalha para se atingir aquele objetivo. Qual é a graça em uma história onde ume protagonista chega pra outre e diz: "Bora transar?" e elus simplesmente transam? Se não há uma jornada de ume personagem que precisa derrotar 1000 porings pra provar sua devoção e toda a sua vontade de transar, com aquela pessoa, a história talvez não seja tão interessante porque não há desafio. Naturalmente a gente pode se questionar até que ponto o desafio proposto para ume protagonista de fato é importante para uma história e por que conseguir sexo com uma simples pergunta não pode ser tão interessante do ponto de vista de construção da história.
No final das contas, as relações que acontecem na vida material são muito diferentes daquilo que acontece nos livros, filmes e jogos. Casais não são formados unicamente em nome do amor, mas muitas vezes pra poder incluir e conjuge e filhes dentro do plano de saúde. A vida a dois, dificilmente é regada a sexo porque tem muito mais coisa acontecendo pra manter a casa em pé. Da mesma forma as pessoas que escolhem uma vida solitária, querem apenas um momento volátil porque não se trata de construir uma relação de vida contínua e sim um instante de prazer consensual. Agora perceba que a pessoa que deseja sexo tem uma perspectiva diferente daquela que constrói um relacionamento, e isso não quer dizer que a pessoa que um não busque o outro, mas é perceptível que o primeiro busca responsabilidades, e o segundo busca ausência delas.
Quem busca o sexo como o objetivo está fugindo da responsabilização, que é o oposto do romantismo pregado pela mídia e daquilo que pessoas que buscam uma vida a dois querem. A vida real conflita diretamente com o romance proposto pela maior parte das obras artísticas. Perceba então que em termos de comunicação, pessoas que querem sexo deveriam comunicar o objetivo e a falta de responsabilização em suas mensagens, só que por causa da mídia, isso se mistura com a comunicação romântica e as pessoas passam a esperar esse tipo de comunicação de quem busca sexo. Se coloca necessário impôr uma série de desafios e provações para que aquela pessoa obtenha seu objetivo. A comunicação manipulativa e objetiva se perde pois ela tem que se disfarçar de comunicação relacional, em outras palavras, confunde-se romance com ficada.
Existe razões para que a sociedade queira essa confusão? Talvez, mas não faz parte desse texto. eu já falei demais e daqui a pouco vem o 0 na redação.
Imagens:
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