- Tá, madeira. Árvore é igual a madeira então faz sentido aqui ter tanta madeira - Disse a detetive.
- Não está errado mas isso é um pouco simples demais, não acha? - Respondeu Elimar conforme dirigia para a vila.
- Honestamente? Não, quero mais que continue simples.
- Alguém não estudou o Wu Xing.
- E eu tenho cara de quem tem tempo pra estudar isso?
- Acho que você assumiu o cargo de detetive muito cedo.
- Finalmente! Alguém nessa merda concorda que eu to no lugar errado!
- Flambarda! Olha a boca! - Jéssica reclamou.
- Mas ele acabou de falar que não era pra eu ser detetive!
- Bom... Não foi exatamente isso. - Elimar respondeu. - E chegamos.
Um conjunto relativamente grande de pessoas, carregavam sementes e mudas em direção e as levavam a algum canteiro onde prepararam a terra. As luzes verdes se espalhavam pelo meio, invadindo até mesmo Flambarda, Jéssica e Elimar. Observar o plantio das árvores gerava uma sensação diferente por si só. Uma sensação esperançosa do início do crescimento de algo. Eles seguiam o grupo de semeadores e foram ofertados para plantar uma árvore. A detetive aceitou, inspirada pela ação em conjunto.
Ela olhava em volta, haviam outras luzes, mas a predominância do verde era notória. Quase como se o local estivesse sobrecarregado. Isso disparou suas lembranças sobre o pouco que ela lembrava de filosofia chinesa.
- Então, essa coisa aí prega sobre equilíbrio, não é? - Perguntou Flambarda a Elimar conforme observavam o plantio
- Essencialmente sim. - Ele respondeu
- Tá, mas aqui só tem verde, digo, tem muito verde, isso quer dizer que tá desequilibrado, logo, ruim.
- Não necessariamente.
- Caralhos. Não faz sentido.
- É porque você está esquecendo da variável do tempo.
- O que que o cu tem a ver com as calças?
- Olha, é mais do que equilíbrio. A teoria do Wu Xing diz respeito ao ciclo da matéria.
- Hm.
- Se é um ciclo, a princípio não tem início, mas a literatura diz que o ciclo começa na Madeira.
- Ok, já começa com pau.
- Flambarda! - Jéssica ficava ruborizada. - Desculpa, professor, essa menina racha a minha cara de vergonha.
- Tudo bem, não é como se eu nunca tivesse ouvido coisas do tipo - Ele riu, e continuou. - Essa madeira é combustível para alimentar o fogo.
- Esse fogo que tem dentro de mim. - Flambarda provocou
- Isso! A queima da madeira gera pó, esse pó é a própria terra onde pisamos.
- Não faz sentido mas ok.
- Devido a pressão as partes mais baixas desse pó, que são rochas, se tornam metal.
- Tá ficando complicado.
- Então usa-se o metal para coletar a água.
- E aí a água vai pra madeira.
- Sim. Esse é o fechamento do ciclo. Note que esse ciclo tem ação humana. O metal não vai coletar a água sozinho. É algo mais como se fosse um ferramental. - E nesse momento eles já estavam voltando para o carro.
- Tá, é meio forçado, mas dá pra entender.
- Só que isso se expande para nós. Por exemplo, nossas vidas fluem em ciclos. Se tomarmos a madeira como início, seria a nossa infância onde estamos crescendo como as árvores.
- E aí a gente já pega fogo!? É fogo de adolescente?
- Por aí. Em seguida vamos para um crescimento ainda mais acelerado e caótico que poderia ser a adolescência. Esse crescimento aos poucos vai cair num apogeu que podemos chamar de ponto de equilíbrio. Esse apogeu é a Terra. É o ponto de transição do crescimento para o decaimento.
- Tá, os próximos passos do ciclo são metal e água. Que fazem a transição para a velhice e para a morte.
- Sim. Isso mesmo.
- Ainda tá desbalanceado. Não faz sentido.
- O que eu estou tentando te dizer, é que o desequilíbrio não é exatamente um problema. Até porque, esse desequilíbrio certamente será sentido em algum outro lugar que vai trazer o equilíbrio que você tanto busca.
- Isso faz muito sentido... - Disse Flambarda lembrando do movimento dos elementos durante alguns acontecimentos passados. - E também quer dizer que precisamos nos desequilibrar de vez em quando.
- É uma forma de se enxergar as coisas.
- É uma forma? Então não tá certo?
- Quando se fala de assuntos como esse, é difícil dizer exatamente o que está certo e o que não está porque as interpretações são muito diferentes, e o que explica uma coisa, geralmente não explica outra.
- Ou seja, se isso fosse um livro, provavelmente ia ter furos na trama.
- Definitivamente.
- Maravilha... Ou seja, nada foi explicado.
- Ou tudo foi explicado.
- Professor, olha, só me leva pro ponto. Acho que já escutei o suficiente.
Eles voltaram em silêncio dentro do carro. Flambarda olhava pela janela, vendo as fagulhas luminosas, mas parecia apenas uma menina pensativa aos olhos de expectadores comuns. As vezes ela fazia floreios com as mãos, movendo um fragmento de elemento para lá e para cá, de forma bastante instintiva, como se soubesse exatamente como fazer para movimentar energias. Até que o carro parou no estacionamento do shopping Nova América.
- Oi? Porque estamos no shopping? - Flambarda perguntou.
- Eu falei que iamos tomar um café, não falei? - Elimar respondeu
- Ah, agora cê tá falando minha língua.
O carro já estava estacionado, a jovem rapidamente desce do carro, seguida de sua mãe, e por fim o professor. Ela sabe que não vai conseguir deixar de ver essas luzes, mas pelo menos ela tinha o incrível poder de abstraí-las, especialmente em algumas situações sociais.
- E onde vai ser? - Ela perguntou de novo.
- Você quer escolher? - Ele respondeu
- Mãe, qual que você acha melhor?
- Eu? - Ela respondeu surpresa. - Eu não sei, pode ser o primeiro que a gente achar.
- Então o Starbucks? - Flambarda apontou.
- Serve.
Conforme paravam de conversar, a detetive passava a prestar um pouco mais atenção nas fagulhas que vão e vem. Sempre variando nas cinco cores: verde, vermelho, amarelo, branco e azul. Algumas pessoas pareciam mais desequilibradas que outras, e disso ela fazia suas próprias notas mentais. Quase como se fosse capaz de induzir o Wu Xing através de suas próprias observações. Ela olha pra luva, e começa a pensar em como ela realmente funciona, mas é um raciocínio que vai ter que ficar para depois pois agora precisava prestar atenção no professor.
- Mas fiquei bastante feliz em saber que vocês vieram me ver. Soube que você se juntou aos arcanistas, Flambarda.
- Oi? - "Como ele sabe?" - Sim! Sem ressentimentos.
- Não tenho ressentimentos.
- Ótimo, nenhuma viadisse.
- Flambarda! - Jéssica repreendeu.
- Ah, mãe! Ele mesmo já falou!
- Isso não significa que você tem que falar merda por aí a torto e a direito.
- Falar merda é o que eu faço de melhor, mamãe.
- Um expresso, por favor. - Elimar pediu.
- Sei lá, capuccino? É. Capuccino tá bom. - Pediu Flambarda
- Pra mim é um café normal mesmo. - Jéssica também pediu.
- Então? - Elimar as chamou.
- Então... - Flambarda provocou.
- Acho que vocês tem bastante a estudar.
- Se o universo deixar.
- Como assim?
- Geralmente as coisas não dão certo quando eu tô por perto.
- Por que você diz isso?
- Experiência própria.
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