Eram 23:37. Chovia pesado. Amit reuniu um grupo e eles finalmente iniciaram o seu plano de tomada da casa do governador. Acompahando o noticiário, era possível ver que ele gerava violência para poder vender segurança pública. Algo comum de todos eles. Covardes que se agarram ao poder e depois se utilizam de toda e qualquer tática suja para lá se manter. Não basta apenas fornecer pão e circo a comunidade, mas é preciso também manter o controle. É difícil de dizer qual é a extensão da violência que de fato é praticada por pessoas mal intencionadas e qual é praticada a mando de um poder apenas para exercer controle e opressão, mas é fato, investigado até por Comissões Parlamentares de Inquérito. Acontece que para que qualquer providência seja tomada, ainda depende do ministério público.
Não dá pra esperar a boa vontade dos funcionários em exercer o poder em suas mãos. Já não era a primeira vez que isso acontecia, e certamente não seria a última se nada fosse feito. As camadas mais baixas da sociedade clamam por respostas apenas para serem sufocadas em seguida por policiais e pela mídia que tenta pintar que existe uma realidade perfeita, mesmo quando essa violência toca as pessoas da classe média. Amit estava disposte a ser essa resposta. 20 anos, sofreu bastante por não saber exatamente onde se encaixar em seu papel de gênero, porém certamente em uma medida diferente de sues amigues negres, algumes dos quais nem estão vives para poder contar sua própria história.
O pau de Amit talvez fosse uma expressão de masculinidade que contrastava com a maquiagem bem feita e o cabelo alisado. Roupas discretas, desenhando e tentando vender os desenhos, porque nunca foi incentivade a expressão corporal, mas geralmente vendendo o corpo no final das contas. Talvez a falta de evidência fosse sua maior aliada nisso, porque não era uma figura pública tentando agir contra o poder. Elu e seu grupo de proscrites armades com paus, pedras, canos, e o que mais fosse capaz de se arrumar nos becos e nos guetos, estavam prontes para atacar.
E todes se perguntam: "É isso mesmo que temos que fazer? Bater em quem tem nos batido esse tempo todo? Esse é o tipo de reação e exemplo que a gente quer dar para es outres? A mídia vai pintar a gente como um bando de criaturas deliquentes e que merecemos apanhar mesmo por nossas transgressões. É isso mesmo que a gente quer pra gente e nosses semelhantes?"
Eis que Amit responde para si e começa a discursas para seu grupo antes do ataque:
- Escutem. Eu sei que vocês estão preocupades com a violência que vai se dar a seguir. A gente sabe o que a mídia vai fazer, a gente sabe o que a polícia vai fazer... - Elu faz uma pausa dramática - ...mas foda-se! É o que elus sempre tem feito e é o que vão continuar fazendo MESMO - elu frisou - mesmo sendo ume entre nós. Se vão nos pintar como filhes da puta, como se ser puta fosse algum demérito para as mulheres que estão apenas tentando sobreviver, então essa noite seremos esses filhes da puta, e se a sociedade não vai escutar nossas vozes, então vão sentir a nossa ira! Se a única coisa que o poder é capaz de escutar é a quantidade de prejuízo que podemos causar, essa noite o barulho vai ser ensurdecedor!
Não há gritos de "hurra!" há apenas um silêncio, e uma mesura de consentimento de olhares flamejantes e determinados. A casa do governador é pública, e super bem guardada com cerca eletrificada, segurança e os escambau. O ataque começa e os primeiros seguranças da linha de frente são derrubades. Elus não tem como entrar, e ainda tiveram a chance de pedir reforços. - "O que fazer agora, Amit?" - perguntou uma das pessoas do esquadrão.
- Vamos derrubar a porta
- Mas e o patrimônio histórico?
- Que me perdoe a preservação da história, mas essa vai pra abater a dívida que essus exploradores filhes da puta tem com toda a sociedade.
Um consentimento com a cabeça, Elus pegaram os objetos mais pesados que conseguiram e bateram na porta até forçar. Amit entra primeiro com mais um grupo de 15 pessoas. Outras 30 ficam pra trás porque a polícia chegou e elus precisam bloquear a entrada. Elus sabem que a polícia não vai poder quebrar as janelas porque a residência é tombada.
Ou será que vai?
Haviam só mais dois seguranças do lado de dentro do palácio. Elus atiraram a princípio tentando tentando não ferir ninguém mortalmente, mas conforme a horda se aproximava, a violência por parte deles também crescia. Amit tomou um tiro na perna e por causa disso ficou fortemente debilitade, mas continuava caminhando junto com a horda até seu objetivo final. Pouco antes do quarto onde o governador estava acuado com sua família, duas pessoas entram quebrando as janelas. Ao se notar as armas, a horda que já havia perdido dois membros, rapidamente atacou e subjugou as ameaças, que revidaram e causaram mais três baixas.
O noticiário já estava em polvorosa. Noticiando tudo, da forma mais subliminar o possível, desde as 23:45. A Ação era bastante fulminante e assim precisava ser. Se não fosse, a chance de falha beirava a totalidade. Amit sabia que a mídia viria quando soubessem que não havia mais chance para o governador. Quatro pessoas invadem o quarto onde ficam o governador e a esposa. Seus filhes foram enviades para longe para evitar que se machucassem no turbilhão vindouro.
Elus atacaram o governador que atirou para matar e conseguiu abater mais um membro da horda, porém elu e a esposa foram subjugades e agora eram feitos de refém, expostos na janela do palácio junto com Amit, para que toda a mídia pudesse ver. A mídia noticiava para a população algo do tipo:
"Agora estamos ao vivo onde um grupo de delinquentes fez o governador de refém. Um grupo criminoso muito organizado, estão bloqueando a entrada da polícia, resistindo fortemente a prisão e serão indiciados por formação de quadrilha. A polícia utilizou de truculência para remover essas pessoas que estão sendo presas. Até agora 40 pessoas foram levadas para a delegacia sob custódia. Até agora 37 pessoas foram feridas e 13 foram mortas."
A polícia não gostava da mídia porque quando ela chegou a violência policial teve que parar. E isso era perfeito para Amit e seu grupo que agora podiam falar para a população inteira enquanto faziam uma live na plataforma de stream que foi rapidamente derrubada. Tudo bem, a TV estava noticiando tudo mesmo, e elus estavam gravando com o celular conforme Amit expunha o governador junto com seu próprio rosto quase que perfeitamente maquiado. Elu estava agora da janela da residência conversando com a delegada que estava do lado de fora.
- Eu quero conversar. Quero entender. Quero te ajudar.
- Que legal, mas como eu deveria me referir a você?
- Como assim?
- Seu gênero
- Eu sou a Delegada Ana Barbosa Carvalho Damasceno. Você é?
- Amit, Amit Toreadore. Meu gênero é fluido. Pode utilizar linguajar neutro, por favor?
- Tudo bem. Amit. Eu vou tentar, mas eu posso falhar porque não estou acostumada.
- É gentileza o suficiente só tentar. Obrigade.
- De nada. O que você quer com o governador?
- Eu e mues companheires estamos cansades de apanhar de vocês e de outras partes da sociedade que nos desprezam. Não apenas por nossa condição social, mas também por não querem nos incluir na sociedade. Estamos cansades de responder pacificamente para jamais sermos ouvides. E essa é uma de nossas respostas violentas. Não sei se é a primeira, mas enquanto nos reprimirem, certamente não será a última.
- E por que o governador? - A delegada não parecia seguir um protocolo de negociação específico. As perguntas eram quase como de quem talvez quisesse ter feito isso há algum tempo.
- Porque é mais fácil tomar o poder executivo inteiro. O legislativo possui muites deputades e torna tudo muito difícil.
- A gente não quer te machucar. A gente só quer que você solte o governador.
- O poder executivo agora é nosso! Todes que querem um melhor amanhã, que se juntem a nós!
- Eles querem instalar o comunismo! - Gritou o governador.
- Quieto! - Amit socou o governador bem na cara. Pelo menos, aqui nesse estado, a violência sobre nós, marginalizades, vai acabar hoje!
- E você vai fazer isso socando o governador, Amit? - Inquiriu a delegada
- Se necessário for.
- E quem for contra seu movimento? - Essa pergunta desarmou Amit.
- Quem for contra... ?
- É.
- Quem for contra... Pode discordar... mas aqui eu deixo o meu recado. Se nos violentarem, nós...
Antes que Amit pudesse terminar, disparos certeitos feito por atiradories de elite, acertam Amit e sues companheires. O tiro é fatal e as ameaças são neutralizadas.
...
Se instaura um medo generalizado das pessoas marginalizadas no dia seguinte. Movimentos de luto por aquelus que morreram. Amit entra para os jornais como um criminoso - nem seu gênero fluido foi respeitado - mas entra para a periferia como ume mártir, um símbolo de que essas pessoas marginalizadas vão resistir, e que a violência contra elas tem de reduzir, nem que seja na base da violência. Há quem diga, que o movimento foi uma falha, mas há também quem diga que, no final das contas, Amit saiu triunfante, mesmo que não tenha sido capaz de tomar a Bastilha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário