Eu tenho enrolado um tempo pra escrever isso, mas a verdade é que eu to cansado de guardar isso pra mim. A verdade é que a gente ainda tem que andar muito pra que a nossa educação seja de fato libertadora - eu não me excluo disso - e a gente tem que andar juntos. A forma com a qual a nossa sociedade está estruturada, pra mim, é horrível. Como isso é apenas um texto de um doidinho da internet, então muito provavelmente não reflete a realidade geral, e, naturalmente, reflete apenas a minha perspectiva sobre como as coisas estão postas, e essa perspectiva me diz que estamos destruindo as futuras gerações e que precisamos mudar a forma com a qual a sociedade está organizada.
Vamos começar a destruição das futuras gerações? Porque é exatamente aqui é onde começam as questões de poder e posse. Na educação de crianças - e eu não quero usar muito o termo crianças, porque são apenas seres humaninhes que estão tentando aprender como o mundo funciona. - que desde cedo estão incluídas em relações de poder para com as pessoas mais velhas e/ou mais fortes que elas. Como diria o Tio Ben: "Com grandes poderes vem grandes responsabilidades", e de fato educar ume ser humaninhe é muito difícil, pelo menos se você tenta tirar a estrutura de poder, e aí começa o problema.
O meu primeiro problema é dizer que é possível educar com poder, e talvez seja possível ensinar uma coisa ou outra, mas isso também ensina outra coisa. Ensina que quem tem poder manda, e que a forma de se vencer na vida é tendo poder sobre os outros. Eu não posso dizer que é o desejo de toda a criança, mas eu posso dizer que foi o de uma e é o de uma segunda, ser adulta pra poder se libertar das estruturas de poder que tentam dizer o que ela tem que fazer, como, quando, e onde. Sem porquês. Não é necessário explicar motivos. Não é necessário explicar coisas que talvez sejam complexas como sociabilidade, e sim que não envergonhem sues responsáveis (pq as vezes não dá pra identificar como mãe, pai ou outra coisa). A verdade é que, para e educadore, (ab)usar da estutura de poder é fácil e traz ordem ao caos com facilidade, dando o controle na mão de quem está no alto da estrutura. Educar sem poder é trabalhoso, toma tempo, requer explicações de novo e de novo e de novo, e as vezes junto com experiências pessoas que talvez não gostaríamos que e outre ser humaninhe passasse, mas que vão acontecer. Se é trabalhoso e toma tempo, então a gente tem outro problema. Nossa sociedade não tem mais tempo.
Quanto menos tempo a gente tem, mais a gente usa da estrutura de poder porque qualquer atividade que seja minimamente educativa para um ser humaninho passa a tomar 3x mais tempo, pelo menos. Cozinhar? Tem que esperar porque o ser humaninho tem que cortar com o máximo de paciência o possível pra não se ferir, e a grande chance é que em algum momento vai, e é muito mais fácil (ab)usar da estrutura de poder pra evitar que a criatura se corte, do que deixar que ela faça a atividade correndo os riscos que você também naturalmente correria. Também economiza tempo pro almoço ficar pronto logo porque não dá pra esperar os 20 minutos que a criança vai levar pra cortar uma batata.
Educar ume ser humaninhe pra que elu desenvolva as habilidades que precisa desenvolver, sejam básicas ou não, leva tempo. Leva muito tempo. (Ab)Usar da estrutura de poder, permite que você recupere parte desse tempo, mas o custo, se você não entendeu com os dois parágrafos acima, é a educação de es seres humaninhes. Só que pra (ab)usar da estrutura de poder, você precisa de mais uma coisa. Estabelecer relações de posse. Ensinar que tal coisa é minha e tal coisa é sua ao invés de ensinar que precisamos usar as coisas a nossa volta com responsabilidade porque outras pessoas podem querer usá-las também. Ensinar conceitos de posse torna tudo mais fácil porque se o nosso objetivo é preservar patrimônio, até mesmo para se preservar o poder, se usa o conceito de posse para reduzir o risco de ume ser humaninhe acidentalmente quebrar alguma coisa bem como permite reinvindicar poderes concedidos para si. Fato é, isso vai falhar em algum momento, porque e ser humaninhe vai rapidamente perceber que, se você não estiver vendo, você não tem como saber que elu está violando seu poder, e elu vai, porque no final das contas elu está tentando se libertar da opressão, e essa é apenas uma ferramenta de luta.
Naturalmente, pra ampliar seu poder elu vai querer o que? Posses. Elu vai querer ter coisas delu porque se são delu então você perde poder sobre aquelas coisas. Na verdade toda a educação a nossa volta diz que pra que sejamos alguém na vida, e para que possamos ter poder nós precisamos de posse. Só que, na moral, isso é falso. Se somos aquilo que fazemos, não somos aquilo que possuímos, então o que a gente tem não importa tão diretamente para o nosso sucesso - que é uma coisa extremamente pessoal - mas influencia porque quanto mais ferramentas a gente tem a nossa disposição, mais coisas diferentes a gente pode fazer.
Ou seja, a nossa sociedade gira em torno de posse e poder, e vai continuar girando dessa forma enquanto continuarmos educando es seres humaninhes nesses termos. Só que isso tem um problema adicional. É muito mais fácil adicionar posses se você já possui posses, e bem mais difícil se você não tem nenhuma porque, como eu falei antes, quanto mais posses, mas coisas diferentes a gente pode fazer, e além disso, nessa sociedade atual se enxerga mais posse como mais poder.
Então, tal qual Bom xi Bom xi Bom Bom Bom. O de cima sobre e o de baixo desce. Quem tem muito poder vai acumular mais, quem tem pouco, vai perder. Sabe por que? Porque a posse é limitada a aquilo que existe. O mundo é finito, e se, no momento, pra ter poder se precisa de posse, e as pessoas, em geral vão querer mais poder porque a educação que é dada é em busca de poder, ou, nessa sociedade, em busca de posses, e pra possuir mais é necessário tirar de outra pessoa ou outra sociedade.
Logo a nossa sociedade está criando criaturas cujo objetivo é ter mais e mais poder de forma extremamente predatória. Tudo passa a ser sobre poder e subjugação da outra parte. Passa a ser sobre a pessoa mais habilidosa no jogo, ou que tem os melhores itens. Passa a ser sobre quem é ative e passive numa relação sexual sob uma perspectiva de que e ative tem posse sobre e passive, e sobre quem consegue ter mais parceiros sem que a outra pessoa possa sequer ter a oportunidade de se relacionar minimamente com outras pessoas. Eu fui criado sob essa égide. Meu irmão foi, meu primo foi, minha esposa foi, e minha filha também está sendo, apesar de eu estar tentando não amarrar nela esses grilhões, acho difícil que eu consiga isso, mas espero pelo menos que as amarras dela sejam mais frouxas.
E honestamente eu não quero viver, nem quero que minha filha viva numa sociedade onde as pessoas se matam para explorarem umas as outras para acumular poderes e posses. Não sei ainda como eu vou lutar contra isso, mas eu certamente vou. Me recuso a deixar que nós sejamos menos humanos sem lutar por nossa humanidade.
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