João concedeu passagem para Flambarda, indicou para ela se sentar em uma cadeira enquanto ele ia buscar um copo d'água. Ela já cometera um desacato hoje e certamente seria capaz de cometer um segundo, mas, apesar da forma estranha com a qual o policial a abordara, ela sentiu uma certa serenidade, talvez porque não viu suas energias agitadas como a do outro agente de segurança, ou talvez fosse só impressão. O que quer que fosse, ele já havia voltado, servido um copo d'água para ambos, e ela precisava parar de pensar nisso.
- Então, me conta aí o que que aconteceu. - Ele disse, pegando um bloco e uma caneta para anotar.
- Bom... - Ela estava meio sem jeito. - ...Acontece que... ...Eu achei que eu estava sendo estalkeada, mas aí... Vapt! Eu fui lá e descobri quem era! Ele tentou correr mais eu o impedi e joguei ele no chão e aí o celular dele voou, e eu voei em cima dele pra ele não pegar o celular e aí o guardinha do metrô chamou a gente e liberou o stalker.
- Ok. Acho que já sei o que está acontecendo.
- Como assim!?
- Você deveria tentar usar mais o cabelo solto. - Disse ele, mostrando um mini retrato desenhado mal feito dela.
- Ah! Tá de sacanagem! Porra! Eu achando que você tava falando coisa séria! - Ela disse, se levantando.
- Espera! Espera! Foi mal. Desculpa a brincadeira, na verdade eu quero te ajudar a achar o celular. Você lembra alguma coisa?
- Ah, eu só lembro da cara do stalker. - Ela se virou e então sussurrou. - Japa filho da puta. - E se virou novamente para o policial.
- Nada mesmo? Roupa, altura, a energia que ele emanava...
- Que!?
Flambarda ficou atônita por alguns instantes. Essa perguntava estava muito estranha. Que tipo de policial pergunta a uma mulher qual era o tipo de energia que uma pessoa emanava? Isso era alguma pegadinha ou algum tipo de teste? Enquanto ela pensava, João repetiu a pergunta.
- É, qualquer característica. Até aquelas que a maioria das pessoas não pode ver.
- Não, eu não vi o pau dele, João. - Flambarda ficou puta novamente.
- Não, porra! To falando do tipo de elemento mais comum no corpo dele!
- Pera. Você é um... - Ela disse fazendo um gesto com as mãos como quem pede para que o outro lado complete a frase.
- Druida.
- Tá de sacanagem... - E em seguida fez um gesto de quem já imaginava que isso ia vir.
- Não tô! E eu sei que você é uma druida também. Eu já te vi antes e você já foi comentada na comunidade druida. Acho que você é particularmente famosa até.
- Que porra é essa?
- Olha, eu posso te explicar mais tarde, mas primeiro eu preciso que você se lembre de algo do incidente.
- Tá... pera... - Flambarda se concentrou e lembrou de um rastro de fogo passando por trás dela quando ela imprensou o Japa. - Era fogo! Sim!
- Ótimo! Então ele tinha 1,80m...
- Opa, pera, eu não falei nada disso.
- Eu preciso colocar alguma coisa pra iniciar a investigação.
- Uai, mas eu não falei... - Ele deu mais uma olhada pra ela. - Aaaaahn sim, um metro e oitenta, devia ter uns 70 quilos, e era muito feio.
- Muito feio. Ok! O outro cara não prestou queixa então você pode voltar pra casa. Nós vamos averiguar esse incidente com mais acurácia. - Ele disse enquanto se levantava e liberava passagem para ela.
- Ah, muito obrigado, João! - Flambarda fez uma mesura exagerada.
- Por nada, Super-Heroína.
Um leve rubor tomou conta das bochechas da detetive, mas agora não era hora pra isso. Ela olhou no celular e viu que já não havia mais jeito de fazer a prova e pensou dentro de si um retumbante "Então foda-se." e foi malhar. Provavelmente se ela socasse o saco de areia o suficiente a raiva dela do mundo ia passar e ela ia poder conviver com essa confusão toda que tá acontecendo na vida dela no dia seguinte. Era só uma hipótese mas ela certamente queria testá-la.
A academia parecia uma academia normal de segunda feira a tarde. Não tinha quase ninguém, só os marombeiros profissionais e as modelos de instagram utilizando shorts e tops minúsculos que mais pareciam tarjas de censura patrocinadas. Lá estava o Paulo na recepção, já recepcionando Flambarda da melhor maneira possível.
- E aí Flam! Como é que tá? Agora vai?
- Ah, nem fala, Paulo. Eu tô na pior. - Ela disse, se debruçando sobre o balcão.
- Puxa. Que que tá pegando?
- Ah cara, desde que eu achei essa merda dessa luva - ela dizia mostrando a luva. - a minha vida virou um inferno! aurgh! - E em seguida mandou um rosnado.
- Eita, a coisa ta preta mesmo.
- Tá... Eu perdi uma prova da faculdade, coisas estranhas acontecem em lugar nenhum, vulgo Tijuca, e nada da certo, cara!
- Puta, que merda, hein.
- E agora eu vou socar um saco de areia pra ver se eu esqueço que eu existo. - Disse ela, pegando o crachá da mochila e entrando.
- Duvido você arrebentar o saco! - Ele chamou a atenção dela, que parou e virou só a cabeça pra falar com ele.
- Ah, para, você sabe que eu não tenho essa força.
- Na moral mesmo! Se você arrebentar eu faço quase qualquer coisa!
- Esse quase é que mata. - Ela fez um gesto com as mãos.
- Se eu tiver dinheiro e não estiver cometendo nenhum crime, eu faço! - Ele disse batendo no balcão. - Mas eu quero ver você metendo bala. - Na verdade ele pretendia fazê-lo mesmo se ela não o arrebentasse, mas queria retirar alguma empolgação dela.
- Tá, eu vou tentar, mas não prometo nada.
- Eu vou ficar olhando daqui.
A princípio Flambarda estava completamente desacreditada. Se arrebentasse o saco de areia podia pedir favores sexuais ao Paulo, porém isso estava fora de cogitação porque, na cabeça dela, isso nunca iria acontecer. Onde já se viu uma jovem, sedentária, desregrada, indisciplinada, com fome, derrubar um saco de areia? Nem roupa ela tinha, ia ter que socar o negócio de calça jeans. Ainda bem que ela não estava planejando chutar o saco porque senão ia ser uma tragédia.
Mas ela tentou entrar um pouco no clima. Reajeitou o rabo de cavalo, tirou os tênis, pôs as luvas e começou a socar o objeto. Ela não tinha base nenhuma, não sabia socar direito, mas ela ainda assim o atacava e o movia muito pouco, até que o próprio Paulo foi lá dar uma ajuda pra ela.
- Parece que você não faz muito isso, né? - Ele disse se aproximando.
- Que!? - Flambarda estava arfando já. Mal conseguia olhar para Paulo.
- Cara, seu soco tá muito errado.
- Novidade né?
- Vamo aprender a socar certo?
- Se você for me ensinar... - Ela jogou um verde.
- A primeira coisa pra você socar bem é você ter uma base.
- Hã...
- Olha só. Levanta os braços na altura da cabeça, protegendo o rosto, assim. - Ele fez a base usual que se usa no boxe.
- Assim? - Ela fez, meio troxa mas fez.
- Por aí. - Ele relevou. - Em geral a mão mais precisa fica um pouco pra trás. No meu caso a direita. E a esquerda nós usamos para golpes mais curtos e rápidos com menos força.
- Você quer dizer um jab?
- Isso aí! Então você em geral vai começar com a esquerda e terminar com a direita. O famoso um, dois. - Ele disse fazendo o movimento no saco de areia.
- Tá. - Ela desferiu dois socos muito frouxos. - Assim?
- Não! Não! Olha! Você não está entrando no clima. Você tem que deixar aquela adrenalina da luta entrar no seu sangue.
- Que porra é essa, Paulo?
- Olha só, veja que quando eu faço a base. - Ele fez de novo. - Eu não fico parado igual um robô. - Realmente ele tinha muito mais ginga. - Tem que ficar em movimento, com pulinhos, acertando com vontade, se movimentando ao redor, mexendo os braços. Tudo isso!
- Hmmmm... Não tá dando certo...
- Você gosta de jogos não gosta?
- Sim!
- Então tem um... Como é o nome mesmo? Tinha um cara que fazia capoeira....
- Tekken.
- Ah! Deve ser esse aí. Então, pensa naqueles caras.
- Tem uns que nem se mexem direito.
- Mas tem uns que se mexem bastante não tem!?
- Ah... sim...
- Não tem nenhum boxeador!?
- Ah sim! tem o Steve! Ele realmente está sempre gingando. - Ela imitou o gingando do personagem.
- Isso! Mais ou menos por aí! Lembra dos golpes dele?
- Mais ou menos...
- Olha, esses caras pegam muita coisa do que se usa no mundo real. É claro que lá é muito cheio de firula, mas dá pra aproveitar alguma coisa.
- Tá, então se eu gingar assim e se eu socar - Ela desferiu o um, dois, bem melhor do que outrora. - assim, tá bom?
- Tá no caminho certo! Agora desce a lenha nessa porra aí!
Ela passou a olhar o saco de areia de um modo completamente diferente. Parecia que o Paulo havia usado as palavras certas, porque ela ficou cheia de vontade de socar o negócio, só aplicando um pouco mais de movimento nas pernas e nos braços. Realmente funcionava e de repente toda aquela baboseira dos personagens de jogo gingando na luta parecia fazer algum sentido. Conforme ela lembrava do jogo, ela fazia alguns movimentos diferentes que estavam completamente fora da realidade do boxe, mas só pelo fato dela socar com mais vontade, Paulo parecia bem mais satisfeito.
Mas isso não parecia ser o suficiente para ela. Quanto mais ela socava, mais ela lembrava de como a vida mais descia ao inferno a cada dia que se passava. A raiva foi acumulando, e consequentemente, a energia interna dela também ia se inflamando, fazendo os seus golpes cada vez mais efetivos contra o objeto que balançava cada vez mais. Até que ela juntou toda a sua raiva e frustração e transformou em energia a qual foi canalizada num só soco, que foi tão forte que arrebentou as correntes que prendiam o saco de areia no mais puro estilo Capitão América. O barulho foi tão alto que todos os olhares da academia se voltaram pra ela.
- Tão olhando o que!? - Ela respondeu rispidamente. E todos voltaram pras suas atividades com um certo receio.
- Então, me conta aí o que que aconteceu. - Ele disse, pegando um bloco e uma caneta para anotar.
- Bom... - Ela estava meio sem jeito. - ...Acontece que... ...Eu achei que eu estava sendo estalkeada, mas aí... Vapt! Eu fui lá e descobri quem era! Ele tentou correr mais eu o impedi e joguei ele no chão e aí o celular dele voou, e eu voei em cima dele pra ele não pegar o celular e aí o guardinha do metrô chamou a gente e liberou o stalker.
- Ok. Acho que já sei o que está acontecendo.
- Como assim!?
- Você deveria tentar usar mais o cabelo solto. - Disse ele, mostrando um mini retrato desenhado mal feito dela.
- Ah! Tá de sacanagem! Porra! Eu achando que você tava falando coisa séria! - Ela disse, se levantando.
- Espera! Espera! Foi mal. Desculpa a brincadeira, na verdade eu quero te ajudar a achar o celular. Você lembra alguma coisa?
- Ah, eu só lembro da cara do stalker. - Ela se virou e então sussurrou. - Japa filho da puta. - E se virou novamente para o policial.
- Nada mesmo? Roupa, altura, a energia que ele emanava...
- Que!?
Flambarda ficou atônita por alguns instantes. Essa perguntava estava muito estranha. Que tipo de policial pergunta a uma mulher qual era o tipo de energia que uma pessoa emanava? Isso era alguma pegadinha ou algum tipo de teste? Enquanto ela pensava, João repetiu a pergunta.
- É, qualquer característica. Até aquelas que a maioria das pessoas não pode ver.
- Não, eu não vi o pau dele, João. - Flambarda ficou puta novamente.
- Não, porra! To falando do tipo de elemento mais comum no corpo dele!
- Pera. Você é um... - Ela disse fazendo um gesto com as mãos como quem pede para que o outro lado complete a frase.
- Druida.
- Tá de sacanagem... - E em seguida fez um gesto de quem já imaginava que isso ia vir.
- Não tô! E eu sei que você é uma druida também. Eu já te vi antes e você já foi comentada na comunidade druida. Acho que você é particularmente famosa até.
- Que porra é essa?
- Olha, eu posso te explicar mais tarde, mas primeiro eu preciso que você se lembre de algo do incidente.
- Tá... pera... - Flambarda se concentrou e lembrou de um rastro de fogo passando por trás dela quando ela imprensou o Japa. - Era fogo! Sim!
- Ótimo! Então ele tinha 1,80m...
- Opa, pera, eu não falei nada disso.
- Eu preciso colocar alguma coisa pra iniciar a investigação.
- Uai, mas eu não falei... - Ele deu mais uma olhada pra ela. - Aaaaahn sim, um metro e oitenta, devia ter uns 70 quilos, e era muito feio.
- Muito feio. Ok! O outro cara não prestou queixa então você pode voltar pra casa. Nós vamos averiguar esse incidente com mais acurácia. - Ele disse enquanto se levantava e liberava passagem para ela.
- Ah, muito obrigado, João! - Flambarda fez uma mesura exagerada.
- Por nada, Super-Heroína.
Um leve rubor tomou conta das bochechas da detetive, mas agora não era hora pra isso. Ela olhou no celular e viu que já não havia mais jeito de fazer a prova e pensou dentro de si um retumbante "Então foda-se." e foi malhar. Provavelmente se ela socasse o saco de areia o suficiente a raiva dela do mundo ia passar e ela ia poder conviver com essa confusão toda que tá acontecendo na vida dela no dia seguinte. Era só uma hipótese mas ela certamente queria testá-la.
A academia parecia uma academia normal de segunda feira a tarde. Não tinha quase ninguém, só os marombeiros profissionais e as modelos de instagram utilizando shorts e tops minúsculos que mais pareciam tarjas de censura patrocinadas. Lá estava o Paulo na recepção, já recepcionando Flambarda da melhor maneira possível.
- E aí Flam! Como é que tá? Agora vai?
- Ah, nem fala, Paulo. Eu tô na pior. - Ela disse, se debruçando sobre o balcão.
- Puxa. Que que tá pegando?
- Ah cara, desde que eu achei essa merda dessa luva - ela dizia mostrando a luva. - a minha vida virou um inferno! aurgh! - E em seguida mandou um rosnado.
- Eita, a coisa ta preta mesmo.
- Tá... Eu perdi uma prova da faculdade, coisas estranhas acontecem em lugar nenhum, vulgo Tijuca, e nada da certo, cara!
- Puta, que merda, hein.
- E agora eu vou socar um saco de areia pra ver se eu esqueço que eu existo. - Disse ela, pegando o crachá da mochila e entrando.
- Duvido você arrebentar o saco! - Ele chamou a atenção dela, que parou e virou só a cabeça pra falar com ele.
- Ah, para, você sabe que eu não tenho essa força.
- Na moral mesmo! Se você arrebentar eu faço quase qualquer coisa!
- Esse quase é que mata. - Ela fez um gesto com as mãos.
- Se eu tiver dinheiro e não estiver cometendo nenhum crime, eu faço! - Ele disse batendo no balcão. - Mas eu quero ver você metendo bala. - Na verdade ele pretendia fazê-lo mesmo se ela não o arrebentasse, mas queria retirar alguma empolgação dela.
- Tá, eu vou tentar, mas não prometo nada.
- Eu vou ficar olhando daqui.
A princípio Flambarda estava completamente desacreditada. Se arrebentasse o saco de areia podia pedir favores sexuais ao Paulo, porém isso estava fora de cogitação porque, na cabeça dela, isso nunca iria acontecer. Onde já se viu uma jovem, sedentária, desregrada, indisciplinada, com fome, derrubar um saco de areia? Nem roupa ela tinha, ia ter que socar o negócio de calça jeans. Ainda bem que ela não estava planejando chutar o saco porque senão ia ser uma tragédia.
Mas ela tentou entrar um pouco no clima. Reajeitou o rabo de cavalo, tirou os tênis, pôs as luvas e começou a socar o objeto. Ela não tinha base nenhuma, não sabia socar direito, mas ela ainda assim o atacava e o movia muito pouco, até que o próprio Paulo foi lá dar uma ajuda pra ela.
- Parece que você não faz muito isso, né? - Ele disse se aproximando.
- Que!? - Flambarda estava arfando já. Mal conseguia olhar para Paulo.
- Cara, seu soco tá muito errado.
- Novidade né?
- Vamo aprender a socar certo?
- Se você for me ensinar... - Ela jogou um verde.
- A primeira coisa pra você socar bem é você ter uma base.
- Hã...
- Olha só. Levanta os braços na altura da cabeça, protegendo o rosto, assim. - Ele fez a base usual que se usa no boxe.
- Assim? - Ela fez, meio troxa mas fez.
- Por aí. - Ele relevou. - Em geral a mão mais precisa fica um pouco pra trás. No meu caso a direita. E a esquerda nós usamos para golpes mais curtos e rápidos com menos força.
- Você quer dizer um jab?
- Isso aí! Então você em geral vai começar com a esquerda e terminar com a direita. O famoso um, dois. - Ele disse fazendo o movimento no saco de areia.
- Tá. - Ela desferiu dois socos muito frouxos. - Assim?
- Não! Não! Olha! Você não está entrando no clima. Você tem que deixar aquela adrenalina da luta entrar no seu sangue.
- Que porra é essa, Paulo?
- Olha só, veja que quando eu faço a base. - Ele fez de novo. - Eu não fico parado igual um robô. - Realmente ele tinha muito mais ginga. - Tem que ficar em movimento, com pulinhos, acertando com vontade, se movimentando ao redor, mexendo os braços. Tudo isso!
- Hmmmm... Não tá dando certo...
- Você gosta de jogos não gosta?
- Sim!
- Então tem um... Como é o nome mesmo? Tinha um cara que fazia capoeira....
- Tekken.
- Ah! Deve ser esse aí. Então, pensa naqueles caras.
- Tem uns que nem se mexem direito.
- Mas tem uns que se mexem bastante não tem!?
- Ah... sim...
- Não tem nenhum boxeador!?
- Ah sim! tem o Steve! Ele realmente está sempre gingando. - Ela imitou o gingando do personagem.
- Isso! Mais ou menos por aí! Lembra dos golpes dele?
- Mais ou menos...
- Olha, esses caras pegam muita coisa do que se usa no mundo real. É claro que lá é muito cheio de firula, mas dá pra aproveitar alguma coisa.
- Tá, então se eu gingar assim e se eu socar - Ela desferiu o um, dois, bem melhor do que outrora. - assim, tá bom?
- Tá no caminho certo! Agora desce a lenha nessa porra aí!
Ela passou a olhar o saco de areia de um modo completamente diferente. Parecia que o Paulo havia usado as palavras certas, porque ela ficou cheia de vontade de socar o negócio, só aplicando um pouco mais de movimento nas pernas e nos braços. Realmente funcionava e de repente toda aquela baboseira dos personagens de jogo gingando na luta parecia fazer algum sentido. Conforme ela lembrava do jogo, ela fazia alguns movimentos diferentes que estavam completamente fora da realidade do boxe, mas só pelo fato dela socar com mais vontade, Paulo parecia bem mais satisfeito.
Mas isso não parecia ser o suficiente para ela. Quanto mais ela socava, mais ela lembrava de como a vida mais descia ao inferno a cada dia que se passava. A raiva foi acumulando, e consequentemente, a energia interna dela também ia se inflamando, fazendo os seus golpes cada vez mais efetivos contra o objeto que balançava cada vez mais. Até que ela juntou toda a sua raiva e frustração e transformou em energia a qual foi canalizada num só soco, que foi tão forte que arrebentou as correntes que prendiam o saco de areia no mais puro estilo Capitão América. O barulho foi tão alto que todos os olhares da academia se voltaram pra ela.
- Tão olhando o que!? - Ela respondeu rispidamente. E todos voltaram pras suas atividades com um certo receio.
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